Não me falem do SUS!

NÃO ME FALEM DO SUS!

Numa dessas, eu voltava de Buenos Aires, depois de alguns dias de lazer na magnífica capital argentina, com direito à gastronomia, bons vinhos e shows de tangos. Quando cheguei a Porto Alegre, dei uma zebra. Como estava quente, tirei o casacão, levando-o no braço. Na outra mão eu portava minha sacola, pois não confio nos bagageiros dos aeroportos, muito menos dos argentinos.

Quando peguei a escada rolante para descer à sala de desembarque, no primeiro degrau, lá em cima, pisei na ponta do casacão e desabei. Como a outra mão estava ocupada, não tive como me agarrar e só vim parar no chão, depois de rolar uns trinta degraus. Bati com a cabeça, machuquei o ombro e cortei o rosto nos degraus dentados. Meio tonto, fiquei ali no chão com o rosto ensanguentado, para desespero da minha mulher, esperando o atendimento da INFRAERO que por sinal foi bem rápido. Como bati o rosto e a cabeça, os paramédicos ficaram temerosos de algum problema na coluna, razão pela qual não me permitiram levantar, enquanto aguardavam a ambulância que me iria levar para o hospital.

Veio a ambulância e me imobilizaram na maca. Carmen queria que me levassem para o Mãe de Deus, mas eles disseram, pela conformidade geográfica que eu iria para o Cristo Redentor, que é o pronto-socorro da Zona Norte. E lá se foi a ambulância ziguezagueando pelo trânsito das 20 horas, com a sirene aberta na direção do hospital. Carmen foi junto, apavorada com as manobras radicais do motorista. Quando chegamos ao hospital, ela tentou apresentar a carteira do “Saúde Caixa”, meu plano de saúde, mas a recepção dispensou, afirmando que ali o atendimento era todo pelo SUS.

Na chegada me conduziram à sala de emergência “laranja”, já que a “vermelha” é para os casos mais graves. Como eu estava consciente, me fizeram muitas perguntas, e começaram a me despir. Havia três médicos, uma mulher e dois homens para me atender. Na hora de tirar a camiseta, como eu estava deitado e a blusa era meio justa, ficou difícil de retirar. Pragmática, a médica ordenou: “Corta”. O enfermeiro interpôs: “Não, não corta, é Lacoste!”. Aí deram um jeito e a camisa foi preservada. Tiraram umas dez radiografias, deram pontos no rosto e na cabeça e fizeram curativos. Lá pela meia-noite o filho chegou e nos levou para casa.

Na saída, Carmen falou em pagar alguma coisa, e foi informada que era SUS e não devíamos nada. Às vezes vejo reportagens com críticas ao atendimento do SUS. Eu não sei em outros hospitais e circunstâncias. Ali foi um atendimento de Primeiro Mundo, rápido, cortês e eficaz. Hoje não permito que falem mal do SUS.