A Internet, as Redes Sociais e a Juventude

A INTERNET, AS REDES SOCIAIS E A JUVENTUDE

Há cerca de vinte anos, era moderno falar site, e-mail, dizer que tinha “endereço eletrônico” ou trocar essa informação com amigos, colegas, namoradas, etc. Isto hoje, em face do progresso é coisa superada, em face das inovações tecnológicas que a cada dia nos surpreendem com avanços antes impensáveis.

O Brasil é hoje considerado o país mais sociável do mundo. Aqui temos um ponderável número das chamadas “redes sociais”, onde podemos destacar Orkut, Facebook, Twitter, Linkedin, Meadiciona e outras. Tudo começa pelo número de contatos: a média de amigos virtuais no mundo é de 195 pessoas por usuário. Aqui, é de 365. Segundo o IBOPE, mais de 80% dos internautas tem perfis em redes sociais. O Orkut tem 72% dos usuários no Brasil. Também somos os maiores no MSN, o comunicador da Microsoft. Segundo pesquisas, a participação em redes sociais é igual em todas as classes sociais. Jovens das classes C e D, que não tem computador, usam as lan houses para entrar no Orkut da sua turma ou do seu bairro. Seu primeiro contato com a internet hoje é pelas redes sociais.

Em oposição a tantos problemas que essa exacerbação provoca, há que se salientar a velocidade da circulação das notícias. O que vamos ler no jornal de amanhã ou assistir no telejornal da noite, é possível tomar conhecimento on line, quase na hora que ocorreu o fato. Correm as notícias celeremente, mas, não-raro, as fofocas, calúnias e informações distorcidas.

Essa facilidade de comunicação ajuda em muita coisa, mas de outro lado, serve para disseminar racismo, pornografia, violência e outros crimes, sem falar na geração de pessoas fúteis e desestruturadas. Na semana que escrevi este texto, a mídia noticiou a realização de um crime encomendado através do Facebook.

Antes eram os celulares. Quando surgiram eram um xodó! Hoje, o que menos se usa é o telefone, pois a gama de ofertas tecnológicas (inclusive como máquina de fotografia digital) faz com que as pessoas, a partir de crianças de pouca idade, passem o dia inteiro com ele nas mãos, descobrindo coisas. Tive uma empregada que tinha dois aparelhos, com quatro chips e atendia em média umas dez ligações por dia. Ele fazia faxina com uma mão e segurava o celular com a outra. O fato é que o celular e a Internet se tornaram hoje um apêndice das pessoas, especialmente dos jovens. É raro quem não os tenha. É indiscutível que os celulares modernos, de ultima geração, são objetos de utilidade, mas em muitos casos, se tornaram motivo de ostentação e vão virar (ou já estão virando?) uma paranóia.

Ontem fui a um consultório médico. Enquanto a senhora fazia a ficha com a atendente, as duas filhas digitavam freneticamente seus aparelhinhos, buscando aquela “comunicação com o mundo” que o fabricante apregoa, a qualquer preço. Dois namorados davam mais atenção à Internet que fluía por seus celulares, do que um ao outro. Quatro rapazes estavam na praia, sentados em suas cadeirinhas, com os celulares da mão, fones ao ouvido: davam mais atenção ao que passava na tela do que à paisagem e às meninas que desfilavam pela orla.

Hoje é comum se ver, em vários lugares públicos, pessoas, adultos, jovens, idosos, conectados, através de celulares, laptops e tablets. Muitos tem dificuldades em se comunicar com amigos e parentes, mas não dispensam os contatos com os parceiros da web. Na sala de aula, os professores tem dificuldade em fazer que os jovens troquem seus celulares pelo conteúdo das matérias. Há pais que se queixam que a garotada não abre mão desse tipo de contato nem na hora das refeições. Hoje há quase um computador por família, e 2,5 celulares por pessoa. Isso proporciona uma comunicação incrível com o mundo virtual.

De outro lado, o Google, um subproduto desse processo cibernético, faz com que os estudantes deixem de recorrer aos livros e enciclopédias para adquirirem a informação pronta, sem crítica nem comentário, que dispensa a leitura especulativa, bastando que o leitor faça uma “colagem” do texto da página e o aplique no trabalho que vai realizar. O exercício de pensar, de estabelecer juízos e de tirar conclusões pessoais vai aos poucos sucumbindo à idéia geral da coisa pronta e dos critérios uniformes. Eu entendo isto como um perverso processo de manipulação das mentes, especialmente dos jovens. Só o futuro vai dizer os lucros e as perdas dessas práticas.

Filósofo e Doutor em Teologia Moral. Escritor, com mais de cem obras publicadas no Brasil e Exterior, entre elas “A crise da ética” (Ed, Vozes, 3ª. edição, 1999) e “Curso Básico de Comunicação” (Ed. Recado, 2010).