Conclusão Cansada
Os distúrbios em Baltimore, como os de Ferguson, nos EUA, refletem a indignação da população, majoritariamente negra, quanto à forma como são tratados os afro-americanos naquele país. E envolvem saques e apedrejamento de lojas e viaturas oficiais. Coisas mais ou menos similares às que eventualmente acontecem por aqui. Não exatamente por motivos raciais, mas por motivos que podem se resumir no crescente desequilíbrio social entre as classes que dominam e as que são dominadas.
Só que é flagrante a distância que separam os EUA do Brasil, notadamente sob o ponto de vista econômico, bélico-militar e do desenvolvimento técnico-científico. Trata-se de um país que “acaba de dar início a um programa de um trilhão de dólares para modernizar o seu sistema de armas nucleares”, segundo o ativista político Noam Chomsky. E que se acha blindado, assim como Israel, contra possíveis investidas termonucleares de outros países.
No entanto, a despeito dessas imensas diferenças, tratam-se de dois governos sujeitos a praticamente o mesmo tipo de manifestação social, ou de indignação da opinião pública, independente de suas razões. O mesmo podendo ocorrer em diferentes pontos do planeta.
Dá para se concluir, a partir daí, que paralelamente ao fosso que separa as nações mais ricas e desenvolvidas das outras, existe também uma imensa distância entre os que representam os sistemas de governo e as populações a eles subjugadas. Que absolutamente não são representadas por tais governantes. Ou seria bastante restrito o espaço para as convulsões sociais.
Podemos dizer, portanto, que dificilmente um governo poderá representar os interesses do povo que governa. Seja qual for o regime. O que pode ter o aspecto de uma conclusão óbvia. Na qual, todavia, nem sempre acreditamos.
Rio, 28/04/2015