Dia do orgasmo
Dia do Orgasmo
Antônio Mesquita Galvão
Sem justificar a origem, a mídia aponta o dia 31 de julho como “dia do orgasmo”. Ora, orgasmo é uma coisa que faz parte da vida das pessoas, e como tal, não carece de programação. Especialistas afirmam que o prazer influencia a produção de serotonina e dopamina, substâncias que acalmam o cérebro, espalhando uma sensação de bem-estar por todo o corpo.
Muitos tornam o orgasmo uma coisa complicada, ponto crucial das relações entre um homem e uma mulher. Saber que é capaz de proporcionar prazer ao outro, a ponto de vê-lo perder o controle é algo que excita, sendo uma ponderável massagem na auto-estima.
Uma mulher que não dá a resposta esperada é uma porta aberta à infidelidade e até à separação, que tem como causa problemas dessa ordem. Essa “cobrança” masculina gera uma obsessão nas mulheres, fato que é agravado com a maneira superficial e simplória com que as revistas de variedades tratam o problema, criando aquilo que se chama “ditadura do orgasmo”, ou seja, as mulheres querem experimentar essa sensação, a qualquer custo, e isto acaba provocando traumas com conseqüências imprevisíveis, para elas e para a relação. A idéia fixa, o “custe o que custar” são fatores de bloqueio e de retração.
Há casos em que a patologia se situa na linha do psicológico. O que às vezes prejudica é o folclore, em geral criado pela mídia, em que a artista tal conta que teve um orgasmo assim-e-assado, que escutou sons de sinos e que a cama tremeu como uma base de lançamentos de foguetes. Pura fantasia! Conheço o caso de uma garota que disse para a mãe: “transei com o Paulinho, foi minha primeira vez, e não senti nada... será que sou anormal?”. Não, ela não é anormal, só mal preparada.
Algumas mulheres se enchem de expectativas, se vai dar, como vai ser e acaba não dando em nada. Na verdade, o orgasmo feminino depende muito – ou quase que exclusivamente – do parceiro. Não se trata de quantidade (dimensões ou freqüência), mas de qualidade. Essa qualidade passa pelo carinho, pela paciência, deixar à vontade, dar segurança, não cobrar nada, nem comparar. É uma coisa normal que deve acontecer com naturalidade, sem forçar e sem a pressão da expectativa. O orgasmo, especialmente o feminino, nada tem a ver com a procriação. É uma questão de puro prazer. A esse respeito, já ouvi uma conceituada teóloga afirmar que Deus deu ao ser humano, homem e mulher, a capacidade de orgasmo, para fazê-los sentir um pouco do prazer da Criação.
Entendo que – como as demais datas que se festeja – criar um dia para o orgasmo é bobagem. Quando um casal se ama, se conhece, se deseja um ao outro, e tem resolvidos seus traumas e problemas, todo dia é dia. É só querer... Mesmo assim, 31 de julho é o “dia do orgasmo”. Portanto, programe-se.
Escritor e filósofo