DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE

O título deste estudo, mais do que uma expressão utilizada na maior parte das cerimônias de casamento, é o desejo expresso de Deus descrito por Paulo em Romanos 7:1-3. Quando me converti no final dos anos 70 a maior parte das denominações evangélicas consideravam o casamento indissolúvel, tanto o desquite como o divórcio regulamentado em 1977 não eram objeto de consideração nas congregações. Infelizmente nas últimas décadas este conceito tem sido substituido por abordagens mais liberais com a finalidade de tornar o evangelho mais acessível a uma grande parcela de casais no mundo que naufragaram em seus relacionamentos conjugais e manifestam o desejo de ser feliz em um novo matrimônio. Como o evangelho tem se tornado cada vez mais centrado no homem, a felicidade do mesmo passou a ter posição de destaque nas interpretações teológicas. Mas Deus quer ou não a nossa felicidade? A resposta é sim, com certeza! O que na verdade está em questão é se as pessoas serão realmente felizes distante do propósito de Deus para suas vidas e por conseqüência distantes do próprio Deus, ao descobrirem que determinado comportamento ou prática é abominável para ele e será neste ponto que o discipulado com Cristo estará em xeque. Devemos estar certos que, cedo ou tarde, seremos confrontados com os nossos interesses e os interesses de Deus e teremos de fazer uma escolha.

“Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposa tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse Jesus: Segue- me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu porém, vai e prega o Reino de Deus. Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus” Lc 9:57-62.

Mais do que simplesmente conhecer e acatar aquilo que está na palavra de Deus, aqueles que amam ao Senhor saberão no momento certo fazer suas opções, saberão sempre colocar Cristo em “primeiro lugar”.

Uma das formas de conhecermos a Cristo é conhecermos sua palavra, seu evangelho, onde Ele se apresenta como Senhor e soberano. A Palavra de Deus, especificamente o novo testamento, é a base única e absoluta de nossa doutrina (Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. Ef 2:20) e, por fim, devemos levar em consideração que a Palavra de Deus explica a própria Palavra de Deus. Tendo isto em mente, procuraremos eliminar qualquer sofisma [Raciocínio capcioso, feito com intenção de enganar -Dicionário Michaelis], nos atendo unicamente ao texto bíblico.

A importância de estarmos bem fundamentados na Palavra é que podemos ser “conduzidos” por argumentos falsos, algo já presente na igreja primitiva, tanto que Paulo alerta aos Colossenses (2:1-4) para se cuidarem das pessoas (irmãos ?) que utilizavam “palavras persuasivas (ACF) ou raciocínios falazes (ARA)”, (phitanologia no grego), que tem melhor tradução por “persuasão” [Ato ou efeito de persuadir, admitir como verdadeiro, aceitar como certo – Dicionário Michaelis]. Sem este cuidado, podemos cair no erro de nos cercarmos de doutrinas agradáveis aos nossos ouvidos e não alicerçada na Palavra de Deus (II Tim 4:3-4).

O nosso ponto de partida serão as situações mais comuns difundidas no meio evangélico que autorizam novo casamento. Entre estas, podemos destacar os seguintes sofismas*:

1) O divórcio é permitido para a parte ofendida

2) O divórcio é permitido se as leis humanas assim o permitirem

3) O divórcio é permitido em caso de infidelidade conjugal (adultério), uma variação do (1)

4) O divórcio é permitido quando o casamento não foi celebrado na igreja evangélica

5) O divórcio é aceito quando a pessoa já estava divorciada ou com novo “casamento” contraído antes de se converter.

Em seus estudos sobre este tema, Jorge Himitian destaca que os textos bíblicos apontam claramente uma Regra Geral e uma Regra de Exceção, infelizmente, como dito acima, ao longo dos anos a regra de exceção foi tornando-se geral. Em Israel algo semelhante aconteceu quando foi formado o Talmud judaico, uma coletânea de decisões dos Sumo Sacerdotes, o qual servia como uma espécie de “jurisprudência” (interpretação) da lei. Muitas vezes Jesus mencionou estas regras nas escrituras, chamando-as de: “vossa tradição”, sendo que elas, via de regra, eram aplicadas de forma diferente e até superior à própria Lei de Deus.

As tradições são boas, na medida que corroboram com a Palavra de Deus, nunca quando a mudam de forma sutil.

(Então vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição... em vão me adoram ensinando doutrinas que são preceitos de homens... Mt 15:1-9).

A prática de criar novas regras, ou mudar as existentes, não parou com os Judeus. Em nossa época presente vemos interpretações tendenciosas das escrituras, textos “pinçados” fora de seu contexto, cristãos débeis levados ao erro por líderes neófitos ou falsos pastores; por aceitarem como verdades absolutas opiniões de homens que não aplicam de verdade à Palavra de Deus (ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica, pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as escrituras todos os dias para ver se as coisas eram de fato assim. At 17:11), não é de estranhar que muitos destes cristãos sejam conduzidos facilmente para qualquer direção (para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Ef 4:14).

