Os desajustes das tribos
OS DESAJUSTES DAS TRIBOS
Eu não sou saudosista nem me considero retrógrado, mas às vezes comparo o hoje com os dias do passado e não posso me furtar de uma ponta de saudade de certas coisas que antes eram melhores.
Há dias fui ao aniversário de um jovem, onde a maioria do público estava numa média de dezoito anos de idade. O descompasso começa pela aparência da garotada. Ao invés de uma apresentação pessoal aprimorada, como exigem certas circunstâncias sociais, parece que eles estão numa competição para ver quem vem mais desarrumado. Assemelham-se aos “existencialistas” dos anos 50.
Depois começou a música. Música, aquilo? Era um festival de ritmos fortes (que alguns chamam de “música martelo”, ou “bate-estacas”) e luzes alucinógenas, tudo em um volume de altíssimos decibéis, o que impede as pessoas de conversar. É por isso que os professores se queixam que os jovens de hoje parecem estar surdos. A dança, sob tais estímulos, é algo desencontrado, onde dançam separados, cada um faz sua coreografia, que mais se assemelha á aeróbica do que uma dança propriamente dita. Como dançam separados, eles se agrupam em tribos, muitas vezes separados por sexo ou outras afinidades. A gesticulação de suas danças - já ouvi alguém afirmar – parece um bando de micos que levou uma forte descarga elétrica. Para não perder tempo, eles não vão à mesa ou à copa, por isso bebem na lata ou na garrafa, em pé mesmo, na pista.
Como a música é agitada eles não se aproximam para dançar. Diferente do passado, em que a música era melódica, onde mão na mão, o rosto colado e as palavras sussurradas ao ouvido criavam o clima romântico, como o vestibular para uma relação mais duradora. Hoje, os rapazes não vão à balada, que eles chamam de “festa”, para namorar, mas para “pegar mulher”, o que vai enriquecer seus currículos de “pegador” com todas as implicações deletérias dessa expressão. Assim não há como criar arquétipos de afetividade.
Na mesma semana li em um jornal uma reportagem sobre a juventude, que é avessa ao casamento, à união duradoura e ao compromisso familiar. A eles importa em “ficar”, manter uma relação pragmática, temporária e superficial, tudo perfilado a um hedonismo onde vale o prazer sensível, a sensualidade e uma satisfação egoísta de vaidades e instintos. As uniões são frágeis e os casamentos – é até uma temeridade falar neles a um grupo de jovens – vulneráveis à modernidade e à pretensa liberdade que muitos querem ter. É por isso que as estatísticas de divórcios se avolumam. Perguntada, uma senhora casada há quarenta anos respondeu: “Nosso casamento dura porque a gente se acostuma a colar o que quebra, ao invés de jogar fora”.
Quando a gente comenta o assunto aqui enfocado, em auditórios de pais, o que se escuta é a evasiva “é... eles hoje são assim...”. Claro, são assim porque não aprenderam, em seus lares e famílias, a construir.