Auto-medicação
AUTO-MEDICAÇÃO
O que eu vou dizer aqui não foi tirado a esmo da cartola do absurdo, mas faz parte de um conjunto lógico e pragmático de ver a vida. Vou falar sobre auto-medicação.
Desde que eu era criança escuto dizer que “de médico e louco cada um tem um pouco”. Verdade? Mentira? Não sei, mas é bem parecido... Hoje, em face das multidisciplinariedades que existem, sempre surgem os sabichões que pensam saber tudo de todas as coisas. Deste modo, não-raro, se escutam leigos de todos os lados, querendo discutir com especialistas e graduados, dando pareceres sobre engenharia, administração, economia, teologia, direito, medicina, filosofia e demais ciências.
Sobre essas tentativas de – como diziam os filósofos – “o sapateiro ir além das chinelas”, coisa chata são certos leigos querendo dar palpites – em geral furados – fora de sua limitada área de competência. Não me considerando um mero palpiteiro, mas um filósofo a serviço da comunicação, faço meus comentários.
Fiz todo esse intróito para ingressar no assunto da auto-medicação. Ela existe, com todos os seus riscos, no mundo inteiro. Na Itália fui à farmácia procurar um descongestionante intestinal. Me venderam dois remédios que resolveram. Na Grécia, estava com febre, o pessoal da recepção me deu uns comprimidos e no dia seguinte eu já estava na piscina. Minha mulher comprou Neurontin (tarja preta no Brasil), no aeroporto de Paris, sem receita.
Em casa eu tenho a minha farmácia doméstica de auto-medicação para diarréia, intestino preso, coriza, febre, queimaduras, má-digestão, dores de ouvido, de garganta, de cabeça, conjuntivite, etc. Os remédios que os laboratórios anunciam na tevê são a indução para você comprar na farmácia, sem receita médica. As campanhas contra a auto-medicação são em parte válidas, dados os riscos de ingestão de algo indevido. Mas de outro lado, esse legalismo contra a auto-medicação esbarra em questões reais e indiscutíveis. Uma parte favorece os cuidados com a saúde pública. De outro, um incremento corporativista às consultas médicas.
Vamos à prática. Estou com dor de cabeça. Ou vou à farmácia e compro aspirinas ou vou ao médico. No posto de saúde nunca atendem no mesmo dia. No SUS leva quinze dias, ou mais. Se é nos sofisticados convênios – no meu caso, o Saúde-Caixa – a consulta será para dois ou três dias depois. Se for derrame, estarei derramado. Se for algo simples, como em geral é, duas aspirinas em meio copo d’água resolvem.
Se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Sem pressa, pois as emergências no Brasil não funcionam.
o autor é Filósofo e Doutor em Teologia Mortal