CHURRASCO DE GENTE

Por Carlos Sena
 
Pra que manter gente viva, se mortas elas andam nos parques e tomam drogas e bebem e bebem e tomam drogas e são drogas? Por que mantê-las vivas? Por que enfear o planalto central com gente tipo índio e mendigos se espalham e dormem em seus jardins? Oh jardins suspensos da “Babilônia” em que colônias te escondem diante de tanto mal? Há um plano, há um alto, há um negro, há um índio, há torpor infindo nessa carnificina que nem Roma, incendiada, aprovaria... Churrasco de gente, espetinho de índio na capital fede, fede federal. Oh ratos dos porões dos poderosos, porque sois mais resistentes do que o índio Galdino? Tua “piscina continua cheia de ratos”, como diria Cazuza de vivo fosse. Oh carta, carta que a carteirada não impede tua conchamblança. Carta magna que a nação proclamou cidadã – vilã que a cidadania não garante nem da justiça ergue a “clava forte”! Oh, carta magna que nos rege, por que não cobres com teu manto esse borrão? Refrão da vida banana, banalizada pelas chamas da churrasqueira humana que assola Brasília como nos tempos da pedra.

Por que manter gente viva, se mortas elas andam em busca de um lugar pra cair e ser notícia da Globo? Fico pensando: por que ela, a Globo, não botou no BBB os mendigos sendo incendiados? Que diferença faz se ela o faz em vida no campo da moral? Incendeia jovens que vivos vão morrendo pela falta de talento para ser famosidades depois da casa deteriorada...

“Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil!” – quanta ironia em nosso hino no parir dos destinos dos filhos que a puta não pariu. Melhor que fossem filhos dela, posto que eles estão locupletados nas salas luxuosas rapinando, rapinando. A pátria desce enquanto churrascos de gente sobem pros céus dos nossos desatinos.

A justiça vendeu a venda dos olhos dela? Ou foram os filhinhos de papai que a deixaram caolha em benefício próprio? Auriverde pendão da minha terra que a brisa do mar beija e balança, haverá ainda beijo? Oh brisa dos nossos mares, onde estais que não mareias as argolas de ferro que nossa justiça mordaça? Afinal, o mofo da cadeia não serve para encarcerar nossa esperança... Até que outro índio ou outro mendigo seja incendiado no traçado que Oscar traçou para o nosso infortúnio.