TER E SER

Numa sociedade onde o sucesso é medido pelo dinheiro e posses de bens materiais, o que se vê é muita gente procurando somar e acumular cada vez mais bens, como se isso fosse o mais importante na vida.

Nessa condição, acabamos sempre querendo mais ter e quase sempre nos esquecemos do ser.

Todo mundo quer ter muito dinheiro, muitos carros, muitas casas e apartamentos, fazendas, avião, helicóptero e muitas mulheres. Quer ter, também, um bom trabalho, um bom salário, uma boa posição social, um bom corpo físico e uma boa influência nos meios e negócios profissionais.

O maior tempo da nossa vida é gasto só em querer ter. Nada contra. Afinal, como seria bom se todos tivessem mesmo tudo isso, não é mesmo?

Contudo, na corrida da vida não podemos abdicar do ter, e você precisa mesmo lutar para conquistar o ter alguma coisa na vida.

No início da minha vida, que iniciou bem cedo, por volta dos 19 anos, eu trabalhava de manhã e à tarde, e estudava à noite e ainda achava tempo para dar aulas em Colégios particulares. Não demorou muito e comecei a ter crises hipertensivas. Lembro-me que um dos médicos que me atendia dizia, brincando, que a causa de tudo isso era que eu estava querendo ser rico. Nada disso. Estava mesmo lutando para conquistar o meu ter, mas estava me esquecendo do Ser que habita dentro de mim. Era muita correria e pouco descanso. O bom é que na conquista do ter não nos esquecêssemos do ser.

Mas, se você já conquistou ou está conquistando um pouco do ter, é hora de pensar um pouco no ser, auscultando o “Eu” de amor e bondade que habita em cada um de nós.

Se no ter, como vimos, a ênfase é dada às posses materiais, decorrente de uma sociedade materialista; é no exercício do ser que nos abrimos à reflexão e conseguimos ver que a vida, neste plano, é passageira e que ninguém vai levar, para o além, nada do que amealhou nesta vida. Então, de que adianta ganhar o mundo inteiro se um dia vamos morrer e não levaremos nada disso conosco?

É com a luz e a sabedoria do Ser que aprendemos a não nos deixarmos ser dominados pela ganância e pelo egoísmo.

É dando expressão ao SER que compreendemos o quanto é importante ser mais solidário, mais generoso e mais amoroso, possuindo um coração cheio de bondade e misericórdia, e perdoar não até sete, mas até setenta vezes sete , como nos ensinou o Mestre da Vida (MT 18,21-22). Quer dizer: sempre!

Como SER, devo pensar em mim mesmo como alguém ligado ao Todo e, não, separado, dividido. É justamente o achar-se que somos separados é que nos torna egoísta e ganancioso, querendo – a todo custo – tudo só para si mesmo.

É somente quando dou expansão e vida ao SER que há em mim é que me torno algo vivo, com vontade de servir e ser útil ao próximo e à sociedade em que vivo.

É como SER que me vejo inclinado a ser um bom esposo, bom pai e avô.

Há um momento na vida que não basta apenas ter, é preciso também ser família, ser amigo, ser amado, ser gente, ser humilde, ser compreensivo e ser tolerante.

Um não é mais importante que o outro. Ambos são importantes e necessários. Mas, o que nos atrapalha na senda da vida é achar que a vida consiste só no ter. Ledo engano. De tudo, o mais importante mesmo é ser feliz!

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eldes@terra.com.br