Padres que abusaram de mim
PADRES QUE ABUSARAM DE MIM
Quando eu era muito jovem, sem consciência, sem liberdade, sem ser capaz de me defender, um deles – pelo Batismo – me fez um filho de Deus, herdeiro da vida eterna templo do Espírito Santo e um membro da Igreja, eu nunca poderei perdoar-lhe isso, tamanho o bem que ele me fez!
Outro insistiu em meus anos de adolescente, e usou contra mim de toda violência para incutir a minha alma o respeito pelo nome de Deus, a absoluta necessidade da oração diária, a obediência e reverência aos meus pais, o amor pelo meu país e me ensinou a utopia que é não mentir, roubar, não falar mal dos outros, perdoar e todas estas coisas que hoje nos fazem tão loucos e ridículos...
Outro me falou referindo-se ao Espírito Santo, que Ele deveria vir para completar a obra iniciada no Batismo, que eu iria precisar de Seus dons e dos seus frutos! Que eu teria de contar com seu auxílio, porque eu precisaria defender minha fé, como um soldado. Que audácia de falar em termos tão belicosos! Disse-me que era hora de preservar a minha alma das coisas do mundo, que eu deveria ser nobre, leal e honesto...
Outro abuso que um fez foi me dando livros para ler! Já não eram suficientes para ele os seus conselhos, dizendo que deveria fixar os olhos na eternidade e viver como peregrino aqui na terra! E quem agora vai tirar da minha cabeça os quatro Evangelhos? "As Glórias de Maria?", "A Imitação de Cristo? "Confissões?; etc.! Quem será capaz agora de me livrar de todos estes tesouros que me marcaram para sempre?
Outro abuso deles, na minha ignorância foi me mostrando coisas santas que eu não conhecia! Outro destes padres não falava, mas sua vida virtuosa me tornava cada vez mais inclinado a imitá-lo. Havia alguns que se aproveitaram de mim em momentos inesperados e corrigiram-me, me incentivaram e rezaram por mim.
Outros, quando eu estava em um círculo vicioso do qual não conseguia sair, insistiam com a minha natureza caída e levando-me para receber Jesus Cristo em seu Corpo e Sangue, para assim poder resistir aos ataques do inimigo, para fortalecer-me na minha fraqueza e santificar-me em todos os dias mais e mais.
Embora para qualquer pessoa que leia esta queixa, pareça que já basta e que já nada mais pode ser feito por mim, eu diria ainda que os abusos continuaram a acontecer na medida em que eu me tornava mais idoso. Cada vez que eu conhecia um padre, ele se aproveitava de mim com métodos renovados, me apresentando relíquias, imagens, água benta, terços, bênçãos e orações de todos os tipos. Com isso tudo eles me armaram com tão grandes benefícios, que isso fez atingir o limite da minha resistência.
Eu quero deixar bem claro a todos, essa injustiça cheia de perversidade, pois preciso reagir nos termos desta denúncia. Porque eu sei que alguns deles estarão esperando por mim adiante, para continuarem com esta maldade, sentados quem sabe em um confessionário, ou aparecendo ao lado da minha cama quando estiver morrendo. E vão querer continuar abusando de mim com suas orações, para que a minha alma conheça enfim os fundamentos de misericórdia.
Associo a minha voz a de todos aqueles que tenham sido vítimas de tais abusos e se sentiram ultrajados por essas pessoas. Pois sei que a outros eles uniram no matrimônio, de outros eles descobriram a vocação, a outros eles ajudaram até materialmente, ou ainda abrindo seus corações para os tremendo segredos da miséria humana.
Vamos tomar cuidado, e lidar seriamente com todos estes padres! Nunca lhes demos os nossos dados e nunca olhemos em seus olhos! Não os consultemos absolutamente em nada, e jamais sigamos a nenhum dos seus passos! Porque pode acontecer então que corramos o risco de um dia cair em suas armadilhas e um deles vir a salvar nossa alma para sempre.
Traduzido do espanhol por Antonio M. Galvão.