BC, o Banco Que Não Destoa
Não posso desejar tê-lo como companheiro nessa minha repulsa ao sistema bancário brasileiro. Apesar da certeza de haver, como eu, muitos outros inconformados. Melhor palavra que revoltados. Mas como seria bom se houvesse uma incidência catastrófica de reclamações nesse sentido. Talvez assim esses (ir)responsáveis pelos serviços oferecidos à população se achassem mais motivados ao desenvolvimento de ações realmente eficazes para a consecução das quais foram investidos. Ações que efetivamente fossem ao encontro do que anseiam os contribuintes.
Estão nesse caso os diretores do Banco Central, essa espécie de agência reguladora do sistema bancário. Por falar em agências reguladoras, tivemos recentemente a implicação de dois de seus diretores máximos em atividades ilícitas, segundo informações veiculadas pela imprensa. Refiro-me à ANA (Agência Nacional de Águas) e à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), dirigidas pelos irmãos Paulo e Rubens Vieira, nomeados pela Sra. Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo.
Não que os diretores do Banco Central tenham cometido qualquer tipo de ilícito. E mesmo que tivessem cometido, na verdade nada se poderia provar. E nós, desatentos contribuintes, vamos sempre ficar ao sabor das especulações que nutrimos em função do que lemos nos jornais, nas revistas ou assistimos nos noticiários das TV’s.
No entanto, a julgar pelo tratamento que nos disponibilizam nas agências bancárias, vamos vendo o que poderiam fazer e não fazem os responsáveis pelo Banco Central.
A impressão que temos é a de que os bancos adoram filas. Adoram ver suas agências cheias de gente. E a gente tendo que esperar, às vezes, por mais de quarenta minutos para que sejamos atendidos, a despeito do limite que por lei tenha sido estabelecido. Esse limite normalmente não é respeitado. E isso acontece porque o número de boxes destinados aos caixas nunca está completo. Se existem cinco ou seis, apenas dois ou, no máximo, três funcionam. O que faz com que não tenha fluxo o atendimento e a agência fique congestionada. A contratação de mais funcionários, o que poderia ser exigido pelo Banco Central (BC), certamente seria a solução para o problema. Mas como pode representar prejuízo para o banco, o BC nem pensa em adotá-la. Na verdade o BC é mais parceiro dos bancos que de nós.
Isso tudo às vezes para o pagamento de uma simples conta. O que nem sempre se pode fazer nos caixas automáticos. Que recusam o seu cartão, ou a sua senha ou só permitem que o pagamento seja feito dentro de determinado limite. O que se dá também com o saque. O que faz com que você acabe voltando ao caixa.
Uma das coisas mais incríveis se dá com o horário de funcionamento das agências bancárias. Todos nós trabalhamos de 9 às 17h, via de regra. O banco funciona de 10 às 16h. E não há santo que demova as autoridades desse procedimento. Nada interessante para a população, na medida em que quase todos os pagamentos são feitos no banco. O que por si só representa um elemento da maior importância na obtenção de resultados sempre positivos, a cada ano comemorados efusivamente pelas instituições bancárias. O banco, de uma forma ou de outra, fica com todo o dinheiro da gente.
É interessante notar também que as agências bancárias estão situadas em locais de grande concentração pública. Não para o atendimento ao maior número de pessoas, mas para a garantia de que tenham mais lucratividade. Na medida em que, de um modo geral, todos devemos procurar uma agência para fazer nossos pagamentos, por que não situá-las em local de fácil acesso e melhor possibilidade de estacionamento?
Então somos mal atendidos, pagamos taxas abusivas para mantermos uma conta aberta, enfrentamos filas apreciáveis, seja nos caixas eletrônicos ou não, dificilmente conseguimos falar com um dos muitos gerentes da agência, ou porque estão todos ocupados o tempo todo ou porque não estão nas salas onde deveriam se encontrar – e a nobre agência reguladora do sistema não se pronuncia.
A conclusão a que se chega é a dos nossos dias, ou a de sempre: continua-se dando a maior importância ao dinheiro e a menor importância às pessoas. Para quem dá gente caçoa, soa bem.
Rio, 09/01/2013