QUAL A RELIGIÃO DOS ANIMAIS? ELES POSSUEM UMA ALMA?

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A primeira das duas perguntas é, obviamente, um gracejo que, todavia, serve para estimular uma importante reflexão que, como veremos em seguida, é menos extravagante do que se possa imaginar.

A moderna etologia nos ensina que a diferença entre humanos e animais é menos marcada do que se pensava anteriormente sendo que eles também possuem uma forma de se comunicar, respeitam hierarquias e estruturas sociais, manifestam sentimentos, e assim por diante. Certos mamíferos têm até a capacidade de interpretar o nosso idioma e de executar ordens que ouviram pela primeira vez.

No entanto, existe uma diferença importante que podemos deduzir de um simples exemplo. Quando saímos de casa, jamais o nosso cachorro ou o nosso gato nos cumprimentará perguntando-se, ao mesmo tempo, se a nossa ausência será breve ou demorada. Apenas os seres humanos agem dessa forma. Por quê? Porque na mente do nosso pet o nosso ato de sair de casa não significa que estaremos longe por um tempo determinado podendo, inclusive, voltar dias depois ou não retornar nunca mais. Para ele o nosso ato de sair na rua significa simplesmente que naquele exato momento não estamos em casa; e nada mais do que isso. Viceversa, ao regressar, a renovada presença reacende na memória do animal lembranças positivas de experiências anteriores, gratificantes e que, provavelmente, irão se repitir de novo. É por isso que cães e gatos nos recebem com bastante afeto e alegria.

Em outras palavras, a memória do animal é como uma caixa lacrada que se abre somente quando um evento oferece um sinal (uma voz, um cheiro, etc.), ou seja, uma chave que permite o acesso às lembranças armazenadas nos neurônios do gato ou do cachorro. A mente de um animal funciona de forma diferente da nossa no sentido que para ele falta totalmente a consciência do tempo, tanto passado come futuro, como comprovado pelo fato que nós somos a única espécie vivente ciente de que um dia iremos morrer. No entanto, os nossos pets não guardam lembranças saudosas e nem se iludem com esperanças (ou se preocupam com perigos) que se realizarão no futuro, tempo que para eles não significa nada. De fato, eles vivem unicamente o presente, que não é um tempo inerte, mas que se ativa todas as vezes que algum fato real e material desperta uma lembrança ou uma espera imediata, bem no exato instante em que esse sinal se manifesta.

Lembramos aos leitores que os mestres budistas ensinam como a paz de espírito pode ser alcançada vivendo o tempo presente sem permitir que a lembrança de eventos passados volte à tona para nos perturbar com a saudade de tempos que já foram melhores; e nem com a ilusão de um futuro cheio de realizações duvidosas. Em síntese, para os budistas, a perfeição é alcançada quando conseguimos nos concentrar sobre o que temos e somos hoje, esquecendo o que foi perdido ou o que ainda não temos. Trata-se de uma simples filosofia de vida que o poeta latim Horácio sintetizou com apenas duas palavras: “Carpe Diem”, corroboradas, no século passado, por um famoso aforismo do filósofo niilista Emil Cioran - grande admiador do poeta Giacomo Leopardi - sobre o tempo: «Não se pode cancelar o tempo se não vivendo plenamente o instante, abandonando-se às suas seduções. Então o presente eterno se realiza».

Nesse sentido, mesmo que de forma totalmente inconsciente e instintiva, os animais vivem suas vidas conformemente aos ensinamentos budistas, e deve ser por isso que eles, quando não estão doentes, gozam de um estado de constante vitalidade, completamente isenta de preocupações metafísicas e de inquietudes em relação ao futuro e ao problema da morte. Este é o segredo da perpétua felicidade dos animais.

Vamos agora enfrentar um assunto que, com certeza, deixará horrorizados não poucos cristãos: os animais têm uma alma?

De acordo com o magistério de João Paulo II, o homem, criado pelas mãos de Deus, compartilha a sua característica de criatura junto com todos os outros seres viventes; por isso o papa, em 1990, declarou que: «Não apenas o homem, mas também os animais possuem o sopro-espírito de Deus». Realmente, lendo o Salmo 103-104 não aparecem diferenças entre seres humanos e animais, fato que pode ser deduzido pelos seguintes versículos: «27 Todos esperam em ti que lhes dês alimento no devido tempo. 28 Tu lhes dás, e eles o recolhem; abres a mão, e eles se fartam de bens. 29 Escondes a tua face, e eles se perturbam; se retiras o seu alento, perecem e voltam a seu pó. 30 Quando envias o teu fôlego, eles são criados, e renovas a face da terra».

Em conclusão, segundo a interpretação de João Paulo II, a existência de todas as criaturas depende da ação do sopro-espírito de Deus que não apenas as cria, mas que também conserva e renova continuamente a face da Terra.

Esse conceito foi reforçado por papa Francisco em 2014 quando, durante uma audiência geral dedicada ao tema da vida e da morte, o pontífice, dirigindo-se a um menino que chorava pela morte de seu cachorrinho disse: «Um dia voltaremo a ver os nossos animais na eternidade de Cristo».

Fica assim comprovado que, na perspectiva cristã, também os animais possuem uma alma imortal e um dia voltaremos a gozar de sua amizade e de seu carinho para sempre.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 07/12/2020
Código do texto: T7129856
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