O jornalismo está em crise
As salas de aula que seriam destinadas ao curso de jornalismo das grandes e conceituadas faculdades do país estão vazias, e não digo vazias apenas de pessoas interessadas em se tornarem grandes comunicadoras, as salas também estão vazias de conteúdo e profissionalismo.
O jornalismo passa por uma grande crise profissional que reflete diretamente no setor financeiro de empresas de comunicação. Para argumentar sobre o assunto, baseio-me em algumas posições que se tornaram costumeiras nas mídias mais viáveis e acessadas pela população: jornais, rádios, televisão e internet.
Lembro-me bem de quando comecei a me interessar pelo mundo das palavras e da informação. Como toda criança ao ver seu ídolo, sonhava em me tornar um grande comunicador. Assim, eu planejava meu futuro baseado na maneira como alguns jornalistas, ou profissionais da comunicação, atuavam em seus respectivos meios.
Como o inesquecível Léo Batista, que narrava de maneira categórica o jornal esportivo. Os contos e crônicas do colunista Moacyr Scliar, que caracterizava os principais jornais do país, assim como as revistas dirigidas e lançadas por Alberto Dines, por exemplo. E mais recentemente me interessei pelo jornalismo literário, com o Colombiano Gabriel Garcia Márquez e o brasileiríssimo Felipe Pena.
Infelizmente, ou felizmente para alguns, o jornalismo se ‘renovou’. Importantes nomes morreram e levaram seus ensinamentos, outros estão esquecidos por trás das câmeras e redações, por serem considerados ultrapassados. As emissoras abriram espaço para o errado dar certo, ou seja, hoje é jornalista quem quer, e não quem tem a capacidade de ser.
O jornalismo esportivo, por exemplo, se transformou, e seu conteúdo que antes era transmitido como informação com uma pitada de entretenimento, hoje é abordado, em consideradas grandes emissoras de televisão, internet, rádios e jornais do Brasil, apenas com o entretenimento, e muitas vezes sem informação. Porém, a máxima da comunicação de massa reflete sobre ‘o que faz sucesso não se muda’. E esse tipo de J.E contagiou boa parte de espectadores. E então Léo Batista foi esquecido.
Ao acessar o canal de informações da internet (hoje o principal veículo de comunicação de massa do mundo), de uma grande empresa de comunicação do país, me deparei com matérias curtas e cruas expostas no centro da página. Essas matérias, se é que podemos chamar de ‘matérias’, contam com um elevado número de compartilhamentos através de redes sociais, e conseguem uma abrangência jamais imaginada para dois parágrafos e uma enorme foto.
A tamanha proporção do conteúdo do centro da página não condiz, nem de longe, com as reportagens, artigos e crônicas publicadas por grandes jornalistas e pensadores, que ficam exibidas num pequeno link no lado direito da página da web, e que escondem em uma pequena foto do autor, um enorme conteúdo informativo e jornalístico. Porém, o número de acessos e compartilhamentos nem se compara com os pequenos parágrafos de uma dita matéria jornalísticas de destaque na página.
O processo de renovação em que muitos diretores justificam as mudanças em suas emissoras está fazendo com que os bons profissionais dêem espaço à mesmice e a indústria comercial. A informação, o conteúdo e o jornalismo estão acabando, e bons profissionais são cada vez mais escassos. Cursos de graduação em Jornalismo estão às moscas, ou senão, a procura por essa área é mínima em várias regiões. E isso reflete financeiramente, como nas remunerações de profissionais qualificados.
Como eu já disse em outros artigos, continuo defendendo a minha tese e profissão: ser jornalista não é apenas saber falar em público e em um microfone; não é ter um papel e uma caneta e escrever qualquer bobagem. Jornalista é o profissional que vive se adequando ao mundo, ao moderno e ao hipócrita, sem deixar de lado a sua dignidade e profissionalismo. O jornalismo é uma fascinante batalha em busca de mentes e corações de seus alvos, adequado a um período extenuante e compensador de estudos e conhecimentos. Essa profissão não foi feita para qualquer um, e apenas quando isso for entendido essa crise irá desaparecer.
Kallil Dib - Jornalista
www.kallildib.com