“TERRA BRASILIS” E “TERRA BANÂNIA”
O uso do conceito “Terra Brasilis”, atualmente, é muito amplo. Existe um Instituto “Terra Brasilis”, uma Revista com este título. Encontramos hotéis, colégios que se denominam “Terra Brasilis”. Múltiplas referências literárias poetizam e dissecam a “Terra Brasilis”. Eu diria, “Terra Brasilis”, simplesmente é o nosso Brasil. Por ocasião do “achamento” desta terra por Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha escreveu a D. Manuel, Rei de Portugal, em 1º. de maio de 1500, que aqui “em se plantando tudo dá...”, que nesta terra de Vera Cruz as “águas são muitas – infindas...”, que as índias “não tem vergonha de mostrar suas vergonhas...”.
A “Terra Brasilis”, achada pelos portugueses, antes de ser entregue a larápios feudais, os donatários das capitanias hereditárias, dominada e saqueada, era a “Terra dos Papagaios”, a “Terra dos Macacos”, a “Terra dos Índios”... Pelos portugueses foi denominada a “Terra da Vera Cruz”, a “Terra de Santa Cruz”, a “Terra do Pau Brasil”. O Pe. Fernão Cardim, em suas crônicas, denomina esta terra como “Outro Portugal”. Depois o Brasil se tornou a principal “Colônia Portuguesa”, um “Vice-Reinado de Portugal”.
Com a Independência, a “Terra Brasilis” passou a ser o “Império do Brasil”; em 1889, proclamou-se a “República do Brasil”. E esta “República” já passou por diversas fases: ´”República Velha”, República Nova”, “Estado Novo”, “Ditadura Militar”, e breves épocas de experiências democráticas. E assim chegamos ao nosso tempo histórico, com mais uma experiência democrática relativa, com grandezas, mas também com muitos desmandos, manipulações, enganações, hipocrisia, corrupção, partidos de aluguel, violências, injustiças sociais, com características de uma outra forma de escravidão. Por outro lado, não se pode negar a presença, nesta terra, dos bens culturais e tecnológicos da civilização do século XXI.
Ao lado das multidões excluídas, milhões de habitantes da “Terra Brasilis” têm acesso ao usufruto dos bens da civilização atual. Pode-se afirmar, por isto, que existe um paradoxo na atual “Terra Brasilis”. Hoje ela é a “Terra dos Minerais”, a “Terra do Café”, a “Terra da Soja”, a “Terra das Frutas”, a “Terra da Cachaça”, a “Terra do Futebol”, a “Terra do Carnaval”, a “Terra do Samba”, a “Terra das Multinacionais”, a “Terra da Copa”, a “Terra das Olimpíadas”, a “Terra de uma potencial Democracia multicultural e Racial”, mas também a “Terra Banânia”.
Na “Terra dos Minerais” e do “Futebol”, existem obras grandiosas de engenharia, de exploração de minérios e de petróleo, de produção agrícola e industrial; mas, na “Terra Banânia” acontecem os paradoxos do absurdo: entre muitos países, possuímos um dos piores sistemas educacionais; um sistema de saúde exemplar, mas ineficiente; um trânsito intenso, mas caótico; um transporte público humilhante; um dos maiores índices de violência e homicídios do mundo; um grande número de políticos sem caráter, verdadeiros Macunaímas, corruptos e subservientes às multinacionais, por sua vez corruptas e corruptoras, bem como aos interesses dos poderes políticos e econômicos sem ética; partidos políticos de aluguel, sem ideologias e sem projetos, como sanguessugas, apenas interessados num poder de privilégios, barganhando votos com esmolas, denominadas de “bolsas”, de “cotas”...
Na “Terra Banânia” a justiça é lenta, ineficiente, preconceituosa , muitas vezes, injusta e sem sensibilidade social; os impostos são altíssimos; os juros bancários absurdos; os juros de cartões de crédito imorais e estratosféricos; nesta “Terra” não existe hierarquização de salários, sem a qual os incompetentes, apaniguados e funcionários “faz-nada” recebem polpudos salários, enquanto trabalhadores, sujeitos a trabalhos duros e desgastantes, são forçados a viverem com salários de fome; o salário mínimo não permite aos milhões de favelados a esperança de um dia conseguirem sair de sua miséria astral; a legislação trabalhista é tão incompetente que, constantemente, obriga os operários a entrarem em greves para esmolarem migalhas de melhoria salarial; falta saneamento e planejamento urbano; as habitações da maioria da população são “casas”, no sentido do antigo Império Romano, i.é: choupanas, barracos, palafitas, mocambos, assentamentos subnormais, ranchitos, cortiços..., seja o nome que quiserem!
Assim é a “Terra Brasilis” e a “Terra Banânia”.
“Brasilis” e “Banânia” serão vistas e devassadas pelos turistas e jornalistas, que virão ao Brasil para a Copa Mundial de Futebol. Não nos admiremos se dissecarem a nossa realidade, assim como ela de fato é, tanto do ponto de vista da grandiosidade de nosso país, como de suas misérias. Na “Terra Brasilis”, em se plantando tudo dá; na “Banânia”, depende dos brasileiros se educarem, se conscientizarem, e tomarem em suas mãos os destinos de sua vida e de sua história futura. Ou será que o povo brasileiro se alegra em ser ludibriado, enganado, feito de besta por uma minoria aproveitadora?
A Natureza foi generosa com o Brasil: águas infindas, terras férteis sem igual em outros países, florestas imensas , minérios riquíssimos; sem terremotos e maremotos graves, sem vulcões, com raras tempestades e tufões; sem grandes desertos, com chuvas médias periódicas; sem as intempéries dos frios intensos... Falta ao homem “Brasilis”, superar o homem “Banânia”, para que o sabiá possa cantar aqui, como não canta lá!
Viva nossa terra, a terra que desejamos, um dia, seja a “Terra Brasil”.
Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife -PE