Mocinhos e bandidos
Mocinhos e Bandidos
A dialética dos filmes de faroeste de nossa adolescência sempre nos remeteu à divisão do grupo social em mocinhos e bandidos. Mais tarde, a filosofia ensinou, através das teorias do maniqueísmo a enxergar tudo sob a ótima do bem ou do mal, do certo ou do errado.
Recordo os “mocinhos” da década de 40/50, Rocky Lane, Roy Rogers, Tim Holt, Hopalong Cassidy, arrumadinhos, bem barbeados, destemidos e paladinos da justiça, sempre lutando corajosamente contra os “bandidos”, sujos, barbudos e desordeiros. Eram personagens politicamente corretos, patriotas e corajosos que não temiam assaltantes ou índios. Acho que esses modelos da ficção ajudaram a forjar parte do imaginário da minha geração.
Depois veio a ambigüidade. John Wayne, Robert Mitchum, Dean Martim e Clint Eastwood e outros, eram heróis, mas alguns sujos, violentos e barbudos, com alguma mácula no caráter, como o medo, a bebida, arranhões à ética, passado de pistoleiro, etc. Há casos em que o Xerife se tornou fora-da-lei e vice-versa. Talvez por causa dessa instabilidade, a preferência por esses filmes decaiu. Por fim, para completar, o cinema nos apresentou dois caubóis gays em Brockeback Mountain.
Pois na semana que passou, ao ler nos jornais e ver na tevê alguns desdobramentos da greve do pessoal da Polícia Rodoviária e Federal eu fiquei me lembrando das controvérsias ideológicas entre mocinhos e bandidos, sem saber quem-é´quem. Há momentos em que o “mocinho” assume o papel do vilão.
Em princípio eu sou contra greves, especialmente aquelas que abranjam serviços mais ou menos essenciais. Acho que greve é a arma do incompetente. Tive um chefe, no tempo da Caixa, que dizia: “Não está contente? Acha que ganha mal? Demita-se!”. Agora, o que é inadmissível é a atitude de bloquear estradas, por exemplo. Se o pessoal do MST faz isto, vai preso, apanha, é chamado de baderneiro e é punido pelo crime de obstruir a via pública. Os protestos dos caminhoneiros foram contidos através de ameaças e pressões, por parte das “autoridades”. Se, num aeroporto, alguém atrasa a hora de um embarque, é retirado à força pelos federais e criminalizado. E quando eles praticam esses gestos ilícitos, quem tem a coragem de denunciá-los? Essa história de greve em serviços públicos no Brasil, a partir do Judiciário, traz um risco: a população, acostumada com a inércia de certos segmentos, é capaz de não se aperceber que estão em greve. Então, para chamar a atenção, alguns inventam certos protestos bizarros, como os que agora estamos presenciando.
Além disto, num país de professores, bancários e policiais militares com salários achatados, uma remuneração a partir de 5 mil e poucos reais, por estar acima do mercado, não justifica greve alguma.
Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral