UMA SÍNTESE CRIATIVA SOBRE A OFICINA DE ATUALIZAÇÃO EM HANSENÍASE PARA OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

Na ultima quinta feira, dia 19 de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Área Técnica das Condições Crônicas, realizou a Oficina de Atualização em Hanseníase para os agentes Comunitários de Saúde (ACSs), do território da Secretaria Regional I (SR I), no auditório da Secretaria Estaual de Saúde (SESA), em parceria com a Área Técnica das Condições Crônicas, da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará. A oficina tratou sobre o quadro da Hanseníase em Fortaleza e buscou construir a atualização dos procedimentos, na perspectiva da linha de cuidado a ser seguida por toda a Rede de Atenção Primária à Saúde.

Na oportunidade, a Estratégia Cirandas da Vida acolheu os participantes com arte, cultura e saúde. O tema foi abordado em linguagem de cordel e vivência acolhedora:

O tema que vou falar

Requer respeito e atenção

Pois se trata de uma mensagem

De uma boa informação

Pode parecer loucura

Mas hanseníase tem cura

Divulgar é a solução

Sandra Solange (Coordenadora da Área Técnica das Condições Crônicas), logo na abertura e durante toda a manhã tratou sobre a importância desta atualização frente aos desafios do controle da hanseníase em Fortaleza, sobre a sensibilização e o engajamento das equipes de saúde, nas respectivas áreas e dos postos de saúde, com o envolvimento determinante dos ACSs. Juelita Gomes (Assessora Técnica da Epidemiologia), tratou sobre a situação da hanseníase em Fortaleza e as medidas que podem ser fortalecidas para que os usuários sejam diagnosticados, tratados e acompanhados na própria unidade de saúde, da região onde moram, com a efetiva colaboração dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs). Foi apresentado ainda, o quantitativo de usuários que são acompanhados pelo Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia e as ações que precisam ser realizadas para acolher e acompanhar o tratamento desses usuários nos postos de saúde. Gerlânia Martins (coordenadora das Condições Crônicas da SESA, trouxe o olhar de parceria e engajamento da Secretaria Estadual de Saúde, com a qualidade da atenção à saúde para os munícipes de Fortaleza.

Por isso meu grande amigo

É bom você aprender

Tendo o conhecimento

Vai dá pra se proteger

Vamos mudar de postura

Se hanseníase tem cura

Ninguém precisa temer

A médica especialista em Hanseníase, Dra. Ana Fátima Porto, com mais de 20 anos de experiência na vivência laboral cuidando dos portadores deste agravo, proporcionou uma conversa inspiradora e verdadeiramente humanizada acerca dos sintomas, diagnóstico e desafios para a prevenção da hanseníase em sua fase inicial, de modo a reduzir os danos da doença, que ocorre quando não diagnosticada e tratada precocemente, inclusive no tocante ao risco de transmissão. Outro ponto importante diz respeito à sensibilização dos profissionais de saúde sobre essa doença tão antiga quanto a humanidade e frente a um cenário em que crianças chegam a ficar incapacitadas por falta de diagnóstico precoce.

Bem antes de Jesus Cristo

A danada já existia

Consequência dos pecados

Era assim que se dizia

Causando padecimento

Trazendo mil sofrimentos

Para quem a contraia

O processo de capacitação e nivelamento procedimental dos Agentes Comunitários de Saúde de Fortaleza, faz parte da estratégia geral e do Plano Diretor de Saúde, visando acolher, diagnosticar, tratar e acompanhar o ususários, na região em que vivem, por meio dos Postos de Saúde, com as equipes de saúde locais cumprindo o protocolo, no seu passo a passo, afim de evitar a concentração da demanda, geradora da fila de espera no Centro de Saúde Dona Libânia. O desafio inicial é o da capacitação e sensibilização das equipes de saúde locais, para bem acolher, com toda a atenção e resolutibilidade específica que os cidadãos e cidadãs - que buscam a informação e o diagnótico, precisam.

A enfermeira Argina Gondim, servidora lotada no Posto de Saúde Carlos Ribeiro, também presente no encontro, ressaltou a importância da participação para o acesso, acompanhamento e tratamento das doenças crônicas, ela que lida em seu cotidiano com os casos de tuberculose e mesmo hanseníase dos segmentos mais vulneráveis, como é o caso dos moradores de rua.

