Tambores e Tamboretes
Ao tempo em que concluímos a leitura do volumoso romance de Josué Montello, “Os Tambores de São Luís”, deparamo-nos com as notícias dos gravíssimos acontecimentos envolvendo a segurança dessa bela cidade, capital do Maranhão. Ao que tudo indica, deflagrados a partir da incontornável crise no sistema penitenciário local. Aliás, um problema comum a todo o estado brasileiro, só que talvez mais agravado em São Luís.
A partir desse noticiário, pode-se estabelecer um paralelo muito próximo ao que acontecia com os negros no tempo da escravidão – onde São Luís destacava-se pela grande ferocidade e iniquidades com que eram tratados os escravos – e o que acontece agora com os mais pobres, que são a maioria, como no tempo dos negros, em relação à elite dominante.
Comparativamente, as atrocidades cometidas contra os negros no tempo da escravidão são as mesmas a que agora está exposto o povo maranhense, num dos estados mais miseráveis da Federação. Isto porque é de tamanho acintoso, de tão grande, a distância que separa as classes mais abastadas do povo da terra do grande Gonçalves Dias. Terra que vem sendo sugada e espoliada há décadas. E que vem cevando nesse mesmo tempo uma mesma família.
Do mesmo modo que a província de São Luís tinha um presidente no tempo dos escravos, hoje temos um presidente do Maranhão. E todos sabemos quem é.
Sua importância neste país é tão grande que dele se aproximaram os governos FHC, Lula e Dilma – querendo que acreditássemos, os dois últimos, que se tratavam de governos com tendências esquerdistas ou socialistas.
É bom lembrar que José Sarney só foi presidente do Brasil porque não representava qualquer ameaça ao desastroso e fatídico projeto militar ou à sua quartelada, tantas vezes combatida por muitos dos que estão hoje no poder, a começar pela presidente do país. Os militares tinham sempre seus olhos voltados para os subversivos ou comunistas que assaltavam bancos ou tinham em casa livros de Mao e Ho Chi Minh. Mas não conseguiam enxergar a escravidão que se processava no Maranhão à época, como agora, muito depois de promulgada a Lei Áurea.
Neste tenso momento vivido pela população maranhense, torna-se ultrajante e acintoso o anúncio de licitação no valor de R$ 1,3 milhão para compra de comidas e bebidas para o cerimonial e eventos no Palácio dos Leões, bem como para “a despensa das residências oficiais da governadora Roseana Sarney (PMDB)”, filha do nosso ilustre bigodudo, acadêmico e imortal.
Caviar, lagosta, patinhas de caranguejo, pudim de camarão, whisky, vinhos e champanhe importados – gastos fúteis e frívolos, inapelavelmente suscitados e programados diante dos dramas e dificuldades diárias vividos pela população de todo o estado, não apenas a carcerária.
E o governo federal não se pronuncia da forma que pudéssemos esperar. Do que não se acha capaz pelas ligações e o apoio devido à oligarca família possuidora do Maranhão.
Resta-nos a esperança de que rufem agora, como tanto já rufaram ontem, os tambores da Casa-Grande das Minas, na esperança de que possam ser ouvidos por algum Damião.
Rio, 09/01/2014