PORQUE JAMAIS DEVEMOS DISCUTIR A RELAÇÃO

PORQUE JAMAIS DEVEMOS DISCUTIR A RELAÇÃO.

Ou ainda: como a vida pode ser bela além do casamento para ambos.

Uma das coisas mais detestáveis é a maldita conceituação de “discutir a relação”. Existe pior expressão do que essa? Relação não se discute. Relação se constrói com a participação dos envolvidos, especialmente quando nos referimos à relação conjugal. Em uma relação não existem os problemas de um e os problemas do outro. Existem apenas os problemas comuns e que devem ser resolvidos pela iniciativa de ambos. Devem haver concessões e limitações que não abusem a liberdade individual de cada um.

Aliás, importante ressaltar-se que sempre que em uma relação um dos envolvidos não respeita a liberdade individual do outro, temos uma situação extremamente agressiva, uma vez que sabemos muito bem que um indivíduo se sente violentado quando desrespeitam a sua liberdade.

Nos referimos àquela esfera de liberdade própria de cada um e sem a qual o sujeito perde a característica contida no termo individualidade, ou seja, suas nuances próprias que o fazem ser como são. Trata-se daqueles comportamentos, pensamentos, opiniões e traços sociais que o fazem ser uma pessoa própria, totalmente diferente de outra. Veja, dizemos diferente e não revestida de um juízo de valor, apenas diferente.

Frise-se, inclusive que é na diferença que está a maravilha do ser humano e do seu próprio existir. Cada pessoa adota uma postura frente ao conceito de existir. Ou seja, é um indivíduo dotado de gostos, opiniões e características próprias e singulares. Somos aquilo que somos, apenas isso.

Retornando ao nosso tema central, temos que a invasão na esfera de liberdade (e também de privacidade) de um indivíduo pelo outro além de danosa fere o próprio relacionamento, gerando consequências que, em alguns casos jamais podem ser resolvidas, constituindo-se em verdadeiros obstáculos à vida em comum.

Rotina, tédio e falta de desejo sexual são os principais sintomas para que se perceba que a necessidade de discutir a relação já foi para o saco de lixo há muito tempo. Nada pode ser mais vazio do que a rotina; fazer sempre as mesmas coisas e do mesmo jeito. Isso pode matar uma pessoa. Se procurarmos fazer as coisas de outro modo – respeitando, é claro a individualidade de cada um – construiremos uma relação mais saudável e afetivamente mais consistente.

Da mesma forma isso ocorre quando pensamos no tédio (aquela sensação de que nada está fluindo e de que o tempo, literalmente, parou de andar nos colocando à margem da existência). E o pior deste aspecto é que nos mesmos criamos uma situação tediosa para nós e para nosso parceiro (ou parceira), quando simplesmente não queremos mais discutir, falar, conversar ou ainda (e principalmente) rirmos juntos.

Acredito que a falta de risos e de bom humor seja uma das principais causas não apenas do tédio como também do fracasso de relações conjugais. Pensemos um pouco: como fica o mundo à nossa volta quando não conseguimos rir das situações pelas quais passamos e das quais extraímos uma experiência de vida mais rica e proficiente? A falta de bom humor é um risco eminente para que as relações conjugais acabem por desintegrar-se completamente.

O mesmo ocorre quando acontece o que eu defino como “falência sexual conjugal” que é aquele evento no qual o desejo e a excitação acabam por completo, deixando ambos em absoluto estado de frustração. Uma frustração que na maior parte das vezes acaba por degringolar em atitudes impassivas ou agressivas. Não podemos nos esquecer que sexo é energia que quando represada busca uma válvula de escape que, usualmente, acontece com a violência ou a impassividade.

Quando observa-se que a relação sexual do casal vai mal, não fica difícil de concluir que todo o resto vai de mal a pior. Parafraseando o slogan do BOSTON MEDICAL GROUP, “SEXO É VIDA!” (a exclamação é por minha conta). Se você não faz sexo com a esposa – e supondo-se que ninguém mais o faça por você – então, perceba que a sua relação não está mais na UTI, mas sim a caminho do necrotério.

Quando a tríade acima descrita encontra-se presente na relação conjugal, certo é que esta fica atritosa, fazendo com que todas as dores anteriores renasçam como feridas recém-abertas cuja secreção fere sentidos e sentimentos. Neste momento, tudo o que foi feito de bom ou de útil, se perde em meio à uma dor cuja repercussão supera qualquer expectativa. Discutir a relação em situações como essa não surtem qualquer efeito benéfico ou construtivo.