Nossa maior preocupação é que este tema não pode ser tratado como uma mera questão de “opinião” teológica, dividindo-se entre aqueles que aceitam e aqueles que não aceitam o divórcio, pois ao entendermos que os adúlteros não entrarão no reino de Deus (ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas... I Co 6:9), pesa sobre nós a responsabilidade de pregar o evangelho e aplicar a palavra de Deus corretamente, sem concessões humanas, envolvimentos emocionais ou legalismo.

Vejamos o que Jesus e os apóstolos falaram sobre o assunto:

Lc 16:18 – “Qualquer que deixa sua mulher e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também”.

Esta é a regra geral. Jesus estava falando com seus discípulos (Lc 16:1) quando colocou esta pequena e simples regra. Jesus não abriu qualquer motivo para permissão do repúdio (divórcio). Não existe “parte inocente” sob o prisma desta passagem.

Rm 7:2-3 – “Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera, se for de outro marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for de outro marido.”.

Paulo é objetivo, não abre exceções, apenas a morte libera o cônjuge vivo para o novo casamento. Ele aplica a doutrina de conformidade com as palavras de Jesus dada aos discípulos.

I Co 7:10-24 – “Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido, se porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.”

É importante definirmos com clareza as palavras utilizadas no texto. Em momento algum Paulo diz para se divorciar (Apostasion, no grego) que seria a liberação para um novo casamento. A concessão dada por Paulo é para apartar-se (korizo no grego), pois deixa claro na seqüência do versículo “QUE NÃO SE CASE”. Da mesma forma no decorrer do texto, Paulo fala da possibilidade do cônjuge incrédulo desejar APARTAR-SE, novamente Korizo e não apostasion , de conformidade com os versículos 10 e 11.

Mc 6:16-19 – “ Herodes, porém, ouvindo isto, disse: Este é João, que mandei degolar, ressuscitou dentre os mortos. Porquanto o mesmo Herodes mandara prender a João e encerrá-lo manietado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto tinha casado com ela. Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão”

Esta passagem deixa clara a compreensão de João Batista sobre a questão do casamento, ele tinha isto tão claro que foi degolado por esta verdade. Os Herodianos eram judeus de nascimento, mas de crença pagã. Eram facilitadores do império romano e, como tal, estavam debaixo de sua lei. Mesmo que o casamento de Filipe e Herodias tivesse sido feito em ritual pagão e posteriormente tivessem se divorciado segundo as leis romanas, João Batista considerou como casamento legítimo e vigente diante de Deus, não questionou por não ter tido uma celebração judaica, pois certamente o que estava em sua mente eram os elementos que concretizam o casamento, estabelecidos por Deus desde o Gênesis. Casamentos pagãos são casamentos diante de Deus, desde que tenham um pacto mútuo, testemunho público e união sexual. Jesus ao referir-se aos tempos de Noé em Mt 24:38, diz: “Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca”, tendo reconhecido como casamento as uniões daquelas nações pecadoras e pagãs que foram afogadas pelas águas do dilúvio. Este tema é muito amplo, mas a simplicidade da palavra de Deus elimina por completo o sofisma de que se o casamento não for realizado na igreja (e evangélica!) ele não tem valor diante de Deus, pelo simples fato de que o casamento foi criado por Deus, anterior a própria igreja e anterior às alianças com Israel.

Mc 10:2-12 – “...E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo. E ele lhes disse: Qualquer que deixar sua mulher e casar com outra, adultera contra ela. E se a mulher deixar o seu marido e casar com outro, adultera. (10-12)”

Junto com a passagem de Mateus, esta passagem de Marcos traz muita luz sobre este tema. Marcos, diferente dos outros escritores, mostra com clareza que este assunto foi tratado em dois momentos sendo a resposta diferente, de acordo com o seu interlocutor. O primeiro interlocutor são os fariseus (vs 2), religiosos da época, que estavam preocupados em colocar Jesus em contradição com Moisés. O segundo interlocutor são os discípulos (vs 10). Se não aceitarmos que a resposta de Cristo sobre este tema, foi diferente de acordo com o local e contexto em razão do interlocutor, teremos que acreditar que a Bíblia possui contradições, além de termos que inferir que Paulo ensinou diferente de Jesus (se considerarmos a passagem de Mateus 19 comparada com a de I Coríntios), pior ainda, que houve falha na narrativa por parte de algum dos escritores evangelistas. Não há contradição nas escrituras, nem tampouco nas palavras de Jesus! (...seja Deus verdadeiro e mentiroso todo homem...Rm 3:4).

A passagem de Marcos esclarece o sofisma da permissão do divórcio, caso as leis humanas assim o permitam. Jesus, ao falar com os discípulos em casa, acrescenta: “e se ela repudiar...”, é o único local que Jesus fala da possibilidade da mulher repudiando, não falou em Mateus 5:31, 19:3-12, nem em Marcos 10:2-9, pois os interlocutores eram os fariseus. Pela lei e tradição judaica apenas aos homens era permitido repudiar sua mulher. Ao incluir a mulher na resposta para os discípulos, Jesus certamente se referia aos costumes e leis dos gentios (Romanas mais especificamente) que estavam entrando sorrateiramente em Israel e poderiam vir a influenciar a igreja. Este foi um acréscimo profético ao texto deixando claro que, mesmo que a lei dos gentios permita tal coisa, Ele não permitia, e entre estes gentios nós estamos incluídos, junto com nossas leis.

