No Brasil, costuma-se dizer num clima ufanista que temos “o maior estádio de futebol do mundo”; uma das maiores usinas “hidrelétricas do mundo”a capital mais moderna e “arrojada” do mundo, o “rei do futebol”, sim também estranhamente os reis e rainhas continuam no nosso imaginário social, a despeito dos slogans de ontem e de hoje como “Este é o país que vai pra frente” durante a Ditadura Militar(1964-1984) e hoje, fala-se em “Orgulho de ser brasileiro”, o interessante é que deveria se acrescentar à propalada grandiosidade do pais a grandiosidade das tristes estatísticas de violência,que dão conta de que ocorre um banho de sangue. Dados oficiais, nem tanto confiáveis, informam que 50.000 pessoas morrem em decorrência dos diversos tipos de violência, com destaques para os homicídios e mortes no trânsito.

Na realidade esses números são bem maiores, em 10 anos perdemos grande parte da população jovem. Isto contrasta com a imagem que as classes dirigentes querem passar para o mundo e a nós mesmos, de um país ordeiro, como sugere o slogan positivista de nossa bandeira: “ordem e progresso”. São mais de meio milhão de pessoas mortas pela violência em uma década, nenhum pais “civilizado” em período de paz, alcançou essa cifra. Vivemos numa guerra civil não declarada. Enquanto isto as elites de plantão e os políticos confortavelmente instalados na “ilha artificial” modernista, Brasília fingem que governam e a população finge que é governada. O distanciamento é evidente, somos uma democracia de “fachada”. A democracia é exercida com a participação efetiva da população nas decisões de governo e o governo tem que, não só se mostrar “transparente”, mas ser transparente, “dar o exemplo” ético.

Entretanto o que se assiste é um espetáculo de amoralidade e de distorções, o que é público é privado, a coisa pública é vilipendiada por saúvas de paletó e gravata que a devoram em conluio com interesses empresarias escusos, roendo os intestinos da nação em nome de interesses nada republicanos, o que sobra são as migalhas dos “serviços públicos” de quinta categoria ofertados. Será que o nosso destino enquanto povo, é ser eternamente rebanhos, submetidos pelas oligarquias de plantão, obedecendo à lei “férrea da oligarquia?”. Somos o país dos heróis destituídos de caráter. Um país de absurdos onde grande parte da classe política que representam a população está sendo julgada, e muitos até condenados em tribunais de 1ª e de 2ª instância por atos de corrupção, que alias é um câncer por aqui, e é essa gente que elabora as leis. É vergonhosa a nossa situação. Não por acaso a grande questão hoje que se debate entre aqueles que ainda refletem sobre nossa miséria moral, é a questão da falta de ética no nosso cotidiano e na vida política, vivemos num verdadeiro desastre ético. A política é reduzida a meio de enriquecimento fácil e o que deseja a maioria dos políticos é “assaltar a viúva”, o estado, que é de todos e não é de ninguém e se não é de ninguém é dos políticos!. Dizia-se no século XIX “Ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil” , na verdade o Brasil deveria por fim a política fisiológica, feita com apetite voraz e predador pelas saúvas da política brasileira.

Somos um pais onde a ficção de Kafka parece brincadeira, o estado vilipendia a todos para sustentar um mamute, pesado, de funcionários bem pagos e com aposentadorias generosas enquanto a maioria da população que custeia este estado, ganha salários menores no setor privado e se aposentam sem regalias, e recebe deste estado serviços básicos como educação, saúde e segurança de “quinta categoria”; o desvio ético está em todos os aspectos da nossa vida, no hábito da população de dar “um jeitinho” de burlar as leis, de jogar papel na rua, onde o público se torna privado, avançar o sinal; enfim traduzir o “espírito” brasileiro só usando metáforas, mas a falta de caráter de nossas elites e a indolência da população para com o interesse público são evidentes; por aqui diz-se que se mata o vizinho mas não se mata uma autoridade e olha que temos matado muitos dos nossos vizinhos!  O gigante dorme em eterno berço esplêndido e regado a sangue!.

A despeito de se falar na cordialidade brasileira e no caráter alegre de nosso povo é estranho que seja uma alegria esquisita, uma pergunta vem à tona será que somos alegres por que somos tristes? Talvez precisássemos de um Norbert Elias para compreender o espírito de nossa gente na sua integralidade e em sua essencialidade, pois a despeito de já se conhecer aspectos de nossas vicissitudes sociais e históricas ainda há lacunas para um estudo de fôlego para compreender o que é isto o Brasil? Quem são os brasileiros, qual o seu caráter enquanto povo, enquanto ethos. Essa questão sobre o que é o ser brasileiro, tem intrigado muita gente talentosa como sociólogos, historiadores e antropólogos, mas ainda somos estranhos a nós mesmos e as categorias de cordialidade (Gilberto Freyre), As visões do paraíso (Sergio Buarque de Holanda) a antropologia urbana e os traços cotidianos de nossa cultura(Da Matta), dentre outros são ainda insuficientes para a compreensão da verdadeira natureza de nosso povo, que vive atado ao atraso e pendurado no afã modernizante. Qual seria o caráter do povo Brasileiro e do seu destino trágico enquanto nação que se propõe a ser nos discursos oficiais uma coisa, mas na prática é o seu inverso
.
Labareda
Enviado por Labareda em 07/06/2015
Reeditado em 03/08/2019
Código do texto: T5268819
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.