Foto - Karine Viana.


V de Violência

A violência, principalmente a urbana, é um dos problemas mais visíveis da sociedade contemporânea. As condições sócio-econômicas da população determinam sua amplitude em cada cidade ou país. Partindo-se desse pressuposto, como analisar para a violência que permeou as manifestações de jovens e estudantes pelo Brasil nesse momento?

Os momentos de avanço econômico são os que propiciam as maiores lutas populares por melhorias sociais. Não são lutas de resistência, são lutas por avanços. Por isso o salutar e oportuno movimento que tomou as ruas do país não era só por vinte centavos e evoluíram para uma pauta mais ampla. Desejavam avanços nos serviços públicos, num país que incluiu milhões de cidadãos ao mercado nos últimos anos.

O movimento deste junho de 2013, os jovens nas ruas, com novas lógicas e linguagens sociais, uma nova visão de mundo, querendo a construção de um novo espaço social, de avanços sociais em várias frentes. E, no processo, atos de violência e vandalismo. Qual o motivo?

Quem foi a algum desses protestos pode observar um descompasso entre a violência desencadeada e a mentalidade pacifista dos jovens que deles participaram. Atribuiu-se tal fato a grupos políticos de extrema esquerda e direita e a criminosos, ambos infiltrados, por um lado, e ao despreparo e truculência da polícia militar, por outro. Meias verdades, que encobrem a realidade dos fatos e tiram o foco dos verdadeiros responsáveis.

Um fato emblemático foi o confronto da tropa de choque da Brigada Militar com os manifestantes em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, 20. Não de graça, a BM estava garantindo a integridade do prédio e dos profissionais do jornal Zero Hora, alvo simbólico para o movimento das ruas, por ser o expoente da grande mídia em nosso estado. Os manifestantes saíram de um clima Woodstock em frente à prefeitura, caminharam alegres sob a chuva pela João Pessoa e, também não de graça, caíram num Vietnã na Ipiranga. Como isso aconteceu?

Se um movimento tem quem o convoque e quem o conduza pelas ruas, ele até pode ser apartidário e espontâneo, mas não é acéfalo. Alguém decidiu caminhar até o prédio da ZH e para lá conduziu a massa, justo onde estava a BM. Alguém solicitou a presença da BM e, também, alguém determinou que ela para lá fosse. Assim, se não há almoço de graça, também não há fato político gratuito. Logo, a responsabilidade da direção do movimento, dos proprietários do jornal e do Governo do Estado é clara. Jovens e PMs em confronto, mariscos oriundos da mesma classe social, estavam lá por decisão destes.

Se uma liderança sabe que, dentro das fileiras de seu movimento, existem extremados sem controle e, também criminosos aproveitadores, então por que arriscar-se a um confronto com consequências previsíveis? O governo, por sua vez, sabe que, nessas condições, enviar uma tropa de choque para o local é garantia de confronto. Os extremistas vão provocar a tropa e esta vai reagir como é treinada, ou seja, parar enfrentar o “inimigo” e, assim, garantir a segurança da sociedade. Quase 1+1=2 de matemática social isso!

Nesse quadro extremo, é óbvio que excessos vão ocorrer de ambas as partes e os comerciantes e populares do entorno é que vão sair no prejuízo em virtude do quebra-quebra, do vandalismo e dos roubos decorrentes. E, depois, das suas confortáveis poltronas, os responsáveis diretos vão julgar os fatos analisando... a conduta dos mariscos!

Os PMs lá estavam como bucha de canhão do governo e da ZH. Estes, depois, respectivamente, defendem a criação de ouvidorias e criticam a... truculência policial. E, isso, claro, de forma autista, pois fica uma pergunta: por que os manifestantes das ruas estão contra os governos e a grande imprensa? E por que ficam debatendo as sequelas, ou seja, confrontos da BM com manifestantes, em vez de debater o por que de seu desgaste e descrédito social? E as lideranças do movimento, por que conduzem as massas para o confronto e acobertam, sob o seu guarda-chuva, os extremistas que nele atuam?

Responderei essas perguntas na semana que vem
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Texto publicado na seção de Opinião do Jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br