Ruinas pra que te quero - Cultura da politica de modernização – Demolição
*Parte desse artigo foi Publicado no Jornal Voz da Leste*
Zona leste minha vida, terra esquecida
Passa desapercebido mesmo para quem vive numa
região que para muitos é somente dormitório
se atentar na riqueza que temos e dos acontecimentos
vivenciados aqui. Das memórias que o tempo
e a falta de conservação, ou da falta de informação
não lembramos mais. Ou, porque o poder público
ou uma instituição privada achou melhor renovar,
pondo a baixo trabalho exaustivos de muitas vidas.
Sandra Frietha
Cultura da politica de modernização – Demolição
Falo de lembranças de nossas vidas, vilas e que se me dão licença faço o convite a vocês para um pequeno tour onde descobriremos algumas curiosidades de lugares e pessoas que para mim e acredito para você nunca existiram ou passaram por aqui.
Irei começar por um lugar que poderia ser um patrimônio nosso aqui no Itaim Paulista, a Igreja São João Batista, O terreno se encontra na rua José Cardoso Pimentel. – Casa 580H. Essa paróquia foi construida em 17 de Junho de 1951, terreno esse doado em 1950 pela Cia. Bandeirantes S/A (empresa paulista de armazenamento).
Na época, a antiga Estrada Rio-São ( O nome era uma referência ao tempo em que Dom Pedro I, viajava de São Paulo ao Rio de Janeiro pela rodovia. Hoje conhecida como Av. Marechal Tito que aborda Itaqua a São Miguel Paulista) passava ao lado do terreno doado e a água utilizada para a construção da antiga capela era retirada do córrego Itaim em carroças dentro de tambores com capacidade de 200 litros. Mais tarde, em 30 de maio de 1953, a antiga capela foi demolida para construir no local uma nova paróquia. A construção foi concluída em 15 de dezembro de 1957.
E, em Julho de 2011 a capela iniciou um novo processo de reforma, tendo sido demolida novamente para dar lugar à uma nova igreja, mais ampla, informam membros da igreja.
Nossa, imaginar que D. Pedro I passou por aqui no Itaim Paulista é interessante não? Você sabia disso?
Começam a entender do quero dizer? Notaram o descaso com nossa memória, descaracterizando e apagando a história de uma vila.
Involução Arquitetônica
Segundo definição sarcástica do amigo Ricardo Rios
"Passamos por uma involução arquitetônica ao não preservar nossa
Memória. Bairros inteiros vão abaixo em nome da especulação
imobiliária e da falta de um plano diretor. Entram e saem prefeitos
vereadores e nada é feito neste sentido.
Em outros países a memoria é preservada e incorporada à nova realidade imobiliária, aqui, alias no Brasil, raramente vemos isto.”
Fui a busca de arquivos de imagem informações da época e para minha decepção há pouco o que se mostrar ao contrário da região da Penha, onde há um acervo gigantesco, o Memorial da Penha. A sede fica num casarão de 1930, preservado pela família Folco. Além de resgatar a história do bairro, o espaço promove ações de preservação do patrimônio. Legal essa iniciativa não? Pra quem quiser visitar é necessário agendar a visita (www.memorialpenha.com.br/) e pelo telefone: 11 2092 – 2319
Chacará do Seu Antônio
Tombada. Agora parque ecológico, uma conquista dos moradores pela preservação.
O começo da colonização no Itaim Paulista foi através dos portugueses no século XXVII, que através de sesmarias (cooperativas de cultivo agrícola, modelo trazido de Portugal) os senhores da época vieram para o lado leste para o cultivo e plantio e passados os tempos, adquirindo posses de terras tinham a região como lugar de veraneio, a chácara do Seu Antônio é um exemplo disso, localizada na rua Antônio João de Medeiros.
Nesta chácara há várias espécies nativas da mata atlântica, algumas já são até mesmo tombadas como patrimônio ambiental pela prefeitura, sua derrubada é proibida e acarreta prisão por crime ambiental e uma curiosidade, foi nesta chácara a construção da primeira piscina da região, explica Marcel Cabral (Editor chefe – Voz da Leste)
Por possuir vários pés de jabuticabas, era comum nos meses de Outubro a Dezembro passar em frente a chácara e ver na calçada o fruto caído. Era utilizado como medida para a venda, uma lata de óleo. Tenho saudades desse tempo.
Nos anos 90 teve seu auge, com uma das festas mais badaladas da região, A festa do “Cachorro Louco”, onde passaram por aqui não só moradores do Itaim e adjacências, mas também de outras regiões. Como nos conta Sandro Garcia – Baixista da banda Continental Combo e proprietário do estúdio Quadrophenia ( onde nos anos 90 tocava com a banda The Charts, que teve grande percussão no cenário underground de São Paulo e anos mais tarde tocou com a banda Violeta de Outono, Kid Vinil (banda Magazine, conhecida pelo sucesso nos anos 80 “Eu sou boy”) e tocou também com Cadão Volpado banda Fellini e apresentador do programa Metrópolis – Tv Cultura.
Na época Sandro residia na zona norte e veio prestigiar seus amigos e vizinhos, a banda mod The Ultimates todos moradores do Imirim e Vila Nova Cachoeirinha.
“Lembro muito, mas muito vagamente da festa, sei que foi bem bacana, fui assistir Os Ultimates, e guardo na memória um show muito divertido com algumas figuras pedindo sons.
Estavamos com os amigos de sempre por lá, e depois de algumas cervejas virando a noite no evento voltamos de condução.”
Bem bacana esse intercâmbio e a troca de experiências não acham?
Mas a chácara em 2006 teve o risco de ser loteada para construção de um condomínio de alto luxo, segundo apuraram ativista da causa ambiental no bairro como os livreiros Jorge Lins dos Santos e Jonilson Montalvão que através dessa iniciativa apresentaram ao vereador João Antônio a necessidade de preservar o parque. O vereador a partir dai apresentou na câmara municipal para votação o Projeto de Lei 593/2006, onde pedia a desapropriação de uma das chácaras mais antiga do Itaim Paulista para transforma0la em parque público.
Depois de quatro anos da primeira reunião do Fórum de Meio Ambiente do Itaim Paulista a chácara, finalmente entrou em obras para abrigar o Parque Ecológico Central do Itaim Paulista, nosso patrimônio e onde temos a informação que em breve será a nova sede do Centro Cultural Itaim Paulista, mais conhecida como Casa de Cultura, que será deslocada de seu endereço de fundação ( rua Barão de Alagoas, inaugurada em 1984). A casa de Cultura completou neste ano, 28 anos de existência e prestação de serviço a comunidade e que nos anos 90 teve o formento cultural na região com diversos programas culturais e vinda de artistas de gabarito ( como a atriz Ester Goes, a banda punk Inocentes, entre outros).
Uma pena que com sua mudança para o novo endereço certamente o prédio será mais uma história que se tornará ruina. Saiba mais informações sobre a programação e história da Casa de Cultura no end. http://centroculturalitaimpaulista.blogspot.com.br/
Imaginem se não tivessem pessoas preocupadas, engajadas e sem medo de brigar pelo direito que reconhecem ter, perderíamos mais esse paraíso ambiental pelo motivo da tal demolição para renovação com um detalhe, para benefício de poucos.
Capela de São Miguel Arcanjo
Exemplo de preservação
A Capela de São Miguel Arcanjo, conhecida popularmente como Capela dos Índios, é uma antiga igreja localizada na Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra (Praça do Forró), no distrito de São Miguel Paulista .. A capela, que foi construída pelos índios guaianás catequizados pelos jesuítas, em 1622, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), e é uma das mais antigas da cidade; durante escavações em seu interior foram encontrados diversos objetos antigos e ossadas.
Após uma restauração que durou sete anos, ela foi reaberta ao público em março de 2011 juntamente com um circuito de visitação que conta a história da igreja. 90% das paredes de taipa originais foram recuperadas, assim como as pinturas que as ilustram.
O detalhe que mais me chamou a atenção aqui, foi que a Arquidiocese de São Paulo não pensou em destruir pra construir uma nova, pensaram apenas em construir uma nova, preservando a antiga, pois na época (1938) houve a necessidade de um lugar maior para realizar as missas dominicais que por conta da lotação o Padre Aleixo era obrigado a rezar várias missas por dia para que todos os fiéis pudessem assistir. Este templo é o mais antigo da cidade de São Paulo. Construido sob a orientação do carpinteiro e bandeirante Fernão Munhoz.
Para quem quiser conhecer segue telefone para maiores informações e agendar visitas Tel.: (11) 2032-4160
Capela de São Miguel Arcanjo
São Miguel Paulista
“ A zona leste abriga o templo mais antigo da cidade
de São Paulo. Sob a orientação do carpinteiro e
bandeirante Fernão Munhoz. A igreja foi um dos
primeiros prédios tombados pelo Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (atual Iphan).”
Presidio Carandiru
Um encombro cravado em nossa memória
A única demolição com o intuito a revitalização e modernização que se possível apagaríamos da memória, pois essa sim aprovo por achar que assim foi o melhor a ser feito, foi a da Casa de Detenção São Paulo, o famoso Presidio Carandiru, zona norte, hoje terreno esse que sedia o Parque da Juventude, complexo cultural, recreativo e esportivo.
Não sei quanto a vocês, mas durante a produção desse texto compreendi a importância de preservarmos nossa história, tendo como exemplo para futuros projetos referências de vivencias passadas. Quem dera se os caminhões de destroços não tivessem levado em suas caçambas parte de acontecimentos históricos e ao menos, tivéssemos as ruinas de Roma que nos traz a memória um pouco de uma história.
Deixo a pergunta:
Como seria sua região se não houvessem tantas edificações históricas demolidas?
Você tem ou compartilha da ideia de um memorial no seu bairro?