EDD ou Rabo de Foguete
O que conhecemos por estado democrático de direito pode ser entendido como uma deformação da vida pessoal, e por extensão da social, que sujeita o indivíduo a uma escravidão ditada pela repulsa à inação, através de uma ocupação perene de dois terços de sua vida.
O que pode ser deformado, para alguns, é esse tipo de raciocínio, na medida em que a luta pela sobrevivência é uma imposição a todos os viventes sob a deflagração das posturas consagradas no modo de vida ocidental. Precisamos ter dinheiro para pagar a conta de luz, ter um computador e estarmos digitando aqui, em silêncio, como se espera que seja produzida uma obra de arte ou não artística, para escrevermos o texto que ora produzimos.
Portanto, que nos perdoem os entendidos, mas “Assim falou Zaratustra” e Nietzsche merecem toda a importância que têm. Mas, ao que parece, sob o ponto de vista estritamente teórico. No que são imbatíveis, de fato. Arte, inação, ócio estão conjugados. A preguiça justifica o carro. O avião. Se não tivéssemos preguiça de ir de um lugar a outro, não teríamos inventado meios mais imediatos de nos locomovermos. Como também, de outro modo, “o mais difícil é ficar sem fazer nada”, conforme nos ensina o grande Oscar Wilde.
Mas, sim, e daí? Como o belo autor de “O Retrato de Dorian Gray” teria sustentado mulher e filhas, e depois o namorado, se não tivesse condições para isso?
Essas toscas considerações nos levam à conhecida máxima segundo a qual precisamos “dançar conforme a música”. Não devemos utilizar o idioma erudito no morro ou na favela, pelo menos em toda a extensão da fala, ou a comunicação será prejudicada.
A teoria levou o foguete ao espaço. Mas muitas vezes não explica como ele se perde ou explode.
Por outro lado, considerando ainda a necessidade de que obras de arte e ócio estejam tão próximos, podemos supor que as primeiras não estão sujeitas a produção em série ou linhas de montagem como os veículos automotores.
Maricá, 19/09/2015