As origens do homem e da humanidade

Uma das polêmicas mais contundentes da história, que surge justamente com a publicação da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, é o clássico se o homem descende dos macacos. Parece uma pergunta absurda e ilógica, mas se olharmos com um olhar mais crítico veremos a profundidade na afirmação. Primeiro quando entendemos a origem e nascedouro da polêmica. Justamente nos meios eclesiásticos, ou seja, a Igreja Católica entrou na briga para contestar a afirmação científica da evolução justificando o surgimento da humanidade a partir da narrativa bíblica da criação direta divina. Ou seja, Adão e Eva, criados em um ato direto e efetivo de Deus. Do barro Adão e de sua costela Eva. Assim, a contestação virou piada e polêmica.

Afinal, de onde vem o homem e como ele foi criado? Teria partido da evolução de um símio? Somos macacos tal qual um gorila ou chimpanzé? E onde teriam surgidos os primeiros seres humanos? São europeus de pele clara ou israelenses hebreus? Ou realmente o berço da humanidade é a Mãe África com o surgimento do Homo Sapiens Moderno-Moderno?

Não pretendo trazer um debate religioso para o assunto, mesmo porque, cada povo e cultura traz a sua explicação e folclore para a criação da humanidade. E nem com todas as páginas poderíamos contemplar todas estas culturas. Mas vamos tentar resumir o quanto possível o que a ciência já descobriu até hoje sobre a evolução do seres humanos.

O estudo da origem do homem só pode ser destrinchado se nos apoiarmos num misto de três ciências harmoniosas: Anatomia, Genética e Linguística. Assim, nossa dissertação transitará exclusivamente pela Antropologia, Sociologia, Biologia e Arqueologia. Não podemos nos distrair em suposições, lendas, mitos ou folclores. Nem mesmo com pseudociência, tentando justificar o assunto a partir da influência de seres alienígenas, como a cultura da inseminação genética produzida pelos Annunakis, seres de um planeta visitante chamado Nibiru ou Hercólubus. Ou qualquer outra suposição sem comprovação científica.

Outrossim, vamos nos dedicar exclusivamente neste momento ao que a Ciência nos proporciona de conhecimentos. E isto já nos é suficiente.

É certo acreditarmos que todos os mamíferos surgiram de um mesmo espécime ancestral, um ser parecido com muzaranhos. Mas o surgimento dos primatas se dará muitos milhões de anos a frente. Acredita-se que por volta de 30 milhões de anos atrás, no início do Mioceno, teriam surgidos os primeiros “macacos sem rabo”. Estes sim são os nossos mais antigos ancestrais primatas. São chamados de “hominidae”, provavelmente no Kenya, no continente africano. São os mais antigos espécimes da classe dos primatas chamadas de “Homo”. Dos quais destacamos os gibões como seus representantes sobreviventes mais antigos.

Entretanto, ainda não podemos considerá-los nossos diretos ancestrais, pois este surgirá cerca de 17 milhões de anos atrás e são chamados de “Hominidae”. Para entendermos o seio da espécie, basta vermos que a Ásia produziu da mesma forma espécies primatas, entretanto naquele local se formaram os “Pongíneos”, que deram origem aos Orangotangos. Enquanto na África se formaram os “Hominíneos”, já com características humanas. Estes seres, durante 15 a 12 milhões de anos atrás deram origem aos “Driopitecinios”, que durante a Crise Valegiana, por volta de 10 milhões de anos atrás que levou praticamente toda a fauna do Planeta à extinção, emigrou para os Balcãs e desenvolveu uma nova raça, os “Ouranopitecos”. Dos que ficaram na África, se dividiram entre os “Gorilini”, no Kenya, que dispensa explicação, e os “Homininas”, na Etiópia, da mesma forma. Entre 8 e 7 milhões de anos estes Driopitecinios são extintos na Europa, e entre 7 e 6 milhões de anos surgem os “Sahelantropos” no Chade, África Central. Também nesta época veremos o surgimento dos “Homo-Orrorin” na região do Kenya, que já apresentavam características bípedes diferente dos Sahelantropos que ainda se apoiavam nos quatro membros.

