O Mesmo Chão
Nas sociedades primitivas também o homem esmerou-se nos processos de estratificação social através de “formas de organização das relações de produção”. O que dividiu populações inteiras entre “uma minoria de proprietários da terra, do gado e dos instrumentos humanos e materiais de trabalho, e uma maioria de dependentes, transformada em classe subalterna, livre ou escrava”.
Há inúmeros exemplos de situações desse tipo no nosso século 21. E há muito nos acostumamos com a ideia de que nem todos podem ser proprietários disso ou daquilo. Nem todos podem ter tudo. Até pela capacidade pessoal, a operosidade, a engenhosidade.
Darwin nos ajudou muito nesse aspecto. Levando-nos a aceitar que os mais capazes (ou mais fortes) teriam o direito de subjugar os menos engenhosos (ou mais fracos). Por aí fazendo com que justificássemos, por exemplo, a conquista e aniquilação da civilização Inca.
É interessante notar que dentre os mais engenhosos acham-se por vezes inclusos os mentirosos e sofistas, tão comumente encontrados nas classes políticas e sacerdotais, de quaisquer naturezas, em permanente luta pelo poder – muito mais importante que o enriquecimento pessoal.
De qualquer forma, os excedentes da produção gerada pelas classes subalternas nem sempre os beneficiam diretamente, na medida em que nem todo mundo pode estar incluído na minoria ou categoria dominante. Que tem acesso aos artigos de luxo, às grandes propriedades e a objetos valiosos, favorecedores de um hedonismo que não pode estar ao alcance da massa trabalhadora.
Além dessa constatação, a maioria subalterna deve suportar uma cobrança de impostos cuja isenção está consciente de que não lhe pode ser concedida. Sob a alegação de que os tributos são necessários para a manutenção dos serviços básicos destinados à população.
Vez por outra essa discrepância acentuada ou acintosa entre os atributos da minoria e da maioria gera rebeliões, convulsões sociais e manifestações públicas como as que temos visto em nossas cidades e outras capitais do mundo. Exatamente como as insurreições camponesas – a egípcia, por exemplo – que já aconteciam a 2000 a.C.
Portanto, sujeitando-nos ao lugar comum, basta olharmos o passado para que possamos entender um pouco do que acontece no presente.