DE MÉDICO A PACIENTE
DE MÉDICO A PACIENTE
No dia 08 de dezembro 2011, de repente me vi como paciente. Pude sentir na pele, com quanta frieza, descaso um paciente é tratado. Pensei: meu DEUS será que trato meus pacientes assim? Sabia que no meu caso ,AVC, o tempo era precioso. Mesmo cercado de colegas meus, enfermeira, meus familiares de lado, esperei um médico de 7:30 a 9:30, nenhum medico, nenhum exame(clinico) nenhuma pergunta, nem aquele exame mais simples de seguir o dedo, nada. Ainda bem que o irmão de Dra Marinha, neurologista, chegou me examinou e me tranquilizou, deixando-me mais calmo, enquanto esperava o neuro de plantão.
Vou de encontro a tomografia, de repente me vejo naquela maca fria, na maior carreira pelos corredores do hospital da UNIMED, elevadores, pra mim eu estava de 20 a 30 km/hora. Na volta nova correria. Fiquei numa sala barulhenta , aguardando o resultado. Novo exame DOPPER lá vamos nós, fechava os olhos, para diminuir, o barulho, e a sensação de que estava voando por aqueles corredores. Quando chegava ao lugar de partida, para mim era um alivio. Do meu lado esta uma senhora de aproximadamente uns 30 anos tendo um enfarte e o colega dizendo é gazes ela relatava eu levo uma vida desregrada: bebo fumo como tudo passo as noites de festa; o colega teimava em dizer que não era nada, deu vontade de gritar ela está enfartando seu imbecil, mas contive. A mulher enfartou e foi para UTI. Do meu lado direito, encontrava outra, mais velha, que passou mal em casa. O Dr mostrando os exames disse a senhora está ótima os 27 exames não deu nada só a glicose está elevada 280, a senhora era diabética? – não respondeu a pobre senhora. Nada que uma boa dieta e o medicamento não resolva, (como diabete fosse uma doença que tivesse cura.) deu vontade de gritar minha senhora eu sou diabético a 13 anos, procure um endocrinologista para se tratar. Na minha frente, a alguns metros, tinha um senhor, que gritava vai pra igreja, repentinas vezes vai, vai......aquilo me deixava angustiado, irritado, pensava : por que não seda este paciente.? Meu DEUS, que absurdo? Onde foi parar a cadeira de semiologia? Perguntava eu. Porque os médicos hoje se apegam tanto a exames? E não procura ouvir a queixa do paciente? No meu tempo era diferente, não existia ultrassonografia, tomografia etc. porem, se examinava o paciente e se fazia um boa anamnese. Mesmo com isquemia cerebral, minha cabeça, meu sistema nervoso abalado, como médico embora na condição de paciente, ainda me foi possível fazer-me estas criticas e me perguntar: será que eu atendo assim? A resposta veio de imediato: NÃO para minha alegria e meu conforto. O hemisfério esquerdo do meu cérebro, NADA TINHA SOFRIDO, gritava: NÃO! NÃO !
Lembrei-me de quando chegava um paciente para me mostrar uma ultra, eu dizia vamos conversar primeiro depois você me mostra. Quantas e quantas vezes eu dizia: ai deve está dizendo que você tem pedra na vesícula. Ou sua próstata está crescida. Como o senhor sabe se não mostrei ainda a ultrassonografia? Isto me alegrava e fazia me exercitar cada vez mais.
Como é triste e doloroso, caótico, atroz ,angustiante, penoso, passar de médico a paciente. Que me sirva de lição, para que eu veja os “pacientes”, não como doente, mas sim como seres humanos.