EROS E THANATOS

MORTE X VIDA

No início do mês de junho, assisti a duas reportagens que me fizeram refletir. Duas realidades bem diferentes. Em uma delas vi a figura caricata do ditador Kim Jong-il (Chefe de Estado da Coréia do Norte) observando um desfile militar do exército da Coréia do Norte. Os soldados pareciam bonecos, gestos mecânicos, autenticas marionetes, conduzidos pelo “olhar” atento, porém insano” do ditador Kim Jong-il. O líder coreano ironicamente é conhecido pelos coreanos de “querido líder”.

Me chamou atenção aquele espetáculo bizarro , de um país que vêm realizando testes com armas atômicas, apesar da Coréia do Norte ser um país empobrecido e com um regime comunista decadente. O ditador norte-coreano pretende deixar a sua herança macabra para seu filho mais novo, como seu provável sucessor. Armas atômicas, fome e miséria provavelmente serão os restos deixados pelo ditador a seu filho e sucessor. Logo me lembrei de uma discussão que ouvi sobre o ser humano trazer consigo instintos de vida e de morte. Ou forças que nos impulsionam para o amor, a criação, e a vida e de outro lado levam a: morte, destruição e ao ódio.

A macabra figura do ditador norte-coreano Kim Jong-il, com os abusos cometidos contra a dignidade humana, com sua insana e patética busca de poderio militar enquanto a fome campeia entre os norte-coreanos simbolizam as forças do instinto de morte: Thanatos, Deus da mitologia grega que simboliza a morte.

A segunda reportagem me sensibilizou pelo exemplo doce, meigo e suave de Albertina da Silva, uma senhora de 65 anos, professora primária aposentada, mãe de 10 filhos. Dona Albertina dedica parte de seu tempo em uma maternidade pública do Recife. A atividade dela é encorajar, massagear, orientar, dar atenção as gestantes que aguardam o momento do parto. Ela é uma ”doula”, palavra grega que significa: “mulher que serve”.

E dona Albertina cumpre com maestria seu “ofício voluntário” de trazer um pouco de tranqüilidade e segurança em um momento difícil da vida das pacientes que chegam muitas vezes, com muito medo, crises de choro e muitas vezes sem ninguém para acompanhá-la.

A coordenadora da saúde da mulher do Recife diz que com a cooperação das doulas ocorre uma

“ aceleração no desenvolvimento do trabalho de parto e automaticamente uma redução no número de cesáreas.”

Dona Albertina no vídeo passa uma imagem de serenidade, equilíbrio, paz, enfim: amor. E esta reportagem contrasta muito com a primeira. Ela representa o outro impulso, ou instinto do homem: o de vida (Eros), Deus mitológico grego do Amor.

Na distante Coréia do Norte, no continente asiático, o ditador Kim Jong-il, impõe com mão-de-ferro a seus compatriotas , um duro regime político, econômico e social. Com autoritarismo e ódio promove testes nucleares, enquanto os norte-coreanos sofrem com forme, miséria e falta de liberdade de expressão. Exemplo claro de Thanatos .

Aqui no continente americano, no nordeste, mais precisamente no Recife não só dona Albertina mas no coração de 63 doulas voluntárias que ajudam as equipes médicas em três maternidades pulsa o instinto de Eros (de vida), nestas “mulheres que servem.”

As doulas e tantos outros que vêm trazendo e fazendo o melhor de si em favor da humanidade, numa clara demonstração da legitimidade do instinto de vida que pulsa no íntimo da alma humana nossos mais sinceros reconhecimentos.

Paulo César Cunha

É Professor de História e Contabilista.

cesarcunha@oi.com.br

PAULO BARDO
Enviado por PAULO BARDO em 21/04/2010
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