O PRINCÍPIO DA IGUALDADE E A GRAÇA DIVINA
O princípio da igualdade, ou seja, tratar a todos de forma igual perante a lei, e "tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais na medida de sua desigualdade", está estabelecido. O tratar iguais como iguais e desiguais como desiguais, "na medida da sua desiguladade" visa possibilitar um caminho que elimine tais desigualdades. O conceito vem de Sócrates, mas o princípio é divino.
A Consolidação das Leis do Trabalho, em nosso país, diz textualmente o seguinte;
Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.
Vivemos na época da meritocracia. Se você merece, você ganha. Se você trabalha, você recebe. Ainda que tenhamos necessidades, estas não serão atendidas se não fizermos um esforço que nos dê o merecimento.
Essa situação é tão polêmica que Michael J. Sandel escreveu seu livro "A Tirania do Mérito".
Assim, enquanto uns vivem nababescamente, outros vegetam na indigência, e como todos somos pretensamente capitalistas, justificamos nossas indiferenças para com os pobres e desvalidos com a afirmativa do mérito.
Porém, na economia divina, o mérito humano pouco significado tem. Sobrepõe-se ao mérito a Graça, a justificação pela fé elimina as obras ou as coloca em seu devido lugar.
Jesus contou uma parábola que foi intitulada "a parábola dos trabalhadores da vinha" (Mt 20: 1-16):
"Pois o Reino dos céus é como um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha.
Ele combinou pagar-lhes um denário pelo dia e mandou-os para a sua vinha.
"Por volta das noves hora da manhã, ele saiu e viu outros que estavam desocupados na praça,
e lhes disse: ‘Vão também trabalhar na vinha, e eu lhes pagarei o que for justo’.
E eles foram. "Saindo outra vez, por volta do meio dia e das três horas da tarde e nona, fez a mesma coisa.
Saindo por volta da cinco horas da tarde, encontrou ainda outros que estavam desocupados e lhes perguntou: ‘Por que vocês estiveram aqui desocupados o dia todo? ’
‘Porque ninguém nos contratou’, responderam eles. "Ele lhes disse: ‘Vão vocês também trabalhar na vinha’.
"Ao cair da tarde, o dono da vinha disse a seu administrador: ‘Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando com os últimos contratados e terminando nos primeiros’.
"Vieram os trabalhadores contratados por volta das cinco horas da tarde, e cada um recebeu um denário.
Quando vieram os que tinham sido contratados primeiro, esperavam receber mais. Mas cada um deles também recebeu um denário.
Quando o receberam, começaram a se queixar do proprietário da vinha,
dizendo-lhe: ‘Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, e o senhor os igualou a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia’.
"Mas ele respondeu a um deles: ‘Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um denário?
Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei.
Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso? ’
"Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos".
O homem carnal não consegue ver nessa parábola justiça, porque a justiça que ele conhece é a justiça humana, porém, ao nos depararmos com a Justiça divina, percebemos o que Deus pensa sobre o mérito e a igualdade.
Os homens eram desiguais, uns trabalhavam e outros não. Estes últimos, pela descrição da parábola, ou eram ou estavam desocupados por não encontrarem empregos ou por serem preguiçosos.
O Senhor da vinha não os questionou sobre a preguiça, não lhes perguntou sobre a razão de estarem desocupados. Chamou-os todos para trabalharem na sua belíssima plantação de uvas.
O que importa aqui é o chamado e sua aceitação, não a condição moral ou de saúde física dos trabalhadores. A única coisa que se lhes exige é que atendam ao convite.
Ao comparecerem na vinícola, também não importava em que horário eles bateram o ponto.
Era evidente, no entanto, que os trabalhadores tinham o conceito de que quem mais produz melhor recebe, que o mérito é um verdadeiro divisor de águas. Mais méritos, mais dádivas, menos mérito, menor salário.
Finalizada a colheita do dia, iniciou-se o pagamento. Para a alegria dos que chegaram primeiro, eles viram que os que chegaram por último estavam recebendo a mesma quantia do que havia sido combinada com os que, desde a manhã, estiveram na labuta.
Eles imaginavam que, por benevolência do patrão, houve um aumento salarial para cada hora de trabalho, ainda que eles não tivessem sido avisados. Provavelmente ganhariam dez vezes mais do que o que fora prometido.
No entanto, quando receberam suas partes, cada um constatou não haver diferença salarial entre eles e os retardatários. Os pagamentos não levaram em consideração o tempo trabalhado, nem sequer a aptidão, nem ainda o julgamento moral se os que chegaram por último eram ou não preguiçosos.
O Senhor da vinha esperava que eles estivessem alegres por verem seus irmãos, até ali desempregados ou preguiçosos, receberem o necessário, ainda que trabalhando menos. Eles queriam o mérito! Eles exigiam o mérito!
Outro homem também foi citado por Jesus: o irmão do filho pródigo. Para ele o pai disse (Lc 15: 31-32):
"Disse o pai: ‘Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu.
Mas nós tínhamos que comemorar e alegrar-nos, porque este seu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado’ ".
Diante de Graça de Cristo não há mérito humano!