A quem a burrice interessar
Nascemos para sermos produtivos. Para todos os dias acordarmos e dizermos “Obrigado, mais um dia com saúde e posso ir à luta”. De nada adianta sermos saudáveis, sermos perfeitos de pernas, braços e mentes, se não usufruírmos destas qualidades que Deus nos dá.
Pecamos contra nós mesmos – todos os dias – quando nos anulamos de, ao menos, tentar vivermos melhor. De sermos melhores conosco. Como sintoma desta anulação com nós mesmos está o cansaço. Do corpo e da mente. Porque a canseira não é exclusividade de quem trabalha e estuda. Ou de quem estuda e trabalha. Ela também se manifesta nos ociosos.
Fazer nada, cansa! A pessoa fica mau humorada, os pés se arrastam, sente dores nas costas, possui um sentimento de inferioridade e – o principal – os olhos se tornam opacos.
Eles vão perdendo o brilho que antes se mantinha quando realizavam alguma tarefa. Enfim, quando eram alguém. Posto que só nos reconhecemos como este “alguém” ao sermos produtivos. Ao nos sentirmos úteis.
Não pense você que alegria e prazer são sinônimos de não fazer nada na vida. Este sentimento de “Ai, que bom que não tenho o que fazer hoje!” é realmente vivido apenas pelos que têm o que fazer. Não apenas hoje, mas todos os dias de suas vidas.
Manter-se prostrado em uma cadeira o dia todo e ali ficar, soa melhor como um castigo. “Não saia daí, hein! Comporte-se!”. Como as punições que eram aplicadas nos colégios, só faltando as orelhas de burro. Enquanto isso, assiste-se aos outros continuarem suas atividades. Aquele que ali ficara durante a aula, possivelmente foi repreendido por mau comportamento com base nas normas escolares.
Falta de atitude decente maior na vida é a de ficar parado. Tornando-se um mero espectador do cotidiano. Como se viver fosse um direito atribuído apenas aos personagens de novela. Pois quem não atua na própria vida é exatamente o que se tornará: um noveleiro que assiste nas telas o que não teve coragem, atitude, perserverança e, a própria vontade, de viver o real. “Deixe para os artistas as alegrias e dores que eu não tive a competência de vivenciar”. Cômodo, não? Quem está vivendo não está assistindo novelas. As novelas só são boas para emissoras, autores, diretores, produtores, elenco e patrocinadores.
De ônus e bônus vivemos. Escolhas. Decisões. Acertos. Erros. Sempre achamos que erramos mais do que acertamos. Mas só está errando quem está tentando acertar. Quem não quer se aventurar na vida, vai deixar os riscos para quem? Para os mocinhos e mocinhas, vilões e vilãs dos folhetins.
Não se iluda nesta inércia que você – às vezes até com certa ajuda de outros – criou. O ócio acaba lentamente com você. É natural o medo do fracasso. É normal fracassar. O que não é saudável é pegarmos nossas coleções de derrotas e dizer “Minha vida é uma merda!”. Pois até a merda não é de toda ruim. Ela serve como adubo.
Adube sua vida. Tenha forças todos os dias. Recomece sempre que preciso. Continue sua caminhada. Seja burro! Ao menos uma vez na vida, faça como ele. Pois o burro é muito inteligente. Ao invés de ficar parado, pensando e pensando, vendo a vida passar, ele faz melhor.
O burro pensa pouco. Age muito. Põe-se a trabalhar. Só não estuda porque não há colégios para burros.