À Margem da Consciência
No Brasil certamente não se pode dizer que o povo tenha condições de tomar plena consciência de suas necessidades básicas. E menos ainda que tenha tomado consciência de sua força. Porque para isso seria necessário um nível de conscientização política cujo acesso é somente possível aos que tiveram uma formação educacional um pouco mais esmerada.
Os políticos têm plena consciência disso. Assim como setores da classe média e das categorias mais abastadas, numericamente, nos dois casos, inferiores ao povão.
Essa é a razão pela qual os investimentos em educação no país são sempre os mais baixos. Pois ao povo não é permitido chegar a um nível de consciência capaz de ameaçar os interesses das classes dominantes e seus agregados/aliados.
No Japão, por exemplo, o governo teve de desistir da construção de uma arena no valor de US$ 2 milhões para os próximos Jogos Olímpicos porque a população achou muito caro.
No Brasil, por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, foram construídas inúmeras arenas, até mesmo onde nunca serão usadas intensamente, como no Amazonas, e o povo não pode se pronunciar. Como também não teve condições de saber que provavelmente todas elas foram superfaturadas. Um povo conscientizado não admitiria isso.
Como não admitiria (e nem votaria) como candidato ao cargo de senador da República o mesmo cidadão que comandara o confisco do dinheiro do povo quando no exercício da Presidência do país, da qual fora expurgado.
Também não admitiria que o presidente da Câmara dos Deputados, empossado no cargo apesar dos inquéritos a que responde no STF, considerasse inconstitucional o fato de ter que ir a Curitiba depor se tem a prerrogativa do foro privilegiado.
Não admitiria ainda um povo politicamente conscientizado que um Presidente da República, com todo o aparato informativo a serviço da Presidência, não tomasse o menor conhecimento do conjunto de atos de corrupção que ficou conhecido como Mensalão – processo com milhares de páginas e vários anos até ser concluído.
São coisas que só acontecem no país cuja maior parcela da população não tem meios de avaliar com um mínimo de bom senso a evolução dos acontecimentos políticos que interferem com os destinos da nação.