Policial em resposta

Em resposta a Aislan Feitosa: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4806511

Sabe Aislan, quando era garoto também tinha o sonho em ser policial militar. Assim como o Senhor, também me imaginava fardado salvando vidas e lutando contra o mal. E mais, quando avistava um policial militar, dava trabalho em ser contido por minha mãe, queria a todo custo ir ao seu encontro. Aquele policial era na minha ingenuidade um grande ídolo - assim como é para muitas outras crianças hoje.

O tempo passou. Quando jovem, assim como o Senhor, mantinha o mesmo sonho em ser policial militar. Veja como nossas histórias são parecidas - dois garotos saudáveis e dois jovens sonhadores com tamanho apreço por policiais militares.

Entretanto, Senhor Aislan, há uma diferença em que o destino se encarregou de mudar. Ainda próximo da idade em que o Senhor almejou ingressar nas fileiras da Polícia Militar, eu, aficionado em ostentar aquela farda cinza bandeirante, desdobrei-me nos estudos e com certa dificuldade, dada pela vida humilde de que me originei, concluiu os estudos e com aproveitamento o curso de formação e finalmente pude exercer a profissão de policial militar.

E vou dizer-lhe Senhor. Sabe aquele nosso sonho de criança? Ele existe! Eu pude salvar vidas. Socorri pessoas que nunca conheci. Combati o crime quando ainda não dispúnhamos de coletes balísticos. Relutei com o sono por infinitas noites para dar segurança a pessoas que não conhecia. Mas também fiz vir ao mundo duas lindas crianças. E sabe do que tenho orgulho? Sou honesto e nunca cometi as tais barbaridades que o Senhor menciona. Hoje na minha maturidade, diferente do que o Senhor acha - digo-lhe: valeu muito a pena e faria tudo de novo. Eu vivi tudo isso e com muita hombridade.

Certamente o Senhor rumou para outro ofício digno e honesto, eu espero. Há maus policiais militares? Muitos. Corruptos também há de existirem. Mas há também os bons policiais. Aqueles que sacrificariam a própria vida para salvar um filho seu. São pagos para isso? Sim, mas fazem por vocação e amor à causa pública. Acredite, eles existem é não é um sonho de criança.

Em toda profissão eles estarão lá, defendendo e lutando contra aqueles que possuem os desvios de conduta. Generalizar é um grande erro Senhor Aislan. Termos como “lambe-botas e coxinhadas” não deveria fazer parte do seu vocabulário, já que possui o dom de lecionar e é formador de opiniões.

Quanto à desmilitarização, reli o texto algumas vezes pra entender sua indignação. Confesso que não cheguei a nenhuma conclusão. Caso seu repúdio seja contra policiais que são também militares, entenda que a desmilitarização não vai impedir que abusos ocorram. Da mesma forma como manter uma única polícia civil, não impedirá os excessos, as mudanças não acontecem como num passe de mágica – o processo é muito mais complexo do que o Senhor imagina. Agora policiais militares servirem nas forças armadas, isso sim é um absurdo. Ainda temos Constituição, lembra?

A polícia precisa melhorar, é verdade. Mas não só a polícia. A evolução precisa ser em massa e em longo prazo. Destino mais inteligente seria começar pela educação, através dos professores - o que acha?

Enfim Senhor, pelo tempo exíguo, deixo aqui minha insatisfação. Não pela opinião do Senhor. Ela é válida. O que me causa asco é o desrespeito para com uma Instituição com mais de cem mil homens e mulheres. Quando for dormir senhor, espero que sonhe com aquela criança ingênua que um dia quis ser policial militar, quem sabe em tais sonhos o senhor já não cresceu e se tornou um miliciano. Escreve pra gente depois e nos conte se foi um bom ou mau policial. Adoraria saber.