DEMOCRACIA X AUTORITARISMO

Bons tempos aqueles! Será?

Provavelmente você é mais um daqueles que estão insatisfeitos com as notícias políticas, econômicas e agitações sociais que estampam as primeiras páginas dos jornais, ou dos noticiários diariamente:

Corrupção, nepotismo, crise mundial, onda crescente de violência, falência de vários setores do Estado, impunidade, enfim...

Em nosso dia-a-dia, temos tido contato com pessoas que desencantadas com o quadro político, social e econômico do Brasil, chegam a sentir "saudade" do tempo em que vivíamos sob o regime militar. Inclusive recentemente conversei com uma jovem que provavelmente nasceu quando a ditadura militar no Brasil agonizava, e me chamou atenção em nossa conversa ela mostrar-se uma feroz defensora do retorno da ditadura. .

Ouço até mesmo alguns mais afoitos afirmarem saudosos: " Bom mesmo era no tempo dos militares no poder. Naquela época não existia esta bagunça no Brasil!" .

Bom esclareçamos de maneira resumida: A ditadura fez parte de nossa história recente (1964 a 1985) e que se caracterizou pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar

É claro que estas afirmações nos parecem no mínimo bastantes simplórias. Temos convicção de que se estas pessoas tivessem sentido a dor de ver um ente querido seu, ser arrastado sumariamente dentro de sua própria casa, e nunca mais sequer saber o que lhe aconteceu. Ou melhor, onde seu corpo foi abandonado. Isto, apenas para poder lhe oferecer um sepultamento digno, com certeza, mudariam de idéia.

Pois bem, sabemos hoje que foram muitos os casos de tortura seguida de morte, neste período negro de nossa história. Ou nas palavras iluminadas de um defensor dos direitos humanos, o Arcebispo Paulo Evaristo Arns, " o desaparecido transforma-se numa sombra que ao escurecer-se vai encobrindo a última luminosidade da existência terrena".

São muitos os casos , podemos como exemplo relatar uma experiência real que viveu Dom Paulo Evaristo e que ele mesmo relata no prefácio do livro "Brasil nunca mais". Vamos ao relato:

"Um dia, ao abrir a porta do gabinete, vieram ao meu encontro duas senhoras, uma jovem e outra de idade avançada. A primeira, ao assentar-se em minha frente, colocou de imediato um anel sobre a mesa, dizendo: " É a aliança de meu marido, desaparecido há dez dias. Encontrei-a, esta manhã, na soleira da porta. Sr padre, que significa esta devolução? É sinal de que está morto, ou é um aviso de que eu continue a procurá-lo?"

Até hoje, nem ela nem eu tivemos resposta a essa interrogação dilacerante ' declara o Cardeal das Liberdades Democráticas ...

Esse é apenas um relato tocante entre milhares de histórias reais acontecidas neste período de nossa História entre 1964 e 1985.

Inclusive a atual ministra Dilma Roussef (Casa Civil) foi presa e torturada durante a ditadura militar e que considera “imprescritíveis” os crimes de tortura cometidos no país, conforme declaração na Folha Online.

As torturas utilizadas no regime militar eram as mais diversas: agressão física, pressão psicológica e a utilização de instrumentos de tortura "requintados". “Desde o conhecido ‘pau-de-arara” a produtos químicos. Todas porém trazendo consigo a marca da crueldade. E das torturas não escaparam nem mesmo mulheres, crianças e gestantes.

Talvez agora os defensores do "retorno" de um regime político como este, que é ditadura sim , e não ditabranda, como querem alguns, pensem um pouco melhor no assunto.

Mas nosso objetivo , ao tocar nesta ferida de nossa história, é alertar para que tenhamos cuidado, muito cuidado. Já que em tempos de crise, afirma o eminente Psicanalista e Sociólogo, Erich Fromm em sua obra " O medo à liberdade", é de que nós temos uma tendência a submeter-nos a regimes políticos totalitários, e entregarmos nossas vidas a governantes despóticos, cruéis e autoritários. E tal fato confirma-se com a ascensão de líderes como Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha, com o fascismo e o nazismo respectivamente, ganhando muito espaço após a Grande Depressão ou Crise de 1929 que foi sentida no mundo inteiro.

E não nos iludamos afirmando que "isto faz parte do passado". Estas tendências autoritárias estão sempre espreitando-nos com supostos líderes , "salvadores da pátria", "milagreiros", com suas promessas "mirabolantes" , e o pior: não faltam para eles seguidores desavisados prontos a obedecê-los.

Ora até mesmo o nosso atual presidente o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, andou em alguns momentos mostrando suas "unhas" , com uma atitude autoritária e intolerante , como na do caso do jornalista americano do New York Times , Larry Rother, que foi amplamente divulgado pela imprensa, em que o jornalista Larry Rother chama o presidente Lula de "alcoólatra e incapacitado para o cargo". E o nosso presidente Lula reage de maneira irracional , buscando expulsar o jornalista americano do país, cassando o visto do passaporte de Larry Rother. Aliás, que se diga em alto e bom som: que coisa feia Lula!

E fica a pergunta : E a democracia como fica? Tomara que fique! E que os “bons ventos” levem para bem distante estes tempos negros e indivíduos que buscam o poder não importa como, inclusive, a preço de sangue, lágrimas e de vidas humanas.

Paulo Cesar Cunha é professor de História , e Contabilista.

cesarcunha@oi.com.br

PAULO BARDO
Enviado por PAULO BARDO em 21/04/2010
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