Como ela chegou no Brasil

Não podemos afirmar

Se foi com os portugueses

Que vieram explorar

Ou com os negros escravos

Vindos a força pra cá

Já no século XVII

No Brasil foi encontrado

Os primeiro documentos

Que valem como atestado

Lá no Rio de Janeiro

A doença chegou primeiro

E tudo foi comprovado

Chegamos ao século XX

E tratamento não existia

A doença era maldição

O doente entristecia

Essa é a grande verdade

Era a solução que havia

Isolados da família

Entregues à própria sorte

Jogados nos leprosários

E sem ter nenhum suporte

O doente preferia

Se livrar da agonia

Desejando a própria morte

Natália Farias, técnica de hanseníase da SMS, falou sobre a importância de reunir e conslolidar informações, com o objetivo de sensiblizar e mobilizar os ACSs: “eles são fundamentais no contato direto com os cidadãos e cidadãs em seus territórios, na visita casa a casa e na devolutiva que fazem, caso a caso, para facilitar o acesso e o cuidado por parte das equipes de saúde”, opinião que foi compartilhada pelas técnicas de TB e Hanseníase das Cores I e V, Lucélia Kelly e Ana Cristina Bezerra Fontoura, presentes e participantes da oficina. Ana Cristina trouxe para o encontro toda a vivência da atualização em Hanseníase, realizada pela Cores V, que envolveu a totalidade dos ACs daquela SR, durante o segundo semestre de 2016.

Manhã e tarde, as Cirandas da Vida interagiram de forma acolhedora e integrativa, com conteúdo e vivência, facilitando e fortalecendo as ideias chave do trabalho a ser compartilhado por todos, para que alcance os objetivos esperados.

Lá pelos anos 50

Surge um raio de esperança

Descobriram a dapsona

E o tratamento avança

Essa droga é a solução

Alegrou o coragão

De jovem, velho e criança

E foi nos anos 60

Que veio um novo advento

Transformando os leprosários

Acabando o isolamento

Dando direito ao doente

Conviver socialmente

A partir desse momento

Para além dos protocolos e procedimentos, estratégias e ações cotidianas, o desafio maior a ser superado, ainda é o preconceito. O prconceito reside nos próximos e familiares, vizinhos, comunidade e até nos profissionais de saúde. Até mesmo o portador de hanseníase, por falta de informação se enclausura nas grades do preconceito. Informação, conhecimento e acolhimento humano libertam! Este é o desafio e, ao mesmo tempo, solução para a cura da hanseníase. Com auto estima que se faz cuidado, com o ato de acolher que se faz solidariedade e que vai ao encontro dos princípios do SUS, com o acompanhemto humanizado, os usuários não abandonam o tratamento. E assim, pode-se afirmar e garantir: HANSENÍASE TEM CURA!

Novas drogas descobertas

Para nossa alegria

A cura agora é mais rápida

É o fim de uma agonia

Basta que você se cuide

Proteja sua saúde

A cada hora do dia

Hanseníase tem cura

Precisamos informar

O preconceito esse sim

Continua a maltratar

É uma doença atrós

Se aninha dentro de nós

E não quer mais desgarrar

E a Dra. Ana Fátima Porto, há 20 anos aporta dedicação, conhecimento e vivência, na lida cotidiana no combate à hanseníase e na promoção da saúde juntos aos usuários portadores de hanseníase. A médica oftalmologista, que assumiu como missão, levar luz na forma de conhecimento, fazer enxergar o caminho do diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hanseníase... Ela tem sido a militante, a promotora da cura, por meio do seu aprendizado vivencial, ela que pôs as mãos na massa, que superou as adversidades, que oprtuna e inoportunamente foi à luta em favor dos seus semelhantes, vistos por ela não como meros pacientes: gente! Ela, médica cidadã. Eles, cidadãos e cidadãs, usuários e usuárias do Sistema único de Saúde.

E o Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, foi a casa escola, a referência, o lugar de acolher, de vivenciar e aprender a lidar com essa doença, se implicar e se comprometer com a missão de cuidar. E cuidar, na sua lida significou e significa AMORIZAR. Cada pessoa que ela acolheu, cuidou e motivou para fazer o caminho da cura, representa a razão deste verbo AMORIZAR!

A Dra. Ana Fátima, é especialista em cuidar de gente. A hanseníase com todos os seus agravos, tem sido o seu combate, que a desafia “ir ao encontro” das pessoas vulneradas pela doença, na busca da cura.

No momento em que a Dra. Ana Fátima atinge o tempo justo e merecido da aposentadoria, a Saúde do Ceará, os inúmeros usuários dos SUS que tiveram o privilégio de receber os seus cuidados humanos e profissionais, os estudantes e profissonais de saúde que aprenderam ouvindo-a – sua fala é sempre uma aula-vivência, têm muito que agradecer pela sua dedicação e profissionalismo.

Por meio desta síntese, o reconhecimento humilde, de todos nós, que participamos do encontro e compartilhamos do seu saber, experiência e compromisso com a saúde pública.

Este educador popular se viu diante da médica, educadora popular em vivência, que se apropriou das racionalidades médicas para construir juntos com seus semelhantes, o caminho do cuidado e da cura da hanseníase, com fé e consciência. Gratidão!

Com boa informação

Todos ficam conscientes

Supera-se o preconceito

Que não é inteligente

Melhora a sociedade

Cresce a solidariedade

Com a pessoa doente (Edson Oliveira)

A educação popular

É aprender e ensinar

A saúde humanizada

É território e lugar

É gente cuidando de gente

E o encontro dos saberes

Para olhar, ver e abraçar! (Elias José)

Texto de Elias José da Silva

Cordel de Edson Oliveira