Deus não é um esbirro

Ao longo dos anos deparei muitas vezes com uma opinião muito comum entre ateistas e descrentes, que pode ser resumida assim:

"Se Deus existe por que permitiu aquele "tsunami" que matou tanta gente, aquele terremoto, aquele incêndio, aquela inundação catastrófica, ou então por que deixou minha mãe sofrer tanto, por que não age com essas desgraças, esses sofrimentos, essas doenças?

Deduzem daí que Deus não existe. É um raciocínio bizarro: parece que essas pessoas querem que Deus seja uma espécie de esbirro ou capanga onipresente, que apareça a toda hora para bater nos maus, segurar terremotos e realizar salvamentos espetaculares como o Super-Homem. Ora, se fosse assim, não poderíamos nem dar uma topada. Qualquer pessoa que desse uma topada poderia exclamar: "Vocês estão vendo? Deus não existe! Se Deus existe, como é que permite que eu dê uma topada e machuque o dedão do pé?"

Acontece, porém, que a existência de Deus está garantida por uma instância anterior aos acontecimentos temporais: a própria existência do universo. Como eu tenho lembrado várias vezes, o universo não pode ter criado a si próprio e nem brotado do nada e evoluído pelo acaso, pois isso vai contra a razão. O universo, para existir com toda a sua complexidade matemática, exige um Ser Supremo, que inclusive está fora do tempo, na eternidade, pois o próprio tempo só existe, como o espaço, como parte do universo.

Ora bem: sabemos desde criancinhas que vivemos num mundo onde existem o mal e o dano. A maldade humana está em ação, e pratica crimes e violências. Acidentes e catástrofes naturais também podem acontecer. Sabemos que o sofrimento acrisola, traz consigo experiência da vida e sabedoria. Grandes santos sofreram muito, inclusive terríveis injustiças, como Maximiliano Kolbe, mas nem por isso se afastaram de Deus, muito pelo contrário. Santa Terezinha sofreu muito com sua enfermidade e até o fim glorificou a Deus. A Santa Bernadete, a vidente de Lourdes, Nossa Senhora avisou que não prometia a ela a felicidade na Terra.

E porque sabemos que na Eternidade todas as contas são feitas e a verdadeira felicidade está no Céu, não vamos supervalorizar o sofrimento neste mundo. É claro que devemos fazer o possível para melhorar as condições do mundo e combater injustiças; mas pretender que Deus não existe por causa do sofrimento e da maldade é uma tolice das maiores. Deus não obriga ninguém a praticar o bem. Se fôssemos obrigados a ser bons não seríamos seres humanos, seríamos fantoches ou autômatos. Gostaríamos disso? A grandeza do ser humano está em escolher o Amor e a Justiça (lema da Sailor Moon) quando poderia escolher a iniquidade, como infelizmente muita gente faz. Deus nos deu o livre arbítrio para que escolhamos livremente se praticamos o bem ou o mal. Se não fosse assim, os bons não teriam mérito algum.

Imagem Vatican News: Madre Teresa de Calcutá, que passou a vida socorrendo as pessoas que sofrem.