PRECONCEITO: DE QUEM É A CULPA?
Ainda me surpreendo comigo mesma quando me flagro assustada com certos atos de selvageria. Que bom!!! Fico muito, muito feliz por me saber humana. Sim. Só o estado de espanto é humano e me recuso a ser mera criatura que flutua entre a o ter e o ser. Nada! Quero, apenas, viver. Viver, no entanto, resume-se a surpreender, assustar, compreender, descobrir. E eu descubro, com espanto e horror, que o mundo ainda esconde surpresas postas em desalinho com o que se espera do homem da modernidade.
Alguns jovens entre 15 e 17 anos assustam o país ao espancarem, sem qualquer sentimento de piedade, rapazes que , supostamente, são gays. Mais de 4 contra um, apenas um. Acuado, humilhado, ferido no corpo e na alma. Não bastasse a intolerância do silêncio hipócrita de alguns, o grito em socos e pontapés. Os agressores são de classe média; aquela protegida por pais, leis, escolas. São os jovens que assistem, como se não prestassem atenção, à enorme demanda de crimes que se perpetuam e crescem por conta da impunidade. O fato é que “parece” que eles não prestam atenção, mas prestam sim e creem que podem também estar acima do bem e do mal. E eis a palavra de ordem: IMPUNIDADE.
Não tenho a receita para combater isso, muito menos me excluo da culpa nessa engrenagem da qual, mesmo relutando, faço parte. O fato é que esses meninos apostam nisso. Eles se perdem em seu mundo dourado e acreditam que NADA os molestará e deixam fluir o seu preconceito embutido e disfarçado. De onde trazem esse sentimento? Em que momento de suas recentes existências perceberam que ser diferente, é ruim, é pecado, é perigoso. Que modelos afinal eles seguiram? Sim, porque, como já tenho dito, palavras não educam, mas exemplos, sim.
É lamentável, doído mesmo, perceber que nós, adultos, pais e educadores, estamos falindo. Somos nós os exemplos deles. Somos os que os fazem acreditar que diversidade é algo que deva ser combatido com socos e pontapés e, talvez, com um “pouco de sorte”, com a morte. Ser negro, gay, nordestino ainda causa desejos de matar em alguns jovens neste “Brasilzão” de tantas misturas. Roubos, mal-tratos contra crianças, estupros, fichas sujas, não.
Precisamos urgentemente rever nossos conceitos e posturas. Precisamos endurecer para que nossos meninos percebam que há um limite. Precisamos acreditar na Escola que escolhemos para nossos filhos e estabelecer uma parceria séria, em que valha mais a figura do educador e menos a mensalidade que se paga. Uma parceria que permita que eles sejam punidos quando se fizer necessário e que a Escola aí seja a lei, os pais, os que respeitam essa lei e seus filhos, massa a ser modelada para mandar para o mundo cidadãos melhores. Precisamos nos reinventar e ter a coragem de nos olharmos bem no fundo e enfrentar a certeza de que atos bárbaros, cometidos por jovens em tão tenra idade são de responsabilidade nossa, sim. Como pais, educadores, representantes políticos. Um homem, independente da sua condição social, não urina na rua porque esse ato esteja no seu DNA. Ele o faz porque, um dia, alguém (Mãe, avó, tia, pai...) o induziu a fazê-lo, tornando-se, assim, algo banal.
As autoridades buscaram grupos de Neonazistas, Skin Reads, Os Carecas, enfim...Buscaram culpados em redutos doentes e malcheirosos; buscaram culpados no óbvio! Quem sabe não tenha sido algum grupo terrorista, ou mesmo muçulmanos nas cores verde e amarela! Mas foi com constrangimento que a polícia anunciou: Não! Eram jovens de classe média, bem nascidos, com endereço fixo, pais vivos, boa escola e ...preconceituosos.
Portanto, fica aqui a minha reflexão diante de crime tão indefinível. Algo que revela um preconceito cruel, vil, doente. Plantado por quem? Quando? Como? Não sabemos, mas imaginamos. E dormirei agitada, mas, de certa forma, em paz, pois ainda estou assustada, indignada, enojada. Isso significa dizer que ainda há “gente” dentro de mim.
ROZANA PIRES
20-11-2010