Carta 009 - Espaço para os leigos
Espaço para os leigos
Uma leitora do interior do Rio Grande do Sul reclama que
gostaria de fazer mais em sua comunidade, mas falta espaço
aos leigos, naquilo que ela classifica de uma Igreja
demasiadamente hierárquica, machista e clericalizada.
Prezada amiga,
uma leiga com inquietação pastoral,
Eu concordo com você: acho que há muito pouco espaço para o trabalho dos leigos, exceto naquilo que eu chamo de “atividades de sacristão sênior”, ou seja, tare-fas comuns que qualquer um pode fazer, como passar a caixinha das ofertas, ajudar a distribuir a Eucaristia, apagar as velas depois da novena, lavar pratos nas festas da paróquia e dar palestras nos encontros dos movimentos de leigos, etc.
Penso que enquanto o clero não dividir atividades mais consistentes e abrir mão de tanto clericalismo e liturgismo não teremos uma Igreja no puro sentido de uma comunidade. Falta de espaço para leigos existe em todo o lugar; não permitem, por exemplo, que leigos dêem bênçãos (em objetos, casas, etc.), façam pregações em novenas e romarias, e não dividem poder e autoridade, não acolhendo a ordenação de diáconos. Existem hoje, nas nossas paróquias, muitas coisas que os leigos podem, sabem e deveriam fazer e não lhes são confiadas pela “hierarquia”, talvez com medo de dividir a autoridade ou perder o poder.
Esta sua queixa de reducionismo dos leigos é uma característica da Região Sul, fruto de um clero de formação ítalo-germânica, onde a delegação das atividades importantes passa longe. Eu morei no nordeste (Paraíba) e lá os leigos têm muito mais espaço que aqui. Lá é facultado aos leigos, fazer pregações, realizar batizados e até casamentos (quando as mães das noivas concordam... risos). Na Irlanda um país de raízes católicas está acontecendo um movimento dos leigos, que já preocupa o Va-ticano, contra o clericalismo exagerado, a ponto de os leigos dizerem “não queremos mais padres”. Nem tanto ao mar nem tanto à terra...
Parece-me que em sua cidade a coordenação, o referencial da atividade dos lei-gos é um padre... Ora, porque não deixar que os leigos administrem suas atividades e sejam – como preconiza a própria Igreja – protagonistas e senhores da sua história? Por que os “conselhos de leigos” não têm voz? Será que precisam ser jungidos e tute-lados pela hierarquia? Hoje, mais do que nunca, os leigos estão buscando formação teológico-pastoral. Essa busca é vista por muitos, padres e beatos, como uma intro-missão e uma ameaça. Porque não dão mais espaço aos leigos? Suas queixas estão repletas de razão! Para quê, uma pessoa como você, estuda teologia, compra livros, frequenta cursos e participa de seminários para depois se tornar um “sacristão de luxo”? Oremos para que o Deus da luz mostre o caminho dos seus projetos a todos.
Eu encerro acolhendo seu desabafo e dando razão à sua indignada queixa, le-vantando uma questão que já ganha corpo: Como falou o mestre (foi meu professor na Paraíba) José Comblin: Será que a propalada falta de vocações sacerdotais não é um sinal de Deus para uma Igreja demasiadamente clericalizada?
Um abraço fraterno.
Saudações De colores!