Vestimenta vulgar
Esta semana, me peguei dentro de uma sala de aula de uma instituição particular de ensino em Sorocaba, São Paulo. Devidamente vestido, não de acordo com costumes, mas sim como eu me sinto confortável para me vestir, com camiseta e calças, adquiria o conteúdo passado pelos professores. No entanto, eu não assimilei apenas conteúdo naquele dia.
Na sala, temos uma aluna apelidada de “Barbie”. É uma menina pequena e magrelinha, que descolore o cabelo e sempre gosta de sair com roupas pra lá de extravagantes. Saias, calças mais largas, ela tenta de tudo e procura sempre estar chique, não vulgar, ao contrário de diversas pessoas do sexo feminino inseridas naquela atmosfera didática. No entanto, tive a infelicidade de me deparar com uma enfadonha cena: a coordenadora de ensino foi até a sala e pediu que a Barbie a acompanhasse. Ao retornar, a menina estava enrubescida e muito nervosa. Começou a dialogar com seus colegas que, por sinal, são meus também, apesar de não ter contato com a menina diretamente.
Após ela se acalmar, perguntei ao rapaz que senta atrás de mim o que se passava. Ele respondeu que a tal coordenadora advertiu a aluna oralmente, para que ela não comparecesse mais à classe com shortinho, desses bem curtos.
Por outro lado, diversas garotas (se é que não merecem ser chamadas de outro nome) acham-se as modelos escolares, desfilando e papeando por todos os cantos com regatas e sutiãs que apertam os seios e fazem-nos quase pular para fora; na maioria das vezes vestidas com calças de ginástica que apertam tanto os glúteos que é como se elas não estivessem usando nada: fica visível até a linha de costura da roupa íntima, muitas vezes chamativa. A funcionária alegava que a Barbie estava vulgar e mostrando muito as pernas, o que estava ofendendo os corpos discente e docente. Contudo, eu fico mais ofendido em ver bundas pulantes e peitos que balançam do que as pernas magras da menina.
Tomemos como exemplo duas formas de governo: o mercantilismo e o neoliberalismo. Aquele funciona da seguinte maneira: o comércio é livre, entretanto há intervenção do estado na economia; este também é, mas a intervenção do poder público no âmbito financeiro é mínimo, se não for nula. Agora, convertamos essa ideia para o colégio.
Vamos acreditar que a escola possa tomar qualquer uma das posições: proibir ou liberar. Pelo visto, o colégio em questão permite a utilização de quase todo tipo de vestimenta, desde que não seja muito diferente do comum; nem uniforme é exigido. No entanto, permite qualquer vestimenta mas não permite o shortinho. Belo regimento, não?
Se a escola não admite vestimenta que mostre as pernas, que não admita roupas vulgares também. Ou, exatamente o contrário, se permite as roupas das atuais alunas, tudo deve ser aceito. E é exatamente aí que está contida a falha dos seres humanos: a grande hipocrisia em que nós estamos inseridos, e que muitas vezes não notamos.