Metástase

Em nossos dias a sensação de vulnerabilidade no meio policial é muito grande. Recentes pesquisas indicam que os policiais se acham mais vulneráveis aos ataques de bandidos no trajeto casa-trabalho, ida e volta, e nos dias de folga. Ou seja, eles não têm tranquilidade para ir à praia, fazer compras num shopping, dar um passeio qualquer, como nós profissionais de outras áreas temos. Se num determinado arrastão, numa falsa blitz ou tentativa de assalto qualquer, o policial estiver armado ou não puder esconder a sua carteira, terá grandes chances de ser executado.

Lembro até de um irmão meu que, dentro de um ônibus, não teve seus pertences subtraídos por ser “da cor”. “Esse não, é da cor”. Com o policial é o contrário. Se souberem da sua condição funcional, não será poupado de modo algum.

Isso só serve de alimento à represália. Fazendo com que muitos policiais resolvam fazer justiça com as próprias mãos e cometam arbitrariedades e excessos injustificáveis que também ocorrem quase todos os dias. Culminando muitas vezes com matanças generalizadas, até mesmo de inocentes, ou quase genocídios. E corroborando o que dizia o Profeta Gentileza, mudando-se o substantivo: “violência gera violência”.

Violência, latu senso, que se apresenta de diversas maneiras: a doméstica, entre pessoas que residem sob o mesmo teto; a violência contra as crianças; contra as mulheres; contra os animais; contra os idosos, sobretudo em casas onde eles deveriam se achar protegidos; violência entre traficantes e milicianos em suas encarniçadas disputas por território ou pelo poder; violência religiosa, decorrente do fanatismo de seitas ou pretensas igrejas; a violência nos quarteis, com treinamentos ainda medievalescos; e, por fim, a violência da corrupção, esta causadora direta de irreparáveis males à nação.

Trata-se, portanto, a violência de um câncer em metástase na sociedade. Capaz de atingir a todos nós. Que podemos ter amigos de vida convencional que sejam parentes de bandidos como também amigos que sejam policiais de comportamento exemplar. Um câncer ou uma praga que se alastra com velocidade cada vez maior.

Qual será a melhor medicina para isso? Capaz de atenuar esse mal?

Parece tratar-se de uma pergunta inútil, pois talvez não nos demos ao trabalho de faze-la e nem os condutores da sociedade se preocupem com a resposta. A não ser com a elaboração de estatísticas.

Rio, 30/07/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 31/07/2015
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