C R I A N Ç A

“...sempre haverá cores, música, poesia. Sempre

haverá artistas atraídos pela luz” “Haverá sempre crianças que

amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens” Marc Chagall*

Para meu filho e a criança livre que vos habita

Crianças são fabulosas sempre. Despertam com entusiasmo às cinco da manhã, tiram do siso adultos, desafiando-os a recriar o tempo das coisas que realmente importam. Divertem e com seus alumbramentos; quando perdem o cordão do balão de gás não lamentam; assombram-se diante o fato dele subir e, algumas perguntam por que nós também não fazemos o mesmo pois não estamos amarrados a uma cordinha...

Espetaculares são ao acordar e com remelas nos olhos e cabelos desfeitos enroscam-se em nós balbuciando estórias que misturam fantasia e realidade.

Arrebatam quando pedem abraços, distribuem beijos e agarram-se aos nossos corpos firmemente. Pedem que as protejamos e o fazemos com orgulho e satisfação, sentindo-nos necessários e indispensáveis para que se sintam seguras e amadas e, desta forma lembrando-nos que estes cuidados são essenciais para que cresçam seguras e desenvolvam confiança no mundo e em si mesmas. Também adoram abraçar e proteger. Angustiam-se quando vêem familiares em desarmonia e ou em sofrimento físico bem como são sensíveis às demais criaturas devido à simbioses e a empatia que vai ser-lhes útil no convívio social.

Crianças são tesouro a serem descobertos. Diariamente produzem prismas de sensações aos que com elas interagem. São produtoras de pensamentos e sentimentos, desta forma recriam e dão nova roupagem à subjetividade do ambiente, pois estimulam a criança que nos habita

e ativa a memórias da infância que se viveu, ou seja há um reconhecimento, releitura do sujeito o que favorece o auto conhecimento, além do ganho extra de reparação e do rejuvenescimento que o contato com a inocência produz.

Como povos silvícolas, as crianças acham graça e não compreendem os porquês de certos comportamentos dos adultos e, tão pouco da pressa constante, visto que, vivem noutro tempo, penetram mundos paralelos. Seu tempo é aiônico desconhecem a tirania de chronos .

Locomovem-se com natural harmonia, indiferentes as engenhocas marcadoras de tempo gregorianas. Possuem a sagrada ignorância que a tudo aspira. Confiam que tudo é possível enquanto um adulto não esteja por perto a regrar e podar seu narcisismo que beira à “megalomania”, que fazem parte do processo de auto sustentação.

Crianças pequenas são literais e vamos aos poucos, introduzindo-as

ao universo de metáforas e signos. Aprendem a simbolizar e repentinamente surpreendem com insights fabulosos. Suas mentes desconhecem limites e são ávidas pelas alturas até porque para elas nós mesmos, adultos e irmãos mais velhos alcançam as nuvens, são " tão" grandes!...Em nossos colos almejam o topo das árvores, o teto

da casa. Incentivamos e as encorajamos jogando-as para o alto.

Adoram balanços neles pedem que as impulsionemos ao "mais alto" !

Crianças com sua curiosidade e dês preconceito sobre o mundo que

as cerca perguntam incessantemente e penetram o labirinto da mente adulta, dês construindo, dês fazendo o pseudo equilíbrio que a rotina

e conformismo provocou na mente corpo, formatado pelo passar dos anos, numa sociedade que exige respostas rápidas às demandas e

desta forma automatizando comportamentos.

Das perguntas e de sua ignorância a criança na primeira infância, traz imagens e em conjunto passamos a construir fábulas, caminhos em direção à edificação de outros patamares e alicerces de novos conceitos. Suas perguntas nos tiram do sério, mas elas as fazem com real necessidade de compreender a diferença entre seu eu e o outro,

o que não custam a entender. Já via algumas expressarem com muita propriedade; “... tu é uma pessoa e eu sou outra pessoa! “

Seus questionamentos nos desafiam na mesma medida que divertem;

“De onde vem a noite?

Para onde vai o sol?

Para onde vai o rio ele não vai voltar?

Quem botou sabão na água do mar ?

Tudo tem firinho né mamãe...

Amanhã é muito longe?

Já chegou amanhã?

Por que tomar banho ? Estou limpinho...

Onde está a mamãe do cachorro? E o papai dele? Ele não tem saudades da mamãe dele? Ele tem irmãos? ... ”

Crianças circulam entre os mundos e vêem o paraíso terrestre, desta forma oferecem-no a quem estiver atento e aberto...Toda criança é poesia e poeta!

Desejo a todos que tenham um feliz dia com as crianças que foram, são e serão ...

*-*

Nota- * O Artista Marc Chagall, permaneceu essencialmente um sonhador, lírico, mágico e ingênuo, usou o pincel para materializar a bondade e a inocência em cores maravilhosas. Disse certa vez em uma entrevista:

“Estou satisfeito” ...“Creio primeiro em D´us, no povo judeu, na sua continuidade, na pintura e na música de Mozart. A única coisa que desejo é fazer livremente o que eu quiser. Meu trabalho é minha satisfação. Quanto ao resto, tudo continuará. Haverá outros Chagall. Sempre os há, sempre haverá cores, música, poesia. Sempre haverá artistas atraídos pela luz” M. Chagal 06 Julho 1887 – 28 Março 1985

virgínia vicamf
Enviado por virgínia vicamf em 05/10/2011
Reeditado em 08/10/2013
Código do texto: T3260175
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