Dia disso, dia daquilo...

DIA DISSO, DIA DAQUILO...

É interessante notar como no Brasil existem datas para os mais absurdos eventos, como dia do vizinho, da abreugrafia, do orador, da saudade, do orgasmo, do mágico, do corno, do turismo, da “mãe Joana”, do circo, nacional do aço, do sol, da recordação, do tênis, do solista, do caboclo, dos discos voadores, do progresso, do trovador, do solteiro, da prostituta, das aves, da anestesia, da lembrança, e outras abobrinhas.

Há também as datas consagradas, como dos eventos históricos, e também comemorativas às profissões liberais, dos fatos religiosos e aos natalícios e martírios dos santos e heróis nacionais.

Alguém talvez possa atribuir tantas datas, algumas meio tendentes ao ridículo, à conta de nosso modelo lusitano-tupiniquim. Mas não! É imperioso olhar os calendários norte-americanos e europeus como eles cultuam datas fúteis, coisas sem nexo e desconectadas do senso comum, como, por exemplo, a festa celta do “dia das bruxas”.

Como fui gerente de banco (Caixa) por quase trinta anos, me transformei em adepto da escola da reciprocidade, onde é dando que se recebe. Antes eu telefonava, mandava presentes aos profissionais que me atendiam, depois cansei. Por muitos anos eu telefonei ou mandei mensagens a um padre, da Zona Sul do Estado, por ocasião do aniversário dele. Como deixei de fazê-lo ele me “cobrou”. Falei em reciprocidade, ao que ele aduziu que tinha muitos amigos e não podia manter contato no aniversário de todos. Fiz-lhe ver que, embora tivesse muitos amigos, não teria mais que dois ou três por mês, para se lembrar e ser gentil. Para muitos, além das mensagens eu mandava presentinhos, e de muitos não escutei um “muito obrigado”. Fechei a porta! Mesmo assim, há profissionais aos quais devo eterna gratidão.

Pois há dias um conhecido me ligou, reclamando que, depois de muitos anos eu deixei de cumprimentá-lo pelo transcurso do dia da sua atividade profissional. Fiz ver ao magoado que eu estava ingressando na fase do toma-lá-dá-cá. Ele que reclamava da minha “desatenção” com seu dia, nunca me ligou no meu aniversário (30 de abril), “Dia do Administrador de Empresas” (9 de setembro), do Teólogo (30 de novembro), do Filósofo (16 de agosto) nem do Economiário (21 de maio). Ainda se fosse um trabalho “apostólico”, prestado generosa e gratuitamente, como sou devedor a alguns, tudo bem, mas como a maioria dos serviços que me foram prestados por advogados, dentistas, médicos, psicólogos, mecânicos e engenheiros sempre foram remunerados, em cash ou pelo meu plano, não me vejo na obrigação de maiores compromissos.

Por fim, a reciprocidade nas relações humanas é tudo uma questão de cortesia, atenção e respeito. Não se trata de celebrar o dia disso ou daquilo, mas recordar uma pessoa ou acontecimento que toca no nosso coração.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 01/12/2012
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