DOIS GRINGOS

DOIS GRINGOS

Meu pai, embora não fosse da área, gostava de filosofar e reproduzir gnomas e frases de efeito, para iluminar certas circunstâncias da vida. Recordo, entre tantas, que o velho Galvão costumava citar, imitando o sotaque lusitano “quem não tem competência que não se estabeleça” ou, no mesmo sentido recomendava que “quem não aguentar o ovo não se meta a avestruz”. Vendo bem, esses ditados populares se adequam a muitas questões da vida humana bem perto de nós e que se impõem no auge de muitas crises.

Concretamente, me veio à mente a história de dois gringos, ou ítalo-brasileiros aqui do Rio Grande do Sul que se atiraram numa aventura cuja solução ainda está longe de apresentar um resultado ideal. Os dois abraçaram duas atividades que, pelo menos na abertura, ainda não deram certo.

Pois os dois cidadãos referidos fizeram uma força danada para atingir determinados estados, cada um do seu jeito, mesmo com a consciência dos problemas que iriam encontrar. O fato é que depois de atingirem seu desiderato, apareceram as queixas e as explicações para a ineficácia do modelo gestor. Eu não sei do que reclamam e choram, se sabiam antes da barra que iriam encontrar, dado à gestão temerária de seus antecessores, que encontraram os cofres raspados e conseguiram – se é que isto é possível – entregá-los mais raspados ainda.

No Evangelho de Lucas, Jesus adverte os administradores inexperientes perguntando: “qual o homem que se propondo a construir uma torre não senta primeiro para ver se tem condições de levar adiante seu projeto, para evitar que, não podendo completar a obra, vá servir de motivo de chacota para seus adversários...”

É isto que me deixa indignado: eles sabiam das proporções do buraco em que estavam se metendo, mas mesmo assim, em nome daquela vaidade que o poder confere, aquiesceram em concorrer aos cargos. O fato é que diante dos clamores de muitos, os dois começaram a se esconder atrás de evasivas e desculpas, como a falta de dinheiro, acordos fracassados, baixa adesão dos apoiadores, etc. Ainda há o risco de terem que se desfazer de alguns ativos para pagar as contas. Eles sabiam, ao concorrer o que iriam enfrentar, e agora se queixam como quem foi iludido pela promessa de alguma cigana. Repete-se a história do avestruz. Pois os dois cidadãos, como gestores, pelo menos na abertura de seus programas de administração se mostraram ineficazes, com desempenhos pífios, decepcionando torcedores e eleitores do Humaitá à Praça da Matriz. Como alertou o velho filósofo, “quem não tem competência não se estabeleça”.

O autor é Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral