Eventos de sincronicidade
Para um camarada de viés tendente para o cético como eu, admitir que há eventos que ocorrem como se fossem pré-programados não é uma tarefa nada desprezível. No entanto, fui encontrar em Carl Gustav Jung e suas explanações sobre Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (algo como um depósito em que a Humanidade inteira arquiva suas vivências, e que pode ser acessado quando o nosso Consciente se conecta com o Inconsciente, quase sempre em um momento crítico de nossas vidas) respostas para alguns acontecimentos que normalmente eu os rotularia de casualidades.
Não vou me estender muito sobre o tema, apenas darei uma leve pincelada, fazendo uso de algumas lembranças, para que eu mesmo busque entender o que é conceituado como sincronicidade. Ainda no reino das tais pinceladas vou buscar amparo no livro de Yogananda, “Autobiografia de um yogue” no qual alguns eventos que seriam intitulados de “milagres” são explanados com toda a naturalidade, como uma cena em que ele (Yogananda) e um amigo estavam com fome, já perto do meio dia: Yogananda simplesmente disse ao amigo para esperar que a comida viria até eles, que a Providência não os deixaria famintos, o que realmente aconteceu – a dona da casa em frente à qual eles estavam, ofereceu-lhes para que colhessem mangas em seu pomar, das quais os dois comeram fartamente.
Pulando de Yogananda para a vidinha prosaica do João, (e relatando as tais lembranças) me lembro de um dia, lá por volta de 1978, quase que completamente duro e sem emprego, (só prá variar um pouco) vi passar na Via Dutra um carro, um Passat, e disse para a minha namorada: vou ter um carro igualzinho àquele. Menos de um ano depois arranjei um emprego que me possibilitou a aquisição do tal carro, mas na época nem dei bola para que forças eu havia posto em movimento com aquela afirmação...
O tempo passou, veio o casamento, filhos, altos e baixos... enfim: tudo que um brasileiro de estatura mediana fruta e desfruta na vida, e de recheio, algumas ocorrências que eu rotulava de inexplicáveis, ou apenas coincidências...
Dentre essas coincidências a maior ocorreu num dia que eu não tinha quase nada para fazer, (os filhos criados e o casamento já acabado – ou seja: numa de horror!!!) e me dirigi até uma livraria para “matar” o tempo, visto que eu mesmo havia de superar os obstáculos que se me antepunham. Chegando na livraria peguei alguns livros e, folheando num deles, completamente ao acaso, abri numa página que continha um mantra budista para se visualizar a companheira ideal, e fiz a coisa mais improvável – copiei o tal mantra. Com tantas improbabilidades acontecendo, o fato de que eu recitasse o mantra em questão era a menor delas, já que gosto dos preceitos budistas, mesmo do alto de minha iconoclastia...
Não conto o final dessa história, nem mesmo sob ameaça de enforcamento...
...Mas, meu caro leitor (a), antes que cometas algum ato insano, empreste-me tuas orelhas, e nelas, (só nelas, tá...) direi baixinho, quase envergonhado, que reforço o coro dos que asseguram que milagres (eventos de sincronicidade) acontecem, e que, tal qual Yogananda, também eu recebi o que pedi.
Terras de São Paulo, Antepenúltimo dia do mês de Outubro de 2012.
João Bosco