Anão, Não
Em muitas situações nós, brasileiros, reduzimos a importância do nosso próprio país. Quantas vezes já não usamos a expressão do De Gaulle “Que país é este?”, sobretudo quando se trata do cotejo entre nações de grande relevância no cenário internacional?
Neste momento, podemos apontar inúmeras ações indevidas, por parte do governo, nos negócios da Petrobrás. Onde teria havido um rombo de mais de U$ 1 bilhão, quando “petistas teriam pago dez vezes o que valia uma refinaria nos EUA”. Tem toda a história do Mensalão que quase que sabemos de cor. E muitas outras coisas podem ser ditas ainda do atual governo.
No entanto, temos agora a chance de nos orgulharmos do Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro. Quando responde à altura, e com elegância, a provocação petulante do governo israelense, dizendo que “se há um anão diplomático, o Brasil não é um”.
É preciso que se diga que o Brasil é um dos 11 países da ONU que mantem relações diplomáticas com todas as nações do mundo. O que talvez não se possa dizer do Estado que nos faz agora esse achincalhe. É preciso que se diga que o Brasil tem se posicionado sempre favoravelmente em questões envolvendo a paz entre os povos. Diferentemente de Israel que, com o apoio e o voto ou veto dos EUA, tem obstruído sistematicamente inúmeras resoluções na ONU voltadas para o estabelecimento de acordos de paz com o povo palestino.
O governo brasileiro, na pessoa do nosso Chanceler, condena as ações bélicas perpetradas pelo Hamas e “reconhece o direito de Israel de se defender”. Mas não entende a escalada desproporcional de mortes que essa defesa provoca, ceifando, num curto espaço de tempo, mais de 700 vidas, em sua maioria de civis e, dentre estes, crianças, mulheres e anciãos.
A posição brasileira é a do bom senso. E a que vem ganhando corpo, ao que parece, em todo o mundo. Ou entre aqueles que não podem ficar indiferentes a atos de tamanha atrocidade. À exceção dos que, num interpretação oportunista, preferem enxergar na atitude do governo brasileiro uma preocupação eleitoreira. Ao invés de reconhecer o direito soberano que tem uma nação de se manifestar com independência a respeito de atos que dizem respeito a todos os povos do mundo.
Tais pessoas, por exemplo, são as que não hesitariam em se mostrar ao lado de Ariano Suassuna numa foto, ao ensejo do seu desaparecimento agora, sem imaginar, é claro, o que diria o autor do “Auto da Compadecida” a respeito desses intermináveis bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Claro que não podemos garantir que ele fosse falar o que queremos ouvir. Mas seria muito diferente da nossa a opinião de um homem que sempre viveu em busca de justiça social?
Rio, 24/07/2014