Vasculho

O seu computador revela com exatidão as suas coordenadas geográficas. Assim como o Ipad, o Iphone, o Ipod, qualquer outro “ai” (I) por aí ou utensílio eletrônico do tipo. Tais aparelhos revelam também, com aproximação extremamente significativa, o perfil do que você é, do que pensa, do que sabe, do que pensa que sabe, etc. Com isso, os órgãos potencialmente interessados em você, não apenas os órgãos de segurança, mas instituições privadas a serviço da manutenção do sistema a que você se reporta, terão o poder de aniquilá-lo antes mesmo que você se configure numa ameaça aos seus interesses.

Não sabemos se eles podem ainda, através dos brinquedinhos eletrônicos que adquirimos nos shoppings ou através da internet, se eles podem ter acesso às características recônditas do seu DNA ou aos tipos de células-tronco que eventualmente tenham vindo com você, se há alguma tipificação dessa espécie.

Portanto, 1984* já chegou há muito tempo. Com a agravante de que estamos diante da real possibilidade de que os órgãos, públicos ou privados, interessados em nós, conheçam efetivamente o que estivermos pensando.

Então a nossa tarefa será, a partir de agora, a de esconder os nossos pensamentos. Já que não são coisas palpáveis que possam ser facilmente escondidas.

E o pior, mas de modo algum impensável, é que há pessoas que nada acham de anormal em serem controladas. Por terem absorvido a ideia de que medidas desse tipo se justificam, ante a possibilidade concreta de atos de terrorismo. Acham-se, portanto, perfeitamente integradas à neurose coletiva resultante da implantação de um sistema de domínio que se recusa a encontrar a menor chance de confronto para o alcance de seus objetivos.

É o que parece que acontece com parte da sociedade americana, diante da estapafúrdia decisão de seu presidente de bisbilhotar a vida de seus concidadãos. E, obviamente, a vida de qualquer estrangeiro em território americano. Ou em qualquer parte do mundo, tal o alcance dos satélites em todo o planeta e, quem sabe, até das redes de fibras óticas.

Havendo mesmo quem se interesse pela defesa dessa prática vasculhativa até em países fora dos Estados Unidos, embora dentro do seu raio de influência, como o Brasil. Normalmente na rede midiática, pessoas que ganham a vida defendendo posturas e programas que nada ficariam a dever a sofisticadas práticas nazistas de espionagem e dominação tantas vezes por eles mesmos detratadas.

Rio, 13/06/2013

*1984, livro de grande sucesso do autor britânico George Orwell

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 13/06/2013
Reeditado em 13/06/2013
Código do texto: T4339411
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