QUEIMADAS, A EDUCAÇÃO E O FUTURO DE SUA JUVENTUDE
Queimadas há muito que perdeu as características de uma cidade pequena, de um lugar pacato e que conservava até então, certos hábitos e tradições. Isso é algo que vem ocorrendo gradativamente, uma evolução um tanto forçada e que fica acima de questões políticas ou partidárias. O fato é que os anos se passaram e um novo tempo e uma nova sociedade transformaram nossa antes pequenina e acanhada cidade em um lugar moderno e bastante promissor, com destaque principalmente, na força de seu comercio interno.
Localizado no agreste da Paraíba e com uma população de praticamente cinquenta mil habitantes, incluindo a zona urbana e rural, o município queimadense cresce agora em ritmo acelerado, embora venha perdendo consideravelmente no ponto de vista social. Um mal que não é isolado, muito pelo contrário, atingindo toda e qualquer cidade brasileira em via de desenvolvimento. Os assaltos constantes e a violência desmedida, ambos envolvendo jovens, são fatos que precisam ser analisados não somente como caso de polícia. É antes de tudo, um problema que sugere uma reavaliação séria do nosso sistema educacional. Entram nesse contexto a educação escolar e familiar.
Lembro-me, entretanto, nos idos da década de 1980, de se conviver numa Queimadas ainda com ares de cidade do interior e que se mantinha à margem desse processo de crescimento e da especulação imobiliária que assistimos hoje. Uma Queimadas de um povo acolhedor, servidor e onde ainda predominava certos princípios básicos e indispensáveis no convívio diário, como o respeito e a confiança mútua, a integridade da palavra dada e todo um conjunto de valores morais atualmente em desuso. Vivendo em circunstâncias completamente opostas, as pessoas de hoje parecem não se entender mais; desconfiam de tudo e de todos, não havendo mais uma consideração pelo próximo e em muitos casos, não se comovendo sequer pelo sofrimento alheio. De uma maneira geral e até radicalizando um pouco, por vezes não existe nem mais a certeza de que alguém possa estar falando a verdade hoje em dia, embora saibamos que ainda haja muitas exceções.
O que vemos hoje são resquícios de um tempo que não volta mais, uma sociedade cuja existência já não consegue, até por motivos óbvios, preservar os mesmos costumes de outrora. O individualismo, a ambição desenfreada pela conquista de bens materiais e mesmo o exibicionismo, sendo agora denominado de “ostentação”, acabam por colocar em xeque toda e qualquer chance de se ter uma vida simples, imperando assim, o egoísmo e a falta de perspectivas quanto a um futuro melhor. Aos inconformados, somente recorrendo à nostalgia e aos tempos áureos pra poder fugir um pouco dessa realidade irreversível.
Se começarmos a analisar alguns aspectos relacionados à questão da educação e do conhecimento, transmitidos de pai para filho nessas últimas décadas, veremos que muita coisa ficou pelo caminho. Percebe-se que nesses últimos anos a população, de maneira geral, só retrocedeu nesse sentido. Consequentemente, já não existe aquele respeito e aquela consideração que havia pelos mais velhos, onde um filho obedecia ao pai através de um simples gesto, um olhar. Hoje, por incrível que pareça, a cada dia surgem leis que só tiram dos pais a autoridade e a até a autonomia de se educar, não podendo mais sequer dar uma palmada ou um corretivo justo num filho desobediente.
As consequências disto estão todas aí, mas parece que ninguém quer enxergar. Sem educação em casa, dificilmente um adolescente vai se comportar numa escola, gerando um problema maior que poderia ter sido corrigido ainda na base. E não adianta tentar esconder ou maquiar o problema. Mais cedo ou mais tarde, as decorrências cairão como um raio na cabeça de pais e responsáveis, - sem falar nas inúmeras pessoas prejudicadas, vítimas desta juventude despreparada e vazia - chegando-se ao ponto de pensar numa redução da maioridade penal em nosso país.
Um adolescente sem aprendizado e sem qualquer estrutura familiar, não importando seu nível social, transforma-se numa vítima em potencial do mundo do crime, podendo vir a ser, na melhor das hipóteses, um usuário de drogas e por tabela, um pequeno marginal. E aí está uma explicação razoável para a questão de tantos assaltos e furtos em Queimadas nesses últimos tempos, especialmente no que diz respeito ao roubo de celulares e aparelhos do gênero.
Enquanto muitos procuram considerar essa onda de “arrastões” em Queimadas como sendo um problema específico de polícia ou mesmo das autoridades políticas competentes, da prefeitura, em especial, por minha vez creio que esse seja primordialmente um problema de educação de base familiar, onde jovens de boa situação financeira e que não necessitam praticar esse tipo de crime, estão envolvidos pelo simples fato de não terem uma ocupação que lhes preencha o tempo ocioso. Essa ocupação poderia ser algum Curso de natureza técnica, algum tipo de capacitação necessária e que despertasse o interesse do jovem, desviando-o de muitos pensamentos negativos. Como diz o velho ditado, Mente vazia é oficina do diabo.
Certos modismos são uma preocupação à parte, visto que essa atual juventude já não se prende a uma leitura mais refinada ou qualquer tipo de aprendizado ao qual não dê importância. Por sua vez, ritmos e estilos musicais duvidosos estão alienando cada vez mais nossos jovens, e o que assistimos agora é um “emburrecimento cultural” de uma geração que já não aprende nada de relevante, embora haja um excesso de informações à disposição de todos.
Queimadas, enfim, atravessa um momento de extrema delicadeza, onde a acomodação da sociedade e a hipocrisia do poder judiciário se veem diante de um problema sem solução a curto prazo. Para ser mais exato, a burocracia jurídica e a ineficiência de leis que só funcionam no papel é quem mais contribui para esse descaso que vem acontecendo no Brasil, atrapalhando mais do que propriamente solucionando pequenos problemas de ordem familiar, onde um corretivo dos pais à moda antiga resolveria em dois tempos qualquer rebeldia adolescente sem causa.
Portanto, já que não podemos voltar ao passado e vivenciar aqueles tempos de paz e de esperança com um futuro melhor, a ideia agora é que busquemos, o quanto antes, educar nossos jovens e apresentar para eles uma cultura de verdade. A superficialidade das artes e principalmente de muitas músicas atuais, deveriam ser evitadas.
Que surjam então, mais escolas com um ensino fundamental dinamizado e de acordo com a nossa realidade, para que assim, aumente o interesse das crianças pelas mesmas. Pois, ao que me parece, esse modelo antigo de ensino e de aprendizado há muito que não desperta na juventude qualquer comprometimento, ficando difícil até de cobrar-lhes algum rendimento escolar. Que a educação e o conhecimento consiga por fim, salvar e recuperar a dignidade e o futuro dos nossos jovens, livrando-lhes de todo um leque de infortúnios. Assim, talvez, não tenhamos que assistir de braços cruzados à construção de mais presídios em vez de escolas.
Paulo Seixas, julho/2015