Como fazer uma massagem tântrica, especialmente um terapeuta.
Após uma paciente me relatar recentemente, quase em surdina, elaborando uma série de rodeios, (como que preparando o terreno para me fazer uma revelação bombástica) que havia ganho de presente uma “massagem tântrica” (me repassando os detalhes da dita “massagem”) e pedindo a minha opinião sobre, decidi ressuscitar esse texto de sete anos atrás, o qual reputo mais atual do que nunca!
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Passemos ao aludido texto...
Como se deve fazer uma massagem tântrica.(Principalmente um terapeuta.)
Quando se fala em massagem quase que de imediato já acorre à nossa mente uma infinidade de imagens eróticas, mesmo que a nossa intenção nada contenha de erotismo explícito, que apenas busquemos, ao procurarmos um profissional habilitado para nos atender com massagens, o bem estar que essa prática milenar, (antes privilégio das castas dominantes) nos proporciona.
Se a espera por uma simples sessão de massagem já nos deixa num estado de hiper-expectativa, façamos então, num hipotético exercício de imaginação, uma idéia, nos colocando como aquele que receberá a massagem, de como fica a nossa cabeça ao nos prepararmos para receber uma sessão de massagem tântrica, com toda a carga de sedução e sensualidade que a palavra "tantra" carrega. Adicionemos, à colocação anterior, a informação de que pouco se sabe sobre o Tantra, e o que se sabe (a maior parte do que se veicula pelos meios de comunicação) ainda vem eivado de superstição, e pior ainda: de comércio sexual puro e simples.
É muito interessante, e sintomático, observar que, apesar da aparente liberação de idéias e de uma postura muito mais aberta diante da sexualidade humana que hoje buscamos apresentar, na verdade, paradoxalmente, a cada dia que passa nos tornamos cada vez mais fechados, como se colocássemos couraças em torno de nós, como bem observou o psicanalista austríaco Wilhelm Reich. Reich pagou com a própria vida, vindo a morrer numa prisão americana, acusado de atentar contra o Estado, por defender as suas idéias revolucionárias, principalmente a idéia de que o orgasmo é a energia de maior intensidade ao alcance do ser humano, energia a que deu o nome de orgone, definindo o orgone como partículas cósmicas, das quais depende o poder orgástico de cada um de nós.
Atentemos para o fato de que Reich veio a deixar o seu invólucro de matéria em 1957, (quando contava por volta dos sessenta anos) sendo que a idéia do orgasmo como energia curadora data de muito antes, bem mais longe no tempo: (dando de barato, uns cinco mil anos!!!) desde os antigos hindus que se sabe a respeito disso. Atualmente, provavelmente em razão do enorme stress que acomete as pessoas, notadamente aquelas com mais poder aquisitivo, a busca por satisfação imediata, (o que eu classificaria como hedonismo) virou a grande meta da maioria, incentivados que são por falsas ofertas, (e por excesso de recursos para consumir também, no meu modo de ver, o grande vilão dos dias atuais) sendo a massagem tântrica a cereja do bolo a ser encontrada por essa gente desinformada que só busca o prazer pelo prazer. No entanto, devo admitir que, até mesmo essa busca pouco edificante não deixa de ser um portal para que esses indivíduos venham a conhecer, e se beneficiar, das maravilhas proporcionadas pela massagem e pelo Tantra em particular.
Já faz em torno de vinte e cinco anos que me debruço sobre o assunto Tantra, desde que comecei a me interessar pelo budhismo, mergulhando em leituras que me trouxeram algum embasamento, além de experiências pessoais que fui acumulando ao longo dos anos. E, prá não fugir muito do assunto que me propus, a massagem tântrica, direi que a energia sexual é, segundo depreendo, uma corrente inesgotável de revitalização de nosso próprio organismo, fato que não precisa se gastar muito fosfato para se obter comprovação.
Conhecer e lidar com as potencialidades dessa energia sagrada é que faz toda a diferença, aquilo que torna um indivíduo um ser diferenciado, um conhecedor de si mesmo.
O que a massagem tântrica, ou a terapia que se propõe aos mesmos objetivos, traz para o paciente que dela faz us, é um trabalho direcionado para as suas correntes energéticas, coordenando movimentos em todos os níveis, do mais denso ao mais sutil, quase imperceptível. São movimentos que nos tiram de nosso casulo corporal, atirando-nos num vórtice pleno de sensações, que, num primeiro momento, confunde as nossas mentes, mas com o qual devemos buscar nos harmonizar, para deste vórtice extrair os melhores benefícios para o nosso corpo.
Pensemos sobre a seguinte hipótese: se não é nada raro um(a) paciente orgasmar numa sessão de massagem, tal o seu nível de entrega, devemos então multiplicar por cem as chances desse orgasmo vir a acontecer durante uma sessão de massagem tântrica, fato que não deve inibir o paciente, e muito menos o(a) terapeuta que o(a) está atendendo, tendo em vista que o orgasmo (ou a ausência dele) é uma prerrogativa do(a) paciente, soberano(a) num momento todo seu.
Claro que com o passar do tempo o paciente vai estabilizando o seu emocional, aprendendo a comandar as ações de seu corpo, não mais sendo um mero escravo das sensações, e sim o seu firme condutor.
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É inegável, como já afirmei acima, os benefícios que uma massagem nos traz: melhor será, indubitavelmente, se aliarmos a essa busca pelo equilíbrio emocional e corporal um maior conhecimento daquilo que estamos procurando, ofertando ao nosso corpo, nosso santuário, o melhor que ele pode obter.
Prá fechar o meu conceito de como devemos encarar o tantrismo e suas derivações, suas diversas aplicações, tanto na massagem terapêutica como em outros rituais, eu diria que devemos evitar agir tanto com a pudicícia de um monge franciscano, como também não usar de nenhuma atitude que contenha a menor chispa de hedonismo, da busca do prazer pelo prazer.
Cabe a nós, tanto terapeutas como pacientes, encontrar uma via de equilíbrio que nos permita entender o tantrismo como uma ferramenta preciosa que nos auxilia tremendamente em nosso caminho evolucionário, não apenas um modismo que nos proporciona satisfação sensória, mas que também, enquanto filosofia e prática, nos fortalece mais enquanto seres vivos, e faz a nossa vida aqui na Terra muito melhor de ser vivida.
São José dos Campos, tarde de Segunda-Feira, Primavera de Outubro de 2010.
João Bosco