Vamos observar o seguinte: Uma relação constitui o encontro de interesses, ideais, pensamentos e vontades, revelando-se quase uma cumplicidade que une duas pessoas para além de uma situação individual (se perder-se de vista a privacidade de cada um) para uma situação conjugal (conjugação de esforços em rumo à um interesse comum).

Saliente-se que devemos nos esquecer – nesta análise – das definições jurídicas sobre o tema, uma vez que elas aplicam-se apenas em situações conflituosas, onde a cumplicidade já deixou de existir. E discutir a relação exige participação, intimidade, consensualismo, uma verdadeira conspiração positiva em que ambos os parceiros querem o mesmo resultado: a satisfação dos anseios de um em relação ao outro.

Discutir a relação é uma idiotice sem par porque além de não chegar a lugar algum, ainda cria uma situação de estresse emocional que vai crescendo até transformar-se em irritação insuportável para ambos os parceiros. É uma inutilidade criada pelo mundo moderno para que no momento da separação ambos possam dizer com tranquilidade que sua relação não deu certo por “incompatibilidade de intenções” (e não de gênios – mesmo os da lâmpada).

Tenha certeza você meu amigo que se a relação está sendo continuamente discutida, mas não revista, vocês não irão chegar a lugar algum. Neste estágio há mais dor e rancor que qualquer outro sentimento humano. Tudo dói, tudo fere, tudo machuca. As vezes, até mesmo o cumprimento matinal pode ser encarado como uma ofensa.

Não há como recusar-se a discutir a relação, mas o que se pode (e deve) fazer é discutir com um objetivo – apenas um de cada vez – buscando uma solução que agrade a ambos naquele aspecto e que dure ao longo de toda a relação. Pode ser discutir as próximas férias (até mesmo se elas serão usufruídas em conjunto ou não), como também pode ser uma revisão de conceitos sociais. O importante é que tenha um objetivo e vise um resultado prático. Se assim não for, esqueça.

Discutir a relação para evitar o tédio e a rotina não pode resumir-se apenas a frases de efeito; deve haver uma intenção de mudar para melhor (porque se for para pior não adianta nada discutir o que não tem remédio). E o sexo deve também ser discutido para melhor. Esqueça aquela história de fantasias sexuais, troca de casais ou outros recursos que a mídia afirma que tem dado certo. Você conhece alguém para quem esse recursos funcionaram? Se conhece me apresenta!

Sexo tem que ser bom, gostoso e que dê prazer a ambos. Caso contrário, uma masturbação talvez seja mais eficiente. E se você não está literalmente a fim de nada, declare isso sem qualquer medo ou pudor: a sinceridade somente dói quando não é verdadeira.

Se, de outro lado, você está muito a fim de transar faça-o como se fosse a primeira vez, e não a última. Trate sua parceira como uma amante que quer o melhor de você, pois o pior ela tem todo o dia. Não a trate como prostituta, isso não dignifica ninguém (e se algum amigo seu lhe disse o contrário, tenha certeza de que ele está transando com alguém, mas não com a esposa).

Saia do seu mundo tosco e sem cor e busque na esposa aquilo que você quer de fato. Se você perceber que não é com ela que você que encontrar algo novo, então meu amigo, esqueça a relação, abandone a discussão e vá ser feliz, como também deixe-a ser feliz. Permanecer ao lado de alguém que não se sente mais nada é tão ruim (ou pior) do que compartilhar o mesmo teto com sua sogra (aliás, sua esposa é sua sogra amanhã!).

Por fim uma última palavra: discutir a relação é uma droga (merda!), mas permanecer na relação apenas para discuti-la é um inferno sem fim para ambos. Não discuta a relação, faça parte dela e da solução para a sua melhoria. Troque seus conceitos ultrapassados de casamento que não dura não funciona pela ideia de que quanto mais vocês estão próximos melhor é para ambos.

Não se esqueça jamais de que você a escolher porque alguma coisa uniu um ao outro – e a contrapartida é verdadeira – e essa alguma coisa não pode ter morrido, apenas está perdida em algum lugar.

Todavia, se procurou e não achou, pense no seguinte: se a sua parceira (ou seu parceiro) tivesse morrido há um mês atrás, pare e pense como a sua vida seria hoje: se você concluir que seria melhor, seu casamento acabou. Caso contrário ele está mais vivo do que nunca, porque você não suporta a ideia de viver sem ela (ele).

E se tudo isso não funcionar, tenha certeza de uma coisa: você e ela tentaram, o resultado não foi o melhor: então pare de tentar e busque e melhor solução para ambos. Mesmo que essa solução seja a separação. Dói, mas dói apenas uma vez.

São Paulo, 19 de outubro de 2011.