Formaturas
FORMATURAS
Eu sou meio avesso a formaturas. Isto que eu sou do tempo antigo, em que o Colégio das Dores, em Porto Alegre, realizava as colações de grau do ginásio, no Theatro São Pedro, com direito a pompa e circunstância. De lá para cá eu tenho fugido, na medida do possível, dessas formaturas maçantes, discursos, terno-e-gravata, choro e sessões intermináveis de fotografias.
Hoje em dia fazem formaturas para tudo, desde o jardim da infância, pré-primário, curso de bordado, bolos e confeitos, etc. Numa formatura sempre tem alguém que quer se promover: ou a direção da escola, ou a vaidade dos pais dos que querem expor seu status, ou a ilusão dos jovens formandos.
Eu já tive vários encontros com as minhas formaturas, onde por razões particulares preferi não comparecer. Inclusive numa pós-graduação, além de rejeitar a função de “orador-da-turma”, ainda sabotei para que a festa não acontecesse. Perdoem a palavra e o conceito, mas acho formatura uma “babaquice” sem par. O formando, via-de-regra não está nem aí, quem “bota pilha” na situação são os pais, para mostrar ao mundo que tem um filho “doutor”. Há tempos fui (obrigado) a uma formatura, onde todos os formandos (quarenta e tantos) falaram, a maioria num clima de deboche e superficialidade, que durou mais de duas horas.
De outra feita fui a outra colação de grau, em uma universidade pública, onde o orador meteu o pau na faculdade. Na réplica, o paraninfo chamou todos de inconseqüentes. De fato, não é lícito a um bando de vagabundos, que estudam seis anos de graça, à custa do povo que paga impostos, e depois falam mal do sistema que os alimentou e formou. Eu sou de opinião que quem se forma numa universidade pública deveria, para reembolsar as benesses recebidas, prestar um ano de serviço comunitário, gratuito, em regiões ínvias, como Amazônia, Pantanal, ou agreste nordestino.
O contra-senso nacional é que cursam as universidades gratuitas quem pode pagar, e quem não pode que se vire para cursar as particulares.
Quando era professor universitário, apenas uma vez aceitei ser homenageado. Era uma turma pequena que se formou com dificuldade. As escolhas de paraninfo, em geral ocorrem por leilão. Como acontece em muitos lugares, a turma escolhe três “notáveis”, de onde um será eleito, de acordo com a doação financeira que fizer para a festa (ou a viagem) dos formandos. Desses esquemas eu sempre me evadi.
Quando me convidam para uma solenidade de conclusão vou logo informando minha aversão por formaturas, mas para amenizar a recusa, peço endereço e horário da festa, se é que vai haver, para desfrutar dos comes-e-bebes patrocinados pelos anfitriões. Aí sim, vale a pena!