Bebidas e festas de Igreja
BEBIDAS E FESTAS DE IGREJA
Antônio M3esqiota Galvão
Doutor em Teologia Moral
Hoje ganha corpo por aí a restrição de bebidas alcoólicas nas festas de igreja, aquelas realizadas nos salões paroquiais, onde junto com o churrasco, o galeto, o carreteiro e as massas, corre frouxo o vinho, cerveja e caipirinhas. Em locais se consome muita bebida alcoólica. Com o advento da “tolerância zero” da lei seca, essas restrições se tornam mais fortes e impositivas. É lamentável ver a quantidade de acidentes, com graves danos e mortes, especialmente nos fins-de-semana e feriadões. Famílias são destroçadas, pessoas mutiladas por causa das bebidas alcoólicas.
Quando eu me refiro a uma iniciativa que “ganha corpo”, estou me reportando às campanhas que vem sendo encetadas em várias Dioceses do Brasil, e especialmente do Rio Grande do Sul, onde muita gente, líderes comunitários, padres e bispos acham que não é a euforia da bebida que promove a alegria das festas paroquiais. A alegria está na amizade, no convívio e na partilha de experiências e expectativas fraternas.
Há tempos, escutei uma palestra, em que o preletor criticou certas festas de Igreja, onde o sucesso não é medido pelo número de pessoas presentes na procissão, na novena ou na missa dominical, mas na quantidade de ingressos para o churrasco e no número de caixas de cerveja vendidas. Os pentecostais e evangélicos não usam bebidas alcoólicas em quaisquer circunstâncias. Eles repudiam o álcool junto com o fumo como uma exigência de sua doutrina. Ao revés disto, católicos e outras denominações não dão bola àquelas exigências éticas, e o consumo de bebida é liberado.
O uso de bebidas de álcool geralmente enseja uma mudança de comportamento. Mudança para pior. Tem gente que não vai às festas para comer, conviver e se divertir, mas para beber, se embebedar, ficar chato e encher o saco dos outros. E é difícil ver numa festa alguém que beba apenas um copo de vinho ou somente uma cerveja. Como tais reuniões ocorrem sábado à noite ou domingo ao meio-dia, tudo enseja, salvo raras exceções, um certo exagero. Se houver uma blitz com bafômetro na porta dessas festas, não escapa ninguém.
Há uns dois anos atrás, no interior da Região Metropolitana de Porto Alegre, depois de uma festas destas, uma pessoa vinha correndo por uma estrada de chão, perdeu o controle do carro, capotou e morreu. Perdemos um amigo e a Igreja, um bom ministro. Qual a causa disto?
Eu sou a favor de uma uniformização ética de comportamento, onde se aprenda a promover a alegria das festas com refrigerantes, água e sucos. E faço um desafio: retirem o vinho, a cerveja e a caipirinha das festas e vamos ver qual é a verdadeira atração. Numa cidade da Serra Gaúcha onde morei, na década de 90 alguém fez o desafio da festa sem galeto e sem vinho para avaliar o motivo de tamanha frequência. Não toparam o desafio...
A redução do consumo de bebidas nessas festas deve ser responsável, programático e urgente.