Fechou?
FECHOU?
Eu sou de um tempo, e minha geração toda usufruiu disto, em que em Porto Alegre fervilhavam os bares noturnos, chamados de bar-chopp. Isto hoje, praticamente não existe mais. Antes, a gente ia a um desses bares, tomava um chope (ou vários), comia alguns petiscos como bolinhos de bacalhau, almôndegas aceboladas, pasteizinhos de camarão ou o “carro chefe” daquelas casas, o clássico sanduíche aberto. Era um conjunto de gastronomia ideal para um papo descontraído, filosófico...
Hoje está tudo diferente. A patuléia quer jantar, encher o prato (de preferência fundo, com colher de sopa) e a barriga, para não dar chance à fome. Com isto a sofisticação da cozinha dos bares perdeu espaço para o prato cheio.
A tal “balada segura”, pressionada pela “tolerância zero” contra o álcool pode ser pragmática, racional, mas tirou a graça da coisa. Ora, sair à noite, ir a um barzinho ou restaurante e não beber é como ir ao bordel e pedir um abraço...
Não quero aqui fazer apologia do álcool, mas é indiscutível que ele alegra as relações, desinibe, deixa as pessoas mais descontraídas e alimenta a conversa. Hoje se vê em casas noturnas, casais, politicamente corretos, comendo comidinhas light, sem gorduras ou frituras, e bebendo refrigerante diet ou suco de laranja. Isto, lá pelas tantas enche o saco, e o cara não vai mais. Até o papo, regado a refrigerante perde a graça, não deslancha. Conheço pessoas que não saem mais, para almoço ou janta, pela impossibilidade de tomar um chope, uma cerveja, um vinho ou uma salutar caipirinha.
Animados por essa onda, moradores fazem campanha contra os bares e restaurantes. Como eles não bebem não gostam de ver (e ouvir) os outros desfrutando da bebida. As restrições e reclamações se avultam: meia-noite quase tudo fecha, políticos e mídia dão força a essas campanhas meio tendentes à hipocrisia. Com isto, a noite em Porto Alegre, por exemplo, praticamente acabou...
Ainda existem uns bravos que lutam para sobreviver, e apresentam um chope bem irado, com aquela espuma afinada, como manda a “santa madre igreja”. A gente entrava no estabelecimento e sentia o odor da calabresa frita, do joelho de porco aferventado com batatas, do filé recheado e das batatas fritas feitas na hora. As mesas, decoradas com toalhas com motivos alemães, e o garçom vinha ao nosso encontro com uma generosa bandeja cheia de copos de chope.
O fato nostálgico, quase escatológico é que os antigos e tradicionais bares, uma dezena deles (ou mais), que dão saudade, fecharam. Era tão bom e fechou! Vivia cheio de gente e acabou! Porque? Além do problema das blitze policiais, se teria que buscar razões sociológicas quanto a uma mudança de comportamento do público consumidor.
Assim, fecharam o Cubano, o Wunderbar, o Liliput, o Luiz Alberto, o Oásis, o Henrique, o Hubertus, o Pedrinho, o Cauim, o Fredy, o Amarelinho, o Líder e a Taberna.
Ah, saudades eternas!