Entre 5,33 e 4 milhões de anos atrás veremos o fim do Mioceno e o surgimento de Plioceno, e com ele o surgimento de uma nova espécie na Etiópia, o “Ardipitecus”, e entre 4 e 3,6 milhões de anos finalmente veremos o surgimento do nosso mais antigo ancestral. Estamos falando do “Homina-Australopitecus”. Espécie que deixou, não somente fósseis bastante consistentes, quanto uma boa pegada cravada nas savanas da Etiópia. É a espécie que nos ofereceu o mais substancial fóssil intermediário humano, chamado de “Lucy”.

Entre 3,6 e 2,6 milhões de anos atrás entramos definitivamente na Era do Paleolítico, com o surgimento do “Kenyantropus”, que pela primeira vez usaram pedras lascadas como equipamentos para dilacerar carcaças. 600 anos mais tarde o Plioceno se encerrava dando espaço para uma nova era, o Pleistoceno, que chega com um resfriamento do Planeta extremamente rigoroso, trazendo extinções em massa novamente. Com a restrição de carcaças de animais, surge uma nova espécie de “homos” os “Parantropos”. Uma espécie com características vegetarianas, mais precisamente gramíneas, pois se alimentavam de grama mesmo. É neste momento paradoxal que vemos a denotação de duas espécies de humanos, os homo carnívoros e os vegetarianos gramíneos.

Essas espécies conviveram muito bem por mais de 300 mil anos. Tanto que os fósseis encontrados são difíceis de distinguir a origem e a classe.

E chegamos então a 2,3 milhões de anos atrás com o surgimento do “Homo-Rudolfensis” e não muito depois os chamados “Homo-Hábilis”, que, não somente poliram sua pedras, como utilizaram vários outros apetrechos. É este mesmo Homo-hábilis que trará pelos muito mais finos e ralos que seus primos chimpanzés .

Entre 2 e 1,2 milhões de anos a Terra vai esfriar demais, secando várias partes do Planeta situadas principalmente nas zonas equatoriais. Forma-se então o que se chamou de “Sunda”, uma zona de terra firme onde havia um braço de mar, ligando a Austrália, Nova Guiné e o Sul da Indonésia. Da mesma forma acontece com a Europa, onde surge a chamada “Doggerland”, unindo a Europa Ocidental, desde a Escandinávia, Gran Bretanha e Irlanda. Este é o momento que o Homo-Erectus surge e começa sua pergrinação pelo Planeta, chegando à Ásia, Oceania e Europa. Com crânios maiores e com o desenvolvimento de seus membros, chegando às proporções que possuímos hoje, diferenciando-se dos outros primatas, este Homo-Erecto pode evoluir então para se tornar “Homo-Erectus-Ergaster”, e por volta de 1,8 e 1,5 milhões de anos vai dominar finalmente o fogo e passar a cozer seus alimentos. Mas ainda não sabiam produzi-lo, somente aproveitar as chamas produzidas em incêndios na floresta.

Curiosamente é neste momento, com o aumento da temperatura do Planeta que veremos este Homo-Erectus da África desenvolver uma quantidade maior de melanina para se proteger do intenso calor, escurecendo sua pele. Surgem os homens pretos.

Entre 1,5 e 1 milhão de anos veremos, por fim a extinção do Homo-hábilis, justamente por perderem a competição com o Homo-Erectus, numa época de escassez de alimentos. Além do fato deste último estar bem mais adaptado ao clima e meio ambiente e de possuírem um crânio bem maior, ou seja, serem mais inteligentes e tecnológicos. Mas não demorou para que o Homo Ergaster também tivesse seu destino selado, sendo extinto definitivamente. Com o fim da competição, o Homo-Erectus desenvolveu equipamentos muito mais elaborados, criando uma tecnologia que lhes daria uma grande supremacia sobre os outros homininas. Desenvolvem também o instinto coletor e chegam facilmente à China, Europa e Ásia ocidental. É na Europa, mais precisamente na Inglaterra que dará origem ao chamado Homo-Antecessor e na Ásia ao Homem de Java.

Por volta de 1 milhão de anos atrás a Terra voltou a esfriar bruscamente e os oceanos baixaram cerca de 60 metros do nível atual. E este fenômeno precipitou a extinção dos “Parantropos”, ou seja, os Australopitecos não humanos. E o fogo passa a ser definitivamente controlado. Assim os Homo-erectus começam a produzir fogo.

Entre 800 e 600 mil anos então o frio passa, e o Planeta volta a esquentar. Os oceanos sobem e surge na Etiópia o “Homo-Heidelbergensis”. Estes são conhecidos por criarem as machadinhas, ainda de pedra. Este instrumento será fundamental no desenvolvimento dos humanos. E vemos a extinção do Homo-Antecessor da Inglaterra. Mas surge na China mais um descendente do Homo-Erectus, o “Homo de Pequim”.

Entre 66 e 500 mil anos novamente a Terra esfria, e surge na África a partir do Homo-Heidelbergensis o “Homo-Rodhesiensis” e 50 mil anos depois finalmente surge na África o famoso Homo-Neandertalensis”. Eram homens com a maior estrutura craniana de todos, 10% maior do que a nossa atualmente. Estes emigram rapidamente para o norte da Europa. Viviam em terras frias, tinham estrutura física forte, pele branca e viviam em cavernas. Na Ásia surge o “Homo-Denisovano”. É importante salientar que, apesar de improvável, talvez tenha acontecido sim muitos cruzamentos entre espécies. Tanto que foram encontrados entre 2 e 3% de genes Neandertais no DNA humano atual.

Entre 400 e 330 mil anos novamente o Planeta enfrenta uma Era do Gelo, e os Neandertais criam o equipamento que mudaria por completo o modo do homem se alimentar. As lanças com pontas polidas mudaram os hábitos humanos de necrófagos para caçadores e comedores de carne fresca.

Por volta de 330 mil anos atrás marca o início do Paleolítico Médio. O Saara ainda está úmido, o que facilita o trânsito dos nossos heróis entre a África e a Europa. É neste ambiente mais ameno que veremos o surgimento entre a Etiópia, Kenya e Uganda do nosso mais antigo ancestral, o “Homo-Sapiens-Moderno-Arcaico”. Eram humanos anatomicamente modernos e extremamente mais inteligentes que todos os outros . É nesta época também que vamos encontrar o “Homo-Naledi” na região da África do Sul, que sobreviveu por mais de 100 mil anos. Eram pigmeus. Mas o Homo-Erectus deixa de existir na Europa, permanecendo somente algumas colônias na África.

Entre 230 e 180 mil anos é a vez do Homo-Heidelbergensis ser extinto e o Planeta volta a esquentar. E com a falta de competição o Homo Sapiens se espalha pelo Planeta. Mas entre 180 e 160 mil anos a Terra volta a mais uma era glacial. Os oceanos estão agora 80 metros abaixo do que estão hoje, e nem mesmo os fortes Neandertais resistem e são extintos na Europa ocidental, sendo encurralados ao norte da atual Rússia, Balcans e partes da China. Os Sapiens chegam então à China e na Nova Guiné, e para isto usam as primeiras embarcações da humanidade.

E é entre 160 e 150 mil anos que vamos finalmente conhecer o nosso ancestral mais antigo e definitivo, o “Homo-Sapiens-Moderno-Moderno”. Encontrado na Etiópia, podemos dizer que este seja o nosso “Adão e Eva”.

Dispersão dos Homo sapiens pelo mundo

Vale lembrar que neste ponto a humanidade estava restrita a somente cinco grupos de Homininas. Os Homo-erectus, Homo sapiens, Homo neandertal na Europa, espremidos onde hoje é a Rússia, os Denisovanos na Ásia e uma pequena população de Homo-florensis na Indonésia.

Outra coisa que precisa ser muito bem lembrada é que destes, somente os Neandertais tinham pele branca, por conta das geografia. Pois, por viverem em lugares extremamente frios, numa era glacial, necessitavam de um branqueamento da cútis, pois a pele escura os desfavoreciam na absorção de raios Ultravioleta, necessários para a sintetização da Vitamina D. A natureza fez o serviço. Ou seja, a cor de pele com a mais plena certeza científica se dá por Seleção Natural Stricto Sense. É fenotípica e não genotípica. Assim, não se pode determinar por fator genético a cor da pele, mas as tendências genéticas de sua presença ou não.

É nesta época que este Homo sapiens vão chegar à África do Sul e substituir por completo seus ancestrais Moderno-Arcaicos, formando a raça dos Khoisan, que trazem variantes do DNA tanto dos Homo-Sapiens-Moderno-Arcaicos quanto dos Moderno-Modernos. São estes os detentores do maior número de hapogrupos de DNA mitocondrial L0. Os outros povos trarão os subsequentes, ou seja, L1, L2 e assim subsequentemente.

Nesta época, 112 mil anos atrás, veremos por fim a completa extinção do Homo-Erectus, depois de reinar absoluto na Terra por mais de 1,5 milhão de anos. Já há 74 mil anos acontece a explosão do super vulcão Toba, na Indonésia, matando praticamente toda a população da terra. Acreditam-se que tenha sobrevivido menos de 20 mil espécimes adultos de humanos no Planeta. E até 65 mil anos, por força da necessidade veremos o encontro dos Neandertais e Denisovanos na região onde hoje é a Rússia e a Mongólia se misturando. Criando uma nova espécie. Nesta mesma época chegam à Austrália dão origem aos Aborígenes e Papuas. São estes povos onde podemos ainda encontrar o maior números de variações de DNA mitocondrial de Homo-denisovano do mundo. E com a nova era glacial ficarão isolados do mundo por mais de 50 mil anos. Neste momento entramos no Paleolítico Superior, e assistimos a extinção definitiva do Homo-Florensis da Indonésia. Também será nesta época que aparecerão as primeiras pinturas rupestres, feitas por Homo Sapiens, encontradas na Ilha de Bornél. Quando surge na Europa os primeiro Homo-Cro-magnon, Sapiens com o crânio maior e mais inteligentes. Esta é a espécie que define o tamanho do crânio humano, bem como do cérebro. Estes tomam praticamente toda a Europa, e consequentemente os Neandertais acabam por serem definitivamente extintos. São estes Cro-magnon que vão criar também, cerca de 35 mil anos atrás o primeiro instrumento musical, a flauta. Domesticam o cão e chegam ao Japão. E por fim o Homo-Denisovano encontram a sua extinção completa.

Será entre 12 e 10 mil anos, em plena era glacial que o Sapiens, agora o único hominina sobrevivente na Terra vai encontrar a Era Neolítica, polir seus equipamentos, domesticar animais e plantas, especializar a agricultura e se expandir pelo mundo. Chega ao Sri Lanka e começam as diferenças clássicas de cor de pele por região e clima.

É entre 10 e 7 mil anos que vamos conhecer as primeiras cidades africanas, o chamado Reino Nigero-Congolês e entre 5 e 4 mil anos os povos Bantus dominam a região, e se expandem por toda a costa oeste da África e África Central. No Brasil os Tupis dominam o Norte do Brasil, enquanto no Centro-Sul sobressaem-se os Macro-Jês.

A Idade do Ferro chega há 4 mil anos atrás, e a África conhece a estrutura dos seus deuses da Cidade de Ifé, notadamente o culto do Deus Ogum. Deus da guerra e do metal. Ali, os chamados Bantus encontram os pigmeus do Oeste e chegam ao Rio Nilo. Ali aprendem com os Berberes e Egípcios a metalurgia e o pastoreio.

No entanto, no que tange à África, temos que ir a 1200 anos atrás e vermos o Império de Gana com um vasto comércio entre o Níger Congolês ao Sul e os Berberes árabes acima do Saara.

É neste ponto que começamos a nossa saga. É quando o “Pé Preto”, algemado por grilhões começa seu caminho. Primeiro vendido escravo para os Árabes, e mais tarde chegará às Américas, em condições semelhantes. Começa o sofrimento, a dor, a tortura, a barbárie.

Trecho do livro "Axé: Os Caminhos do Pé Preto"

AUTOR: Zezinho França do Kabilah

lançamento em julho de 2021

Zezinho França
Enviado por Zezinho França em 30/04/2021
Reeditado em 30/04/2021
Código do texto: T7245108
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