Chuvas benfazejas
Padre Geovane Saraiva*
Somente o amor verdadeiro e genuíno pode nos oferecer as chuvas benfazejas, mesmo na inesperada e inexplicável hostilidade própria da vida, não nos esquecendo das razões de viver, dos dias que passam e que são cansativos, das humilhações que machucam, das decepções que deprimem. Tal amor é vivido entre claridade e sombra, mas à luz da esperança; ela não decepciona e é mais forte do que os sinais de morte, aqui muito nítida no pensamento de Dom Helder: “Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”.
É sempre bom se pensar na bondade de Deus, através das chuvas regulares que beneficiam as regiões do Brasil. Ficamos agradecidos, na condição de cearenses, pois, em boa quantidade, a água que cai e banha nosso solo parece mesmo ser suficiente, a ponto de afastar aquele fantasma da seca, que no passado era causa de flagelo para conterrâneos e irmãos nordestinos, como tão bem foi ilustrado na tela Os Retirantes, do grande artista e pintor Candido Portinari, em 1944.
Quando o povo experimenta as chuvas, que chegam sobre a terra árida, banhando-a com abundância, desaparece, evidentemente, o fenômeno avassalador e destruidor da miséria, na estação própria – como é o nosso caso –, esperada com ansiedade em cada ano com boas chuvas. Afasta-se, portanto, o iminente perigo da seca, por demais triste e deplorável: a fome e a sede.
Que saibamos sempre mais acreditar na Igreja, que tem os pés no chão e, ao mesmo tempo – de mãos elevadas –, está com os olhos fixos na realidade dos que sofrem: mulheres, indígenas, negros, camponeses e sofredores de toda sorte. Como pessoas de fé, acreditamos na força da palavra de Deus, que nos fortalece na caminhada. Contamos com o exemplo de Samuel, personagem bíblico que passou por lutas árduas, mas que contou com a ajuda e a graça de Deus, que no ponto mais elevado, o do esperançoso triunfo; depois de tudo o que passou, ele exclamou: “Até aqui o Senhor nos ajudou” (cf. 1 Sm 7, 12).
Claro que o povo sabe agradecer ao bom Deus, por ser favorecido pelo tesouro líquido, que é a água, consciente de que ela representa a vida, no dom e na graça da fertilidade e da fecundidade nos campos agrícolas, nos açudes, nos grandes reservatórios, que, cheios e transbordantes, revelam esperança no distanciamento da indigência, da carência, da escassez de água; também o indesejável e o nefasto cedem lugar às maravilhas da vida. Assim seja!
Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).