É relevante destacar neste ponto, que as leis humanas formam os direitos e deveres dos cidadãos, devemos separar claramente aquilo que a lei humana “manda” fazer daquilo que a lei humana “permite” fazer. Mesmo no caso de leis que determinam algo, esta “ordem” deve ser submetida à suprema autoridade que delegou todas as autoridades sobre a terra, Deus. “Chamando-os ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em o nome de Jesus. Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus...” (At 4:18-20), ou seja, se uma determinação clara de Deus (ou de qualquer autoridade superior) contradiz uma ordem de uma autoridade delegada inferior, como princípio, deve se obedecer sempre a maior autoridade. É o que Watchman Nee chama em seu livro “Autoridade Espiritual” de submissão absoluta com obediência relativa às autoridades. Vivemos em dias maus, onde já se fala em casamentos homossexuais, casamentos com animais e até mesmo com objetos inanimados. Alguns países já estão legalizando a união conjugal entre pessoas do mesmo sexo e, para nosso escândalo, algumas “igrejas evangélicas” já realizam casamentos homossexuais. Aqueles que aceitam o divórcio baseado na permissão da lei humana (que é um direito), estarão presos por analogia a aceitar casamentos homossexuais (falo isto se no Brasil for legalizada a união civil entre pessoas do mesmo sexo), a menos que entenda com clareza o princípio da “obediência relativa” mencionado anteriormente. No caso específico do divórcio, um discípulo ao não querer se divorciar não está cometendo qualquer crime, apenas deixando de exercer um direito legal seu.

Mt 5:31-32 – “Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu porém vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em casos de fornicação (porneia=grego), a expõe a tornar-se adúltera (moicheia=grego); e aquele que casar com a repudiada, comete adultério”

Mt 19:3-12 – “Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então respondeu ele: Não tende lido que o Criador, desde o princípio os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. Replicaram- lhe: Por que mandou, então Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher, entretanto, não foi assim desde o princípio. Eu, porém vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação* (porneia=grego) e casar com outra comete adultério (moicheia=grego) e o que casar com a repudiada comete adultério. Disseram- lhe os discípulos: Se esta é a condição do homem relativamente a sua mulher, não convém casar. Jesus porém lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; a outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita.”

Importante destacar que a primeira resposta dada por Jesus aos fariseus foi: “o que Deus ajuntou não separe o homem”, mas por causa de controvérsias doutrinárias entre os próprios fariseus que estavam divididos em facções com maior e menor rigor neste assunto (qualquer semelhança com os evangélicos na atualidade não é mera coincidência), eles continuaram experimentando a Jesus, agora confrontando ele com Moisés, na expectativa de vê-lo rejeitar a lei, ou seja, enquanto que a questão era apenas o divórcio, a resposta era a de Gênesis, agora a questão era Moisés. É neste ponto que Jesus inclui a dita exceção. Para não errarmos ao ensinar algo tão importante, somos obrigados a recorrer ao texto original, face às diversas interpretações da palavra porneia* que consta na passagem.

Vejamos algumas das possíveis traduções desta palavra de acordo com seu contexto:

(1) Fornicação = relação sexual entre solteiros (1 Cor. 7.2, Dt.22.21, Lv. 19.29, 1 Tes. 4.3-4.)

(2) Fornicação = uniões ilícitas, proibidas pela Lei de Deus (1 Cor. 5.1., Dt 22.30, Lv 18.8 ; Dt. 27.20.)

(3) Fornicação = Todo tipo de pecado sexual, incluído o adultério.(1 Cor. 6.13-18, Nm 25.1).

(4) Fornicação = Prostituição e comércio sexual de prostitutas. A palavra “prostituta” no grego é “porne”, possui a mesma raiz ( Lc. 15.30, 1 Cor. 6.16.)

(5) Fornicação = infidelidade espiritual, idolatria. (Jr. 3.6 ; Ez 23 ; Ap 17.1-2) Vejamos algumas traduções de Mt 19:9 para o português conforme a versão:

(1) “Ora, eu vos digo: quem despede sua mulher, fora o caso de união ilícita, e se casar com outra, comete adultério” Novo Testamento, tradução oficial da CNBB,

Ed Abril de 1997

(2) “Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de adultério, e casar com outra, comete adultério” Tradução Almeida Corrigida

(3) “Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e esposa uma outra, comete adultério” Versão dos Monges de Maredsous – Bélgica

(4) “Eu lhes digo que todo que se divorciar de sua esposa, exceto por imoralidade sexual, e casar com outra, comete adultério” NVI

(5) “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério, e o que casar com a repudiada, também comete adultério” Almeida Corrigida Fiel, Reina Valera e King James.

Se fosse apenas uma questão de preferência, escolheríamos a Bíblia com a tradução que mais nos agradasse, visto que teríamos uma maior ou menor “exceção”. É neste ponto que reside a controvérsia entre os estudiosos da Bíblia. Que Deus nos ilumine e nos dê sabedoria para conhecermos sua vontade, pois independente a opinião dos teólogos, àqueles que temem ao Senhor não desejarão estar incluídos entre os considerados ADÚLTEROS, pois NÃO ENTRARÃO NO REINO DOS CÉUS!

De todas as traduções acima, podemos já descartar a única que não reproduz a tradução correta da palavra porneia do grego, que é a da versão Corrigida de Almeida (2). Como podemos observar, a

conseqüência de uma união sexual entre pessoas casadas é adultério. É uma palavra sem tradução contextual como no caso de [porneia]. Com esta exclusão, eliminamos o sofisma da permissão do divórcio em caso de infidelidade conjugal (adultério). Os discípulos entenderam desta forma, tanto que disseram: “se esta é a condição do homem, não convém casar”, ao que Jesus acrescentou: “Nem todos são aptos para receber este conceito... a outros que a si mesmo se fizeram eunucos por causa do reino dos céus”.

Em Mt 19, Jesus fala em [moicheia] e [porneia], e usa [porneia] para referir-se, sem sombra de dúvida, à exceção de Moisés. Mesmo que consideremos que [porneia] engloba [moicheia], quando elas são aplicadas no mesmo texto sua tradução é diversa, a exemplo do que ocorre em Gálatas, quando Paulo lista as obras da carne, ele cita de forma independente [moicheia], para adultério e [porneia], para fornicação de qualquer tipo [nota: a palavra porneia consta apenas nas versões que utilizam o Texto Receptus como base, como a King James].

Fazer-se eunuco pelo reino dos céus, é abrir mão da união sexual de qualquer tipo (foi esta a recomendação de Paulo dada em I Coríntios 7: ficar só), caso esta união não seja lícita para mim, sempre levando em consideração que a única união sexual lícita é aquela de um casamento lícito!

Iniciamos falando que nossa preocupação primordial é com o evangelho onde Cristo reina e não o homem, Ele é o centro do evangelho, todas as coisas são dele, por meio dele e para ele (Rm 11:36). Fazemos nossas as palavras de Paulo: “Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a Palavra de Deus, antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” II Co 2:17. Amar o pecador não significa em hipótese alguma ser conivente com o pecado ou deixar de aplicar corretamente a palavra de Deus. Jesus muitas vezes entregou palavras que não agradaram seus ouvintes, nem por isto estava faltando com amor com eles (“ E Jesus, fitando-o, o amou e disse: só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me” Mc 10:21), nós da mesma forma devemos amar e aplicar a palavra, mesmo sabendo que esta palavra poderá produzir tristeza em seu ouvinte (“Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” II Co 7:10). Se não estivermos comprometidos com a santidade e simplicidade do evangelho, corremos sério risco de pregar um evangelho falso, que não leva o homem ao arrependimento e por conseqüência não lhe supre amplamente a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Para confirmar o caráter imutável, santo de Deus e seu desejo de santidade para seu povo, poderíamos acrescentar a história relatada em Esdras 9 e 10, quando do retorno do povo de Israel da Babilônia. Muitos israelitas haviam se casado com mulheres daquela terra e constituído família, em clara desobediência ao que Deus havia determinado na sua lei (Dt 7:1-6). Esdras entendeu e ficou atônito (9:3), pois percebia que a solução deste problema seria dolorosa. Primeiro passo: ajuntar-se com aqueles que temem ao Senhor (9:4), segundo passo: reconhecer o pecado e envergonhar-se dele (9:6), terceiro passo: reconhecer que Deus é justo (9:13); quarto passo: reconhecer as conseqüências do ato (9:14-15), quinto passo: levar os pecadores ao arrependimento (10:1-2), sexto passo: executar a determinação de Deus (10:3). Importante destacar que, apesar da clara percepção pela maioria de que haviam cometido pecado e concordarem em despedir as mulheres e os filhos contraídos nesta união mesmo entre muito choro e tristeza, alguns príncipes não acataram a decisão (10:15). Isto para nós é um alerta de que sempre existirão pessoas (até mesmo líderes) na igreja que irão se opor às determinações de Deus, por mais claras que elas sejam, algumas vezes motivadas por pressões emocionais, que era o caso aqui neste episódio.

Resta-nos agora definir com precisão o sentido da palavra [porneia] no texto. Tendo em vista as diversas possibilidades da tradução contextual desta palavra, a forma mais correta é verificar o texto do Velho Testamento onde Moisés concede a dita autorização:

Em Dt 22:13-30; 24:1. A única exceção dada por Moisés era quando o marido encontrasse coisa indecente (Strong Hebraico 6172 – ervah, Strong Grego 809 – askemon) na sua esposa na noite de núpcias, ou seja, não encontrou virgindade. O versículo 19 diz que, não sendo esta a situação, “não poderá mandá-la embora durante a sua vida”. O texto de 24:1 fala sobre “coisa indecente”, para que não reste qualquer dúvida de que esta “coisa indecente” não tratava-se de adultério, é bom lembrar que havia uma determinação diferente para situações de adultério (Lv 20:10), que era a morte por apedrejamento e não um “prêmio” de divórcio lhe autorizando um novo casamento. Considerando a clareza do texto de 22:13-30, conclui-se que esta coisa indecente era algum pecado da mulher, de ordem sexual, descoberto possivelmente na primeira relação sexual do casal; por este motivo Jesus usou a palavra porneia referindo-se a prática de relação sexual consentida entre solteiros, no português, “fornicação”.

Não é a toa que Jesus chama os fariseus de duros de coração. Duro de coração é alguém que não perdoa. É importante lembrar que o perdão para aqueles que pertencem ao Senhor não é opcional, é um mandamento! (...perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, perdoai vós. Cl 3:13). O evangelho deve alcançar o coração do homem e mudá-lo, sem isto não há esperança de regeneração (Rm 2:5; At 2:37; Ez 36:26-27).

Para que não haja confusão entre casamento com “uniões ilícitas”, em Lv 18 Moisés relaciona as diversas uniões sexuais ilícitas, chamadas por Deus de “maldade” e “abominação”, entre elas: filha com pai, filho com mãe, enteado com a mulher do pai, irmão com irmã, avô com neta, avó com neto, sobrinho com tia, sogro com nora, cunhada. Acrescenta na lista as uniões sexuais abomináveis: homem com homem, homem/mulher com animal, etc). Concluímos, pelo próprio contexto das escrituras, de que não é a este tipo de sexo ilícito que a palavra porneia se refere em Mateus 19, visto que estas uniões eram pecados, não eram reconhecidas diante de Deus, não se tratava, portanto, de casamento. Em uma linguagem mais moderna de nosso direito, seria o mesmo que dizer que era um casamento “nulo”, ou “matrimônio falso”, ou seja, desfazer um casamento falso não é um divórcio propriamente dito, divórcio é desfazer um casamento legítimo diante de Deus.

Resumindo, a dita “exceção” de Mateus existe mas não nos afeta diretamente, visto que apenas está ratificando a lei, para aqueles que estão debaixo da lei e que apesar de santa, nunca aperfeiçoou coisa alguma (Hb 7:19, Rm 7:12).

Jesus disse em Mt 5:17 “Não penseis que eu vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”. As demandas de Cristo sempre foram superiores às da lei, enquanto a lei dizia para não adulterar, Jesus diz que aquele que olhar uma mulher com intenção impura no coração, já adulterou!

Moisés disse que o divórcio (repúdio) poderia ser dado em caso de fornicação (relação sexual consentida entre solteiros), apenas em Mateus Jesus ratifica a única autorização dada por Moisés, lembrando que seus interlocutores eram os fariseus. Em todas as outras vezes em que Jesus está sozinho com seus discípulos, ele ensina conforme era no princípio, como Deus fez e determinou na criação, bem como todo ensino apostólico corrobora com esta posição.

A questão da virgindade feminina era relevante para uma sociedade patriarcal e machista, preocupada com a continuidade de sua linhagem. Em Cristo todos somos iguais perante Deus; homem, mulher, escravo, livre. Paulo ao abordar este assunto em I Co 7:25-26 fala “com respeito às pessoas virgens” (nota: esta palavra foi traduzida na maior parte das traduções como “virgens”, induzindo o leitor a pensar que ele está tratando apenas das mulheres. A palavra aqui utilizada no grego é a mesma palavra utilizada em Ap 14:4 – parthenos - traduzida por “casto” mais corretamente, e que se refere a ambos os sexos), deixando claro que o desejo de Deus era a castidade, feminina e masculina, tanto que no versículo 25 de I Co 7 ele diz que tem recebido a misericórdia do Senhor de ser fiel. Fiel em que? Exatamente naquilo no qual está dando seu parecer, ser casto.

Apesar de tudo isto, ainda alguns poderiam entender que a questão da falta de virgindade na mulher seria motivo para o divórcio (afinal de contas, é bíblico). Ivan Baker, nosso amado irmão da Argentina, certa vez foi questionado por um líder se ele iria para o inferno caso viesse a se divorciar de sua esposa e casar com outra por não ter achado ela virgem em sua noite de núpcias, baseado na exceção de Mateus. Discernindo o coração deste irmão, Baker respondeu que por este motivo não, mas que poderia ir para o inferno por ter um coração duro. Afinal de contas, no reino dos céus não existirá pessoa de coração duro! Se Deus perdoou minha esposa por ter cometido um pecado antes de nosso casamento e antes de conhecer o Senhor, quem sou eu para não perdoar?

I Co 7:20 - “Cada um permaneça na vocação em que foi chamado”

Apesar de não conter absolutamente qualquer ensino nesta passagem quanto a divórcio, ela está aqui inserida para se anular o sofisma da permissão para novo matrimônio para as pessoas que se convertem já no segundo matrimônio, o exemplo típico de Israel relatado em Esdras, já mencionado acima, visto que depois de setenta anos de cativeiro, a maior parte do povo nem mesmo conhecia as demandas de Deus na lei dada por Moisés. Alguns chegam a ponto de fazer comparações do tipo: “depois de quebrar o ovo e fazer omelete, não tem mais como virar ovo!”, no intuito de reforçar a ideia de uma impossibilidade.

Uma omelete não pode virar ovo novamente, mas graças a Deus que não somos ovo e Deus determinou uma forma para resolver todo e qualquer problema de pecado, o arrependimento!

Muitos defendem que se o casal se converteu depois de contraído o segundo matrimônio, devem permanecer desta forma. Afinal de contas, dizem, “as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas”. Para estes que defendem esta opinião, pergunto: e se pregarmos para um casal homossexual devidamente casado pela lei humana, eles deverão permanecer da forma como foram chamados? E os assassinos, poderão continuar matando? E os idólatras, permanecerão em idolatria? O grande sofisma neste caso é considerar “novo” aqueles que não morreram com Cristo, os que não se arrependeram de seus pecados, os que não andam em novidade de vida. Arrependimento exige frutos e muitas vezes restituição, que é a reparação à pessoa que ofendemos quando estávamos na ignorância, foi o que fez Zaqueu e encontrou salvação, foi a determinação que Jesus deu à Maria Madalena: “vá e não peques mais”.

Não é a toa que Cristo diz que erramos por desconhecer as escrituras e o poder de Deus. Uma das formas de errarmos é aplicarmos um texto fora de seu contexto. O versículo logo em seguida diz: “Foste chamado sendo escravo? Não te preocupes com isto...(22), foi chamado sendo livre, é escravo de Cristo(23)”. E mais: “Considero. Por causa da angustiosa situação, ser bom para o homem permanecer assim como está. Estás casado? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures casamento (26,27).” Como Paulo diz para aqueles que estão casados não procurar se separar alguns entendem que se aplica ao caso do “segundo matrimônio”. De forma alguma! Paulo aqui se refere a um casamento legítimo, o tal “segundo matrimônio” é na verdade adultério. Paulo não deixa qualquer dúvida quando escreve para os Coríntios, pois diz: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” I Co 6:9-11. Ora, porque Paulo diz “foram”? Por que se arrependeram, não permaneceram nos pecados que cometiam antes!

Entender que esta passagem representa aceitar as pessoas incondicionalmente com seus pecados, na forma independente de Deus como elas viviam anteriormente, é acreditar que todos são de antemão filhos de Deus, independente de arrependimento (“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar; do espírito que agora atua nos filhos da desobediência, entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” Ef 2:1-3).

A passagem de Coríntios não fala sobre permanecer no pecado, mas permanecer na “vocação”, o contexto fala basicamente da condição social de quem é chamado (escravo, livre, casado, solteiro, etc), nada que afete a santidade de Deus. Tudo que havia em nossa vida anterior ao nosso encontro com Cristo, fruto da vida independente que vivíamos, deve ser deixado para trás, deve ser abandonado, deve ser mudado, deve dar fruto digno de arrependimento, esta era a compreensão de

Paulo, tanto que reitera: “porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” I Tes 4:7.

Ninguém pode apelar para o “tempo da ignorância” na tentativa de manter uma situação irregular diante de Deus. Tempo de ignorância não significa “tolerância”, pelo contrário, a palavra diz: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens, que todos, em toda parte, se arrependam, porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” At:17:30-31.

Vejamos o que a Palavra de Deus diz sobre no que devemos permanecer:

Jo 8:31 – “Disse pois Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes nas minhas palavras, sois verdadeiramente meus discípulos”

Jo 12:46 – “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”

Jo 15:6 – “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e queimam.”

I Jo 2:6 – “Aquele que diz que permanece nele, esse deve andar assim como ele andou”

I Jo 2:24 – “Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que ouvistes desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai”

I Jo 3:6 – “ Todo aquele que permanece nele, não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”

I Jo 3:24 – “ E aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele. E nisto conhecemos que Ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu.”

Ao estudarmos este tema devemos considerar a importância que Deus dá às alianças. Em Malaquias 2:14-16 diz: “...Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança... Portanto, cuidai de vós mesmos e ninguém seja infiel para com a mulher de sua mocidade. Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio...”. Já falamos anteriormente que o casamento foi estabelecido pelo próprio Deus no Gênesis, é anterior a qualquer lei, sendo o próprio Deus testemunha da aliança que fizemos.

Já ouvi pastores afirmando que um casamento desfeito é uma aliança quebrada, não tem mais valor, poderia então fazer uma nova. Vamos recordar uma história. Quando Deus introduziu Israel em Canaã, ordenou que exterminasse o povo da terra. Com dolo, os Gibeonitas enganaram a Josué, se passando por moradores de terras distantes e propuseram aliança com eles. Josué aceitou (Js 9:3-27). Saul ao assumir como rei, perseguiu os Gibeonitas e tentou exterminá-los, certo de que agia no zelo do Senhor. Houve fome em Israel e Deus disse a Davi “que há culpa de sangue sobre Saul e sobre sua casa, porque matou os Gibeonitas” (II Sm 21:1-9). Apesar da ordem de Deus ter sido para exterminar o povo da terra, o Senhor honrou a aliança equivocada feita por Josué, de preservar os Gibeonitas. O resultado desta história é que sete filhos de Saul foram entregues aos Gibeonitas para serem enforcados. Se Deus reconhece e honra alianças como esta, não considera como “quebrada” mesmo após muitos anos, quanto mais àquelas feitas por nós com a mulher de nossa mocidade? Que base alguém pode falar em “aliança quebrada” sem precedente nas escrituras para isto? A maior parte dos casamentos naufragam por deficiências de caráter dos cônjuges, que vêem no casamento apenas uma forma de satisfazer seus desejos egoístas.

Vejamos um trecho do livro “Casamento, contrato ou aliança” de Craig Hill: “Durante os últimos anos, de um modo geral e, nos últimos 50 anos mais especificamente, tem havido uma mudança significativa dos valores fundamentais na sociedade ocidental. Tal transformação não somente impactou a sociedade, mas também infiltrou-se na igreja. A principal mudança de valor que impactou o nosso entendimento de casamento é o da aliança e contrato.

O conceito bíblico de casamento é o da aliança de sangue. Este é um conceito oriental que tem sido conhecido e praticado por séculos no Oriente, mas é pouco conhecido ou mal entendido no Ocidente.

Uma aliança de sangue é o acordo mais íntimo, mais sagrado, mais duradouro e mais comprometedor conhecido pelos homens.

Quando os homens fazem esse tipo de aliança, estabelecem um compromisso mais valioso do que até mesmo suas próprias vidas, assumindo um compromisso básico nos seguintes termos: "tudo o que tenho e sou é seu. Os seus inimigos são meus inimigos, e estou pronto a entregar até a minha própria vida por você, se for necessário".

Esses tipos de entendimentos ainda existem hoje nas culturas do Oriente e Oriente Médio. A aliança é um compromisso irrevogável, indissolúvel, quebrável somente com a morte. A quebra de uma aliança no Oriente é virtualmente sempre punida com a morte.

O conceito de aliança, portanto, é um compromisso unilateral, irrevogável, indissolúvel, válido pelo menos até a morte. A aliança não depende do desempenho de nenhuma das partes. É um compromisso unilateral feito com a outra parte, na presença de Deus, independente do desempenho do parceiro.

O conceito de contrato, por outro lado, é um conceito inteiramente diferente. Um contrato é um acordo bilateral entre duas pessoas, totalmente dependente do desempenho do acordo. Sob o contrato, se uma parte falha, a outra não tem nenhuma obrigação de cumprir seu compromisso e não está mais ligado pelos termos do contrato. Este não é o caso de uma aliança em que se está totalmente independente do desempenho e que é irrevogável. Uma aliança simplesmente não era quebrada, e, se fosse, a penalidade era a morte.

Até recentemente, o conceito de casamento, até mesmo na sociedade de modo geral, era de aliança, e não de contrato.

Esta troca de valor de aliança pelo valor de contrato, é o maior responsável pelo abuso e desvio que estão ocorrendo nas famílias. Quando, no casamento, damos o devido valor à aliança, dizemos ao parceiro: "Estou irrevogavelmente comprometido com você até que a morte nos separe. Meu compromisso com você não tem nada a ver com o seu desempenho ou qualquer escolha que você fizer. É um compromisso unilateral diante de Deus até a morte. Este é o compromisso que Jesus fez conosco. "De maneira alguma te deixarei nunca mais te abandonarei". Hebreus 13.5.

Numa situação de contrato, por outro lado, dizemos, "Vou conservar o lado da minha barganha se você conservar o seu. Se você me fizer infeliz ou não fizer o que você prometeu, te deixarei e acharei alguém que me faça feliz e mantenha suas promessas. E se você me deixar, então eu definitivamente te deixarei e encontrarei uma outra pessoa". Você não está contente pelo fato do seu relacionamento com Jesus ser um compromisso de aliança da parte d´Ele, ao invés de um compromisso de contrato?

As pessoas naturalmente sabem que o que o apóstolo Paulo nos dizem em Efésios 5.22-23 é verdade. Nessa passagem, Paulo declara que o casamento é o retrato principal do relacionamento entre Cristo e a igreja. Isso significa que se eu quiser saber como Jesus se relaciona comigo, devo olhar no relacionamento de um homem com sua esposa. Se, ao fazê-lo o valor fundamentar que vejo representado é o valor de aliança, então estou recebendo um retrato correto.

Quando uma criança olha para seus pais e vê o valor de contrato apresentado em seus casamentos, isso tende a liberar um tremendo medo de abandono no coração dela. Por quê? Se a mensagem apresentada entre os pais é de contrato - "Se você me faz feliz e não atinge o nível desejado, vou te deixar e achar outra pessoa" - o coração da criança pensa: "Imagino o que acontecerá comigo se não o (a) fizer feliz e não atingir o nível desejado?". Esse sentimento é naturalmente transferido para Deus. Até mesmo como Paulo disse, o casamento é um retrato do relacionamento com Cristo.

Isso cria um tremendo temor de abandono até mesmo no relacionamento com Deus e resulta numa ênfase exagerada no desempenho e perfeccionismo. "É melhor fazer tudo direitinho e nunca pecar, ou Jesus me deixará e encontrará uma outra pessoa que faz as coisas corretamente." Perfeccionismo e tentativa de desempenho são, então, as raízes da vergonha e de outros aspectos negativos que resultam na disfunção familiar e no abuso.

Quando os pais crentes trocam o valor de aliança pelo contrato ao abraçar a prática do divórcio e/ou novo casamento como uma opção viável para os crentes, abrem a porta das vidas de seus filhos para o inimigo. Através desse processo uma segunda geração está fadada ao desvio familiar na idade adulta, o que freqüentemente leva ao divórcio, encaminhando daí a terceira geração na mesma direção. A igreja na década de 90 está enredada justamente neste círculo. Vamos agora nos voltar para as raízes históricas dessa mudança de valores.

Quando abrimos mão do casamento, optando assim pela separação e/ou divórcio é como se disséssemos claramente que não cremos no milagre de Deus sobre nossa vida ou na vida"

É necessário restaurar as bases sólidas do casamento: o amor incondicional, disposto a negar-se pelo outro, a buscar os interesses do outro; a manifestação na terra da realidade celestial da união de Cristo com a igreja. Ou fazemos isto, ou ficamos sós, esta é a vontade de Deus. Este conceito não é novo, pelo contrário, praticamente todos os Pais da Igreja nos primeiros séculos eram unânimes quanto a indissolubilidade do casamento Entre o 1º e 2º séculos, Hermas escreveu diversas cartas com mandamentos e visões, mesmo não tratando-se de um livro canônico ele com certeza demonstra o entendimento que os irmãos que se tornaram as colunas da igreja, uma ou duas gerações após os apóstolos de Cristo, tinham sobre a questão da santidade, especificamente em nossa abordagem, no casamento. Em seu quarto mandamento, capítulo 1, ele fala: “- Meu senhor, se alguém que confia no Senhor tiver uma esposa e a apanhar em adultério, este homem peca se continuar convivendo com ela? Ele me disse: - Enquanto ele não souber do pecado dela, o marido não comete nenhuma transgressão nesta convivência. Mas se o marido souber que sua esposa se desencaminhou, e se esta mulher não se arrepender mas persistir em sua fornicação, e mesmo assim o marido continuar convivendo com ela, ele também é culpado deste crime e compartilha o adultério. E eu lhe disse: - Que deve num caso desse fazer o marido, se sua mulher continuar em sua prática perversa? E ele disse: - O marido deve abandoná-la e ficar só. Mas se ele abandonar a mulher e casar com outra, ele também comete adultério. E eu lhe disse: - E se a mulher abandonada viesse a se arrepender e desejasse voltar para o marido, ela não deve ser acolhida por ele? E ele me disse: - Seguramente. Se o marido não a aceitar de volta ele peca e comete um grande pecado, pois ele deve receber a pecadora de volta arrependida”.

infelizmente a Reforma teve “efeitos colaterais” negativos, o principal foi a rejeição ao dogma da indissolubilidade do casamento. Lutero defendia diversas situações de permissividade para o divórcio, foi muito além daquilo defendido pela mais liberal escola rabínica (Hilel), chegou a apoiar Henrique VIII não apenas para se divorciar, mas para tomar uma segunda esposa [vide Sermão de Wittemberg]. Esta não é uma questão de ficar do lado católico ou reformista, mas do lado das palavras de Cristo, até porque nem todos os reformistas apoiavam as idéias mais liberais de Lutero quanto ao casamento. Se seguirmos as regras mais básicas de hermenêutica, que indica que os textos obscuros devem ser interpretados pelos textos claros e não o contrário, concluiremos que não existe qualquer situação que motive o divórcio. Se os teólogos da atualidade não estão em acordo com respeito a esta questão, principalmente por divergências relacionadas ao texto original, devemos considerar a prática e entendimento daqueles que não apenas conheciam o grego antigo, mas viviam na época e era a sua língua materna.

Precisamos de sabedoria e coração aberto para ouvir e acatar a Palavra de Deus com simplicidade e nos afastar dos maus conselheiros, pois trazem palavras doces aos nossos ouvidos, mas que não nos conduzem à vida eterna (II Tim 4:1-4).

“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações” I Tim 1:5-7).

CARLOS A S SILVA
Enviado por CARLOS A S SILVA em 12/11/2018
Código do texto: T6501084
Classificação de conteúdo: seguro