A FALTA QUE FAZ UMA PORTA E UMA CHAVE

A tragédia ocorrida durante a manhã do dia sete de abril de dois mil e onze, dentro da Escola Municipal Tasso da Silveira , bairro carioca de Realengo , deu ao nosso país uma posição negativa diante do mundo , profundamente dramática . Passamos a fazer parte da listagem do terrorismo , sob implicações patológicas mescladas por uma religiosidade severamente distorcida , reveladas numa carta de despedida . O jovem Wellington Menezes de Oliveira , vinte e quatro anos , tinha histórico de doenças mental e infecto contagiosa comprovadas – era aidético - , trajetória de vida afetivo emocional complicada , dolorida e, ainda , as fases da adolescência e juventude absurdamente mal administradas por ele . No entanto , pelo seu ato violentíssimo e cruel - até mesmo para com ele próprio -, Wellington não pode ser visto como uma vítima pela sociedade . Todos os que lá estavam , trabalhando e estudando , que presenciaram as cenas do massacre e que ajudaram , os adolescentes mortos e feridos , é que podem ocupar esta posição , acompanhados de suas famílias . Este é o fato , indiscutível .

Penso que chegamos num ponto onde todos devemos fazer uma análise fria , silenciosa , especificamente direcionada ao campo das responsabilidades das instituições do nosso governo , em suas conhecidas instâncias . Não sei dizer a quanto tempo deixou de funcionar , se é que chegou a isto algum dia , a Patrulha Escolar . Também não sei dizer até onde e o quanto poderia ter uma ação positiva dentro das escolas , colégios , faculdades e universidades , a presença da Guarda Municipal e das Polícias Militar ou Civil . O que eu sei - e vejo - , é que a grande maioria dos estabelecimentos escolares, também por suas próprias mecânicas administrativas - quase sempre incoerentes - ,vêm funcionando sob a mais completa ausência de atenção à segurança daqueles que precisam estar dentro deles e , da mesma forma , à necessidade de trafegarmos em suas áreas de entôrno , diariamente , indo e vindo . Cansei de ver ambulantes a venderem artigos desnecessários à manutenção da saúde , espalharem filipetas disseminando eventos rigorosamente perniciosos à educação das nossas crianças e jovens , portões ligeiramente encostados na tranca ou fartamente abertos , nenhum porteiro no local para vigiar e coibir , imediatamente , a entrada e a saída de alunos , como também a entrada de pessoas sob evidente comportamento suspeito , agressivo e não autorizadas . Em muitas destas oportunidades , também na qualidade de integrante da Comunidade Escolar da área - por conta dos meus dois filhos que na época eram pequenos -, eu mesma entendi de agir , de maneira impulsiva , avisando a direção e fechando os portões . E , acreditem . Também vi muitas campainhas instaladas , quebradas por diversas vezes e, por tal situação, permanecendo sem o devido conserto ou substituição. Eu lhes indagava, sempre, sobre os motivos . E o que ouvia , sob resposta , conseguia ser ainda mais estapafúrdio : “ O dinheiro da verba pública tem de ser poupado para ser aplicado onde faça melhor efeito” ; “já que eles quebram a toda hora , eu é que não vou perder tempo bancando a palhaça , consertando” ; “ nós já pedimos para a E/CRE mas ainda não veio ninguém aqui “ ; “ não temos verba disponível para comprar a campainha e nem para contratar serviço profissional para resolver “ ;

“ estamos apelando para a ajuda dos pais de aluno mas ninguém se habilitou até agora “ . Imaginemos , então , qual seria o trabalho de um diretor escolar tornado , por esta função , um mero servidor público , agindo muito aquém do que nos revela a nobre pedagogia . Sim , porque somente a pedagogia é detentora de nobreza . Qual seria o trabalho de quaisquer órgãos públicos, em se considerando as necessidades imediatas de um cidadão quando este as solicita , através dos meios dados a conhecer pelas mídias e à ele ditos como sendo disponibilizados . Para onde vão os milhares de Reais que nos arrancam dos bolsos , sob o formato dos impostos, das taxações e , ainda, como eles são deduzidos . De que maneira , efetiva , poderia ser combatida a violência quando esta apresenta o seu nascedouro de dentro das próprias instituições e corporações de governo , do mais baixo ao mais alto escalão , em desviando , sonegando , nepotisando , desequilibrando , corrompendo , extinguindo , exibindo-se , ignorando , fomentando , trabalhando para fazer desinteressar , desrespeitar , menosprezar , ridicularizar , burlar , ensejar arbitrariedades .

No ano de 2005 tivemos o Referendo . E por ter sido obrigada a responder àquelas perguntas - obscuramente mal formuladas , acho bom lembrar - posso dizer que não trago peso algum na consciência , posto que pedi iluminação a Deus para encontrar a que melhor transformasse o futuro do país onde nasci , vivo , trabalho , formei a minha família e cuido dos filhos. A rede mundial de computadores ainda consegue ter liberdade para espalhar tudo o que as mãos , os olhos , não executam mais ao vivo. Trata-se do império do comércio , da ganância pelos lucros , doa a quem doer . Ora , vítimas somos todos nós . Por todo o sempre e mais ainda agora , quando as portas nos foram arrombadas e a possibilidade com os cadeados se afasta, e se afasta. Já passou da hora de nos fazer-mos implantar à cultura da reclamação , da exigência .

Que Deus tenha piedade das almas que presenciaram , que ajudaram , que foram feridas e que partiram naquela manhã , em Realengo , como também das suas famílias . Ainda que uma daquelas almas tenha sustentado aqui , no plano físico , o nome de Wellington .

Josí Viana
Enviado por Josí Viana em 08/04/2011
Reeditado em 18/05/2011
Código do texto: T2896809
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