Esclerose Social
A questão da renúncia da presidente da Petrobrás e de cinco de seus diretores, que o governo não teve a coragem de afastar para a facilitação de algum tipo de esclarecimento, era mais ou menos o que se esperava. Até que demorou um pouco. Não fosse o Brasil um país sob um tipo de esclerose social em que empreiteiros, diretores de empresas nomeados por governantes e possivelmente políticos, ou membros do alto escalão do governo, se acham envolvidos em desvios de milhões de reais como nesse escândalo batizado de Operação Lava-Jato.
Na Suécia, no que ficou conhecido como o Caso Toblerone, em 1995, Mona Sahlin perdeu o cargo de vice-primeira-ministra por ter comprado com o cartão governamental uma ou duas barras de chocolate, fraldas e outros itens pessoais, além de despesas com aluguel de carros, num total aproximado de 8 mil dólares.
Acontece que lá, sendo os políticos severamente vigiados pela imprensa, qualquer deslize quanto à utilização do dinheiro público é objeto de uma averiguação meticulosa e uma acirrada campanha, tornando irreversível o fim da carreira do parlamentar. Às vezes mesmo não havendo uma nítida comprovação da fraude.
No caso da Petrobrás, as somas desviadas ou o somatório das propinas ultrapassam em muito o valor de 8 mil dólares, tornando-se, por isso, o assunto preferido dos jornais e telejornais. Até porque vende. Configurando-se numa campanha midiática cuja pressão torna-se difícil de ser suportada pelas pessoas que teriam o dever de gerir a empresa sem percalços dessa magnitude.
Uma extenuante campanha da mídia, desde que realizada com isenção, isto é, com o objetivo de contribuir para a real apuração dos fatos e não para a derrubada de governos, é altamente recomendável. Porque faria com que futuros diretores ou presidente de importantes empresas nacionais se preocupassem em desenvolver mecanismos que garantissem a inexistência ou o número mínimo de operações fraudulentas na instituição sob sua responsabilidade.
Num paralelo a algo assim como as pessoas que, vivendo do tráfico de drogas, desejassem incluir a Indonésia na sua rota de operação.
Outra maneira de serem ao menos reduzidos distúrbios financeiros prejudiciais a empresas importantes e à vida econômica do país, seria a aplicação de leis bem mais severas aos comprovadamente implicados nesses ilícitos. Não é compreensível que uma pessoa fique recolhida à prisão, às vezes por mais de um mês, por ter furtado um frango num supermercado, e outra ter participado do rombo de milhões de reais e responder em liberdade, sob a alegação de que não há risco de ela evadir-